Esta gente cujo rosto
ás vezes luminoso
E outras vezes tosco
Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis
Faz renascer meu gosto
De luta e de combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o milhafre
Pois gente que tem
O rosto desenhado
Por paciência e fome
É gente em quem
Um país ocupado
Escreve o seu nome
E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada
Meu canto se renova
E recomeço a busca
De um país liberto
De uma vida limpa
De um tempo justo
Do livro GEOGRAFIA, 1967
( AGRADEÇO O ENVIO à FERNANDA leITÃO)
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3 comments:
Não sei o que esta pequena poetisa tem contra o abutre, animal necrófago, tão útil para manter a floresta limpa de mau cheiro a cadáver, nem contra a cobra, bicho astuto, que impede excesso de insectos,
O rosto de "esta gente" (da qual a pequena poetisa faz parte, pois no seu rosto vê-se a escravatura a uma certa classe burguesa e nortenha - não aristocrática) às vezes não é nem luminoso nem tosco, é simplesmente opaco, às vezes rude - vai para além desta oposição polar - tosco/luminoso.
Esta gente que só lhe lembra reis e/ou escravos é mais complexa do que a pequena poetisa julga.
O milhafre também é um bicho nobre, basta ver a sua presença massiva como animal "parlant" na Heráldica, além disso, nobre predador ecológico.
A liberdade poética justa conhece os significantes e usa-os com precisão e sem retórica. A pequena poetisa usa a grandiloquência retórica e erra nas derivas
dos significantes.
A pequena poetisa também toma uma atitude de lider messiânico - "em frente desta gente meu canto se renova". Pura e piedosa ilusão! nem o canto se lhe renovou, nem a gente por ouvi-lo se libertou.
A pequena poetisa, cujo canto se renova diante "dessa gente" (inha) recomeça a busca, depois de ter atirado para o seu inferninho poético nobres animais como o milhafre, o abutre e a cobra.
Vê-se bem que a pequena poetisa era uma urbana, idealista, com um complexo messiânico e divorciada dessa gente de rosto dual dicotómico ( e de resto abstracta) a quem pretende cantar.
As boas intenções poéticas desacompanhadas de precisão dão poesias lamechas ou retóricas, estilo Pedro Homem de Mello, no seu estilo chorão e chantagista tipo Povo que lavas no rio.
Em resumo a pequena poetisa, num momento Leo Ferré, deslumbrada pela sua bela alma quando muito deitou ao mundo uma pérola populista. No fundo um poema autocrítico, a bem pensante apanhada num momento de compassio ad populo, apanhada num feliz flash.
A pequena poetisa, com o seu penteado rígido, a fazer outra vez figura de abajur.
Bem haja, por ter publicado este texto de humor involuntário produzido entre duas sentimentais cigarradas diante do Tejo, pela pequena poetisa,
A Bem da Nação,
Petronius Arbiter
"pequena poetisa" ,ó arbitro da elegância? Eu apenas conheço poetas com autenticidade e os dela desprovidos. depois , 00000OOOO grandes e ooooooo pequenos depende e muitos factorwes. Quando muito dou-lhe razão em que ter um nome com ph, dois ll e y não Ajuda nada. Mas A QUESTÃO CLASSISTA e ideológiCA é IRRELEVANTE para apoesia. Ezra era um "ganda" fascista e um grande poeta; petronius, precisamente, era um hibrido do prof. marcelo com os poeta amrgos, cheio de cinismo, desilusão e cortou as veias, como descreve Suetónio. Quer chatice, cortar as veias, dirá V. Pois É. Que desgraça, diria a Sophia...!
Num desses dias ensolarados, em que o sol arranca sem piedade a vida da terra, levanta tua fronte e desafia com teus olhos o infinito do céu.
Repara nas nuvens, em busca das tuas respostas. Mira a distante e escura silhueta que te segue pelos mantos azuis.
Lá o está, o ponto negro que anuncia a tranformação de todas as coisas, num leve rodopiar das infinitas correntes de ar que circulam sobre tua cabeça, suspenso nos céus...
Desprezando a ordem da humanidade, recusando-se a disputar seja lá o que for, um resto, um cadáver ou um pedaço de ar, pois só conhece a missão de colaborar para com o equilíbrio natural, sem concorrências, sem vencedores ou abatidos.
Habita nos sepulcros rochosos das mais altas montanhas, o oculto lar inatingível para ti, onde seus segredos são repassados às futuras gerações pela ordem natural do ciclo de vida e morte.
O espia da vida, que acima da filosofia dos homens, segue teus passos e conhece teu destino, do começo ao fim, até o recomeço.
Teus olhos cotidianos e corriqueiros não lhe podem desconfiar que num circular constante, equilibrado e pendular, mensagens ocultas são reveladas aos olhos de quem as buscam incessantemente.
Mas não a ti, ó homem comum, o qual não há pena sobre e em ti, somente para ti, por todas as tuas insanidades para contigo e com teu próximo.
O púrpuro alquimista atravessa eras, milênios e gerações depurando a terra bendita que não lhe fôra prometida, como um guardião da sobrevivência de todas as espécies, na última classe da cadeia alimentar.
Serve-se de tudo aquilo a que à vida já não mais inspira, e ainda assim, não lhe considera podridão. Não como a tua.
O eterno viajante da transmutação faz o desconhecer do tempo, anunciando-o nos sóis e nas tempestades, a fim de anunciar a aridez da vida e a fertilidade na morte. Abençoa a terra seca com os sinais únicos que tornam as chuvas sobre os campos esquecidos pela química vivificante.
Quando olhares para teu telhado e o reparar sobre tua casa, prepara-te que teu vital limiar se chega a ti. Não o afugentes, pois assim a natureza o fez lúgubre mensageiro, para generosamente dar-te tempo de preparares o fim de tua seara terrena.
Ele te observará quando tuas forças prostrarem teu corpo sobre a terra e ainda assim aguardará solene o teu silenciante poente.
E, assim, este fúnebre amigo pousa ao teu lado, sendo teu único companheiro na jornada que se inicia da morte para o além, e pacientemente aguarda teu último suspiro, tua última lágrima de dor, de arrependimento e de redenção.
Sua aproximação traz consigo a mensagem do último segundo de tua existência, e com ele deixarás a agonia da dor, a qual em seu bico afiado inspirará e rasgará as carnes que já não mais a ti pertencem, para expirar tua alma purificada pelos olhos que não se alimentam dos sacrifícios sanguíneos.
E, após o rito de reconciliação de morte, vida e sobrevivência, funesto para os homens, lá o vai, batendo suas asas novamente rumo à silenciosa altitude, acompanhando o destino das raças sobre a orbe.
Assim, os olhos, que te observaram e te devoraram, expiram os erros de tua existência, e convidam teu espírito para um alçar vôo rumo ao infinito da Luz.
Luz que te aguarda além de todos os céus, na mais alta dimensão, onde jamais imaginaste voar.
Quem poderá desvendar estes segredos que escondem o destino de tua humanidade?
É ele, o guardião da púrpura manta flamejada em alva que circunda pelos céus.
Por isso, olha para o céu e clama a este negro alquimista o segredo de tua libertação que se encontra sobre tua cabeça e teu destino.
Lá, sobre os céus, o encontrarás, voando em circulos infinitos pelos poentes, pacientemente.
Lá, encontrarás o Abutre.
Marcio Bastos Soares - Brasil
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