Consegui ler de uma assentada o livro "Franco - un balance histórico" de Pío Moa, que não e nenhum pássaro da N. Zelândia mas um jornalista espanhol. O assunto é perigoso, do ponto de vista de um portuga, com um vizinho tão grande e tão parecido de quem pouco o diferencia senão esse anel de noivado com a Liberdade que se chama Nação e que não se tira nem frente ao assaltante que nos diz que corta o dedo. Desta vez é um livro de Direita e de Direita democrática. Pouco conta que Moa tenha sido do PCE, em 75 e do PCE(E) GRAPO, depois. Não o esconde, porque-- penso -- nos cega com um foco de luz em cima. Moa distribuía,como dirigente destas formações, por capricho, os famosos panfletos que inundaram as ruas de Madrid, com o poema de mau-gosto, de Neruda em que este amaldiçoava Franco agonizante. O livro defende a tese que a democracia de Espanha, hoje em dia, se deve a Franco. Joga com números, nomeadamente de mortos, mas a correr, porque o seu livro é um Editorial. E é perigoso agora que os contadores de corpos, nos EUA estão a querer contar os de Franco ( é que a gente de Rifkin, jurou desenterrar tudo, até os assassinos de Tutankamon e a ideia não me horroriza). Para ele, Franco tinha ganho num instante, se não fosse aURSS a roubar o ouro de Madrid e a pôr no terreno bom material de guerra e comissários de élite. Mas também porque Franco sabia que pondo os seus legionários a combaterem nas ruas de Madrid, iria antecipar a Guerra do sec.XXI, a que nunca acaba,porque a gente das pedras e das torres é tão digna como a dos vales e das montanhas. Pontos interessantes: Franco consentia a monarquia mas, ao contrário do seu irmão Ramón, seguia a Lei e só se meteu contra a República, separando cuidadosamente as suas convicções pessoais do seu comando militar, quando a República chegou ao insuportável. Tem todos os pontos dos textos oficiais do regime franquista, com conclusões, remates e recomendações, de tal modo que o autor, ex-Grapo, parece que se esqueceu das alienações próprias das Ditaduras. Cita até a inteligentíssima resposta de Franco, a Vernon Walters, de que o seu monumento maior seria a "classe média espanhola" quando este enviado de Nixon,trocado em miúdos, lhe foi perguntar quando morria. Cita também a resposta a D. Juan de Borbón em que Franco lhe diz muito explicitamente que a revolta militar ( nacional e não nacionalista porque umCatólico segue sobretudo a Deus e evita o endeusamento pagão da "Nação") não foi monárquica nem tinha a intenção de restaurar a monarquia. Franco, aqui, separa o seu cuidado político,de novo,das convicções pessoais, apesar de querer, oportunamente, sacudir as lições do Rei.
Parece-me que o livro, vindo dum antigo anti-franquista, arqui-radical, a quem irritam sumamente as divisões da Espanha, venham elas da Direita regional ou da ultra-esquerda regionalizada, cai nos mesmos pecados da democracia radical, apesar de todas as suas profissões de fé anti-comunista. Para mais, diz que os actuais anti-franquistas, ou fizeram a carreira graças a Franco, ou contestaram-no de boquilha, nos cafés. Ele, Moa, é que sabe, que foi GRAPO.
Numa altura em que querem retirar as estátuas e as lápides de Franco, além de outras medidas legislativas que geraram enorme celeuma entre a Sensatez, os argumentos de Moa, que já têm um ano nas bancas, andam à volta do seguinte ponto: se fossem os oposicionistas a fazerem a transição para a Democracia, e não Franco, tinha acabado tudo noutro banho de sangue.
E Moa tem razão. Porque os oposicionistas eram pouco credíveis e os exilados tinham sido tão maus que até tinham vergonha de aparecerem à luz do dia. Parece que sim, que, em 1946, quando os maquis espanhóis, que eram parte substancial da Resistência francesa, se infiltraram em Espanha, a População os rechaçou e até denunciou.
Mas não pelo que Moa pensa. Um portuga sabe bem o que sopra de Espanha, em certas alturas, seja vermelho ou azul o pó que levanta. Por isso, o portuga não quer ser espanhol.
É que Franco foi bem mais sensato que outros ditadores do mesmo estilo, na época. Mas foi bem sanguinário também,como o não foram, nem Mussolini, à sua esquerda, nem Salazar, á sua direita. Ou foi-o suficientemente para dizermos que, se no testamento Franco se reclama verazmente católico, há sérias dúvidas sobre a sua Cristandade.
A razão porque a transição correu bem foi porque os espanhóis sabem bem o Monstro que é uma Guerra sobretudo civil. E Franco limitou-se a prolongar a sua ditadura militar indefinidamente, dando lugar a uma Monarquia que retomou a sequência da história espanhola, depois de uma República miserável.
Mas isso não significa que se legitime um Ditador que excedeu largamente -- apesar da sua prudência e inteligência superiores -- o seu mandato de militar em estado de excepção. A legitimidade de um ditador é, na origem, ilegítima e só se legitima com o tempo mas aí não sabemos como teriam corrido as coisas porque ele não deixou que elas acontecessem. E este Moa mete-me pena com o seu desencantamento. O mal dos radicais é que começam no Poder e acabam no Poder. Por isso, o Poder lhes parece sempre legítimo.
Por fim, fica-me uma grande interrogação sobre quem era Franco. Sobre a sua prudência e sobre a sua incapacidade de se legitimar. Que aprendeu ele com a gente do deserto? Pergunta bem actual, nesta guerra absurda dos cem anos em que nos querem meter: que foi que o fez calar, para sempre, o mesmo que fez os templários mudarem de religião? Não, não foi o saber secreto gnóstico que sobreviveu no Islão. Foi simplesmente o simples facto de que não se viaja impunemente. E isso não é mérito de um homem. É mérito da Humanidade.
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