S. PEDRO MÁRTIR
San Marco, Florença
Assisti à despedida de um Coronel Americano dos Bombardeiros. Ele chorou várias vezes. A certa altura eu também estava a chorar. E, com ele, milhões de iraquianos que suportaram uma guerra imposta pelos Poderes, na região e, agora, uma imposta pelos Poderes e pelas Mentiras.
Conhecera aquele Coronel muito antes. Era como um menino do Texas, que nunca perdera a cara de menino, apesar dos muitos sofrimentos que teve. Certamente ter bombardeado Hanói, quando era novo, e quando a Defesa anti-aérea de Hanói era das melhores do Mundo e lhe deitou abaixo alguns dos 50.000 americanos que não puderam estar na cerimónia de despedida, nem eles, nem um milhão e meio de vietnamitas, nem – diz-se – cerca de 100.000 iraquianos.
Mas só Deus julgará Tony Blair. Mas Kennedy foi um mártir, apesar de ter ordenado a morte do seu Aliado Diem, Presidente do Vietname do Sul até 1966, morto
Sei que este Coronel teve um problema enorme, a certa altura, qualquer coisa como uma viuvez a seguir a uma doença súbita ou um divórcio semelhante a uma viuvez, pois ele teve que criar as duas filhas. Uma delas disse mesmo que não se casaria para ficar com ele. Sei que ele era um rapaz do Sul dos Estados Unidos, do campo, como aqueles que resolveram ridicularizar no filme « Brokeback Mountain ». Sei que desenvolveu uma imagem do Mundo, como quem tem que levar a Cruz do Mundo a levantar vôo, como um avião e tem de fazê-la descer e aterrar, como se ainda quisesse salvar o crucificado, em cima dela. Neste Mundo, talvez sobre o Pacífico, desenvolveu como que uma segunda Natureza, como se calhar os Argonautas da Antiguidade desenvolveram um mundo nómada, dentro das suas cabeças e nos conveses dos navios, longe de todo o Mundo vivo.
Mas Lyndon Johnson, era Democrata, queria fazer todos os americanos serem iguais e felizes, dando uma lição ao Mundo de Justiça e Liberdade. Contudo esmagou os malditos comunistas no Vietnam, também com Mentira e Napalm, porque era um Nobre Igualitário e sabia pôr a Casa do Mundo em Ordem, cumprir o seu dever e libertar o Mundo de radicais ( que, por acaso, no Vietnam, eram comunistas, como podiam ter sido budistas, ou benfiquistas, mas eram sobretudo irmãos das árvores e dos bichos em que os seus avós tinham nascido).
Este coronel foi elogiado longamente por um General que parecia cantar num côro e que sabia toda a sua biografia. Este coronel foi ajudado por duas mulheres-sargento, como as suas duas filhas e que ficaram, depois de ele sair, porque, homens como este, passam e ficam as mulheres a comandar as armas, a leccionar nas universidades, a ordenar ataques de B-52, sobre lugares sujos e velhos, onde homens primitivos ainda querem mandar nas mulheres e imitar o que um maluco qualquer, há vários séculos, disse ter ouvido de um Anjo quando, se calhar estava era mas é drogado.
Mas Nixon foi um grande lutador. Nixon veio do nada, subiu a pulso com esforço e valor, até ser Presidente do maior e mais livre país da terra. E o seu genial Kissinger é ainda o grande génio do Progresso do Mundo, do caminho do Mundo para a Democracia ( apesar da sua vaidade, da sua falsidade, da sua total e completa irresponsabilidade humana).
No fim, um Reverendo abençoou-nos todos. Sem Deus, o Coronel nunca teria chegado vivo àquela sala. E alguém invocou a bênção do Povo Dakota, que já é escasso na terra daquele coronel.
Chorei e ri como um bébé. Senti, como a vida de uma Corporação pode substituir a vida de um Homem e até as suas funções vitais, pôr-nos a rir e a chorar como se vivêssemos constantemente à beira de um ataque de nervos e, nisso, se medissem as nossas forças.E como se as nossas forças fossem o Bem e o próprio Deus.
Ah, quando veio a bênção lembrei-me que Deus também é silêncio, um silêncio terrível e que este terrível silêncio, como a Sombra da Irmã Noite, é uma das Suas maiores manifestações de Amor.
Bendito seja o Silêncio.
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