15.9.09

XXVIII- (Re)Leituras - Doctor Goebbels, His Life and Death, de Roger Manville e Heinrich Fraenkel, por André Bandeira

Este livro dos anos sessenta, escrito por esforçados biógrafos dos dirigentes da Alemanha nazi, releio-o mentalmente ao escutar a rádio, numa «estação de serviço» da Internet. A rádio faz suceder os nomes do PND, do PNR e do PPM, em música ambiente, dizendo que nenhum destes partidos forneceu qualquer programa para o respectivo tempo de antena. O que o livro diz, neste tempo de propaganda eleitoral, é que o Ministro da propaganda do Reich era um homem fascinante e sedutor, dotado de uma inteligência fora do vulgar. O grande salto profissional que o jovem propagandista do NSDAP deu, foi o de ser o campeão dos cartazes de rua, para campeão da rádio. Goebbels, grande orador, desenvolveu mesmo uma técnica, direi quase de cantor, de falar para grandes massas reunidas e, mesmo assim, falar bem para o microfone. E, pelo microfone, quase toda a população alemã o ouvia. A outra coisa desta biografia é a de que Goebbels não era um monstro nato. Goebbels poderia ter sido um artista, um produtor cinematográfico,um escritor, cultivando até quase ao fim da guerra a fantasia de que poderia emigrar para a América e desenvolver lá, num mercado que o reconheceria, os seus talentos. Porquê? Porque não contava com Nuremberga, porque o que sabia das atrocidades nazis, estava convencido que era igualado pelas atrocidades aliadas e porque a população alemã demonstrou um grau de apoio ao regime, muito elevado, até ao fim. Contudo, Goebbels e muito menos o maníaco Hitler, que organizaram mum espectáculo tão bem encenado, não souberam criar uma resistência alemã ao invasor, que, aliás, tinha raízes profundas na resistência a Napoleão. O regime nazi tinha uma natureza deslumbrada e infantil, primitiva e um complexo de inferioridade, nomeadamente em relação à «dream-factory» de Hollywood.Por outro lado,quanto a campeões na eficácia dos massacres, os Soviéticos ditaram a agenda da época, antes e depois do nazismo. E, agora, um elemento humano: Goebbels foi infeliz ao Amor, não porque lhe faltassem amores mas porque, sendo perfeitamente normal nesse capítulo (ao contrário de outros dirigentes nazis), não soube nem renunciar à mulher, a qual no fundo amava Hitler, nem renunciar a Hitler contra o qual não teve a coragem de dizer que a inspiração da arte é superior ao Poder. Assim, renunciou à actriz checa Lida Baarova,jovem infeliz que o teria certamente salvo da mistificação ariana.Num tempo em que não existe uma Hollywood da Internet, não pensemos que a briga pelo brilho do espectáculo, com todas as suas consequências, terminou. Quen o diga Goebbels.

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