8.7.05

A Guerra dos Mundos, por André Bandeira


Blair disse que não vinha para o Partido Trabalhista para perder eleições. E provou-o. " He kept spinning at such a pace " que começou a ter taquicárdias. O seu presumido Mefistófeles foi para Bruxelas por assinar passaportes mas Blair ficou, com o seu ar um pouco de personagem de Lewis Carroll, a ganhar tudo aos pontos e às charadas. "He has spun" sobre as armas no Iraque, não pelo facto em si ( altamente plausível) mas pelo modo como criou uma verdade ‘transparente” e ‘accountable” para o público. Ah, Virgem Santa, que a decadente Inglaterra mostra génio, sobretudo à beira do precipício! Ah, que a decadência é luxuosa! Meu Deus, não há nada mais pobre que alguém que é apenas fiel. A minha Honra pode chamar-se Fidelidade ( para quem era orquestrado numa nuvem de fantasmas e demónios, na Alemanha dos anos trinta) mas a minha Fidelidade chamar-se Honra é uma coisa muito pobre para a Honra, por exemplo a honra de amar a Deus sobre todas as coisas.

Pois a raposa Blair, não escapa agora dos cavaleiros de casaca vermelha, à esquina de Downing Street. Depois de tantas vitórias, alguma coisa tinha de calhar mal. Até fez crer que Paris, a rival, tinha alguma vez tido possibilidades de ficar com os Olímpicos.

Todavia, olhem como o seu discurso foi fraco: primeiro, disse ‘ não nos intimidam!”, depois disse “ não mudam o nosso estilo de vida!” e rematou com “não nos dividem!”. Apesar disso, como um lance de sandbox não basta ao pugilista nervoso e desiquilibrado, porque tem de dar um quarto murro no ar, lá disse, para resumir: ” não nos aterrorizam!”. Pois não! Já dizer ‘ Eu não tenho medo!”, tem de ser provado por actos mas, depois, lembrar que “eu não tenho Terror!” realça apenas que, entretanto, já não se sente medo…passou a ser terror!

E o mesmo vale para a liturgia de cada Governante a cumprir o rito de condenar os ataques e de condenar o Terrorismo. Por cada bater com a mão no peito mais o Terrorismo se banaliza. Começa já a soar como se cada um dissesse: eu não fui ( eu nada sei ou eu não fui) atingido! Quem teve espírito, nesta conjuntura, foi o excluído turco da Europa, Erdogan, que disse que nada vale se continuaramos a chamar a um, o “meu” terrorista e a outro, o “teu” terrorista. É que infelizmente é assim: violência e Terror parecem ser instrumentos que saiem de muitas mais gavetas do que julgamos.

Que significa isto? Que são precisos actos e que há que passar a assassinar “preemptivamente” uns fulanos como aquele do Hamas que disse que a Inglaterra não se devia admirar com o sucedido, aliás como o xeique egípcio, provavelmente raptado em Itália pela CIA, que dissera ( a um jornal português) estar algo para acontecer, em Inglaterra? Não, não é isto!

Quem vai à Guerra, dá e leva e, por isso, nem sempre o tribunal é chamado para resolver certos assuntos. Mas, globalmente, o que é preciso é o que qualquer israelita educado em anti-terrorismo, sabe fazer de olhos fechados: nunca correr para o lugar onde ocorreu a explosão como mais uma vez nos incita Blair . Assim o fizeram os inocentes, automaticamente, na Baixa londrina. Mal houve um impedimento em King’s Cross e tal como um rato de laboratório, foram para um autocarro, onde um suicida nervoso, os esperava como o cão sabido espera a raposa.

Pois é. A gente precisa de espontaneidade, precisa de acorrer, chorar e socorrer o próximo. Os senhores do Big Brother não digitalizarão o meu coração que cultivo além do meu bem-estar! Ala que se faz tarde eu quero é ir tratar da minha vidinha, deixa-me chegar cedo, não vá o patrão atrasar-me a promoção!

É tempo de ver que, num mundo tenso como este, a espontaneidade não é como a do Tom Cruise nas "reprises". A espontaneidade existe também na meditação, na obscuridade, na atitute de quem Quem diz: “Vinde a mim que sou pacífico e humilde de coração”.

Que se deixe o ‘clintoniano” Blair de mantras e pim-pam-pum! É claro que King’s Cross fica perto de Samarrah e Fallujah! A violência e o Terror, há-os de muitas formas. Para africanos que sobreviveram ao Holocausto da escravatura não há milhões de ajuda G8 que saciem a sede de desforra. É verdade que a raiva faz sobreviver e isto de extrair o espinho profundamente entranhado na carne de alguns, exige muita arte e muito amor. Não basta atirar níqueis ao pobre. Se tiverem mais alguma coisa que curiosidade pensem porque é que os Massai, conscientes do mundo moderno para onde já mandam alguns dos filhos, mantêm aquelas lanças bem afiadas. Os turista perguntam-lhes e eles não respondem a rir, como se estivessem num "theme park".

Portanto que Blair não nos incite a correr para o lado da explosão porque há muito que no Ghetto de Varsóvia, os resistentes de Mordechai Anielewicz ensinaram como criar agitação para atrair os SS a uma armadilha bem pior. Eles não tinham nada a perder. Ao fim da operação, os soldados alemães recusaram-se a entrar, alegando pela única vez, da sua parte, na História da Segunda Guerra Mundial, medo dos fantasmas hebreus. Sim, a luta do Ghetto tinha sido tão genialmente concebida que, mesmo depois de acabar, ainda pairavam atiradores nas mentes dos SS extremados e convencidos que era "canja" limpar os sub-humanos.

Sair do Iraque? Não. Sair da coligação e fazer uma nova, porque reconstruir o Iraque é muito, muito mais duro e vai custar muitas mais vidas que a peneirenta parada do maior Exército do Mundo fez por cima dum ditador fora de prazo.

E se vai aí morrer muita gente, que se mude a razão porque vai morrer, como aquela do pobre Nick Berg ou do pobre diplomata egípcio: que não seja para servir uma “Grand Strategy” de quem se arma que não há que compreender o Mundo mas sim transformá-lo (Kagan-Kaplan-Perle).

Que, depois desta asneira monumental do Iraque, se reconstrua um Iraque digno e árabe como alternativa a um Irão, governado por um MRPP desfazado, equipado com bombas atómicas. Sim, um Iraque árabe, feito por árabes e ao modo deles ( não à nossa moda, que - nunca é demais dizê-lo - aquela é a terra deles).

De outro modo, o modelo da potência secundária emergente ( resultante da luta entre EUA e URSS) de Wallerstein, não será a Europa, mas o Bloco do Terceiro Mundo. E isso será muito pior que pedir desculpa ou invocae a lei das consequências imprevistas...

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