"Jupiter prius dementat quos perdere vult". Era com este aceno de sabedoria contristada que os Antigos despachavam os poderosos que estavam à beira da queda. No nosso século mais tecnológico falamos de preferência do princípio da entropia, quando a energia dos sistemas não se consegue transformar
Algo de semelhante se está a passar em Portugal.
Surpreendentemente, para alguns!" Afinal, somos um país da União Europeia. Nem sequer dos pior classificados em muitos dos rankings que alavancam os Estados da OCDE. Funcionam as garantias do estado de direito e sobre as liberdades não há queixas apreciáveis. Os nossos juristas podem estar muito contentes com o sistema de códigos limpinhos que nos criaram e a indústria florescente de pareceres que alimentam. O sistema eleitoral funciona regularmente e o leque partidário apresenta uma regularidade quase sem paralelo na Europa. 3o anos de democracia sustentada pela "pachorra" dos portugueses em votar quase sempre nos mesmo partidos criaram uma estrutura de fazer inveja a outras classe políticas europeias, sempre em bolandas de mudar de partidos ou de pessoas. Nós não; temos inamovíveis como o major Valentim e a senhora de Felgueiras, liberalmente distribuídos à direita e à esquerda da baixa politica partidária do "centrão".
Somos de facto um país atlântico situado na Europa. E como outros países europeus, partilhamos poderes de governação com a Europa, permitindo que o orçamento seja pilotado de Bruxelas - o que nem é um mal - e que a política externa dependa dos faxes de Washington - o que nem sempre é um bem. Muitas das nossas decisões deixaram de ser soberanas porque o mundo não está virado para aí, para as soberanias puras. Isso não é problema. Fomos independentes 4 séculos antes de se reinventar a palavra soberania. O problema é se sabemos utilizar a independência que nos resta
Isso exige ter a cabeça livre e limpa para tomar decisões esclarecidas e cada vez mais urgentes sobre o nosso futuro imediato. E aí vemos uma crescente entropia, uma crescente loucura e desordem dos políticos republicanos - chamemos-lhe com o nome do regime que temos - acompanhada de uma crescente incapacidade de decidir por nós, de encomendar as soluções aos nossos técnicos e sabedores, de estimular o capitalismo popular baixando impostos para que nasçam empresários nossos a sério e não dependentes de subsídios, de apoiar o enprego dos jovens em vez de os seduzir com a pasmaceira ou de os atirar para a emigração. Temos de aproveitar a sério a independência que ainda temos, e uma das últimas oportunidades que temos é ordenar o país, tornar viável uma série de cidades região que se estendem pelo norte até à Galiza e pelo leste até Castela e que pelo mar e pelo mar facilmente poderiam ser um ponto de encontro com o resto do globo.
Mas em vez de agarrarmos com as duas mãos essa margem de independência que nos resta e de arrumarmos a casa, deixamos a loucura crescer. Veja-se os projectos literalmente farónicos da Ota e TGV; já se calculou que a remoção da terras na Ota equivaleria a 6 pirâmides de Gizé. A classe política que nos governa - digamos republicana pois que assim se auto identifica o regime - deixou de ter amarras nos sabedores e nos técnicos. O episódio ainda sem desfecho da "espécie de engenheiro" que é primeiro ministro é um epifenómeno disto mesmo. Do modo como a classe politica se desamarrou da classe dirigente: de como a classe dirigente deixou de dirigir seja o que for e de acreditar noutros compromissos excepto os seus proprios interesses; de como o que resta de bom senso, de dedicação e de coragem se vê afastado, querendo ou não querendo, das decisões nacionais. De tudo isto resulta que estamos num momento grave em que os poderosos fazem actos estúpidos e dizem coisas estúpidas, como se estivessem loucos. Porque os deuses os querem perder. Mas somos nós, portugueses, que nos temos que salvar a nós próprios!
1 comment:
O que conta é o poder pessoal, ou se tem ou não. Entretanto não sei se reparou mas "os portugueses" começaram a desaparecer no século XVI, e Camões dá bem notícia disso. Temos pois uns bons 500 anos de progressivo desaparecimento nacional até à passiva sub-urbe, em vias de reiberização actual.
Ou seja, não há mais portugueses a salvar, porque pura e simplesmente não os há.
Qunato à desordem actual ela é útil : aos períodos de grande organização e ordem, ou se quiser de grande Razão e Quimeras anexas, sucedem~se períodos de desorganização e de caos em todos os sentidos. Não se pode escolher um contra o outro, tem-se simplesmente que viver com esses períodos, e ser monge em tempos de barbárie e bárbaro em tempos de Ditadura Degenerescente.
A classe política de facto e à letra e em todos os sentidos não nos governa. Pelo menos não governa um homem livre, esse auto-governa~se muito bem sem muleta de partido, sem espartilho ideológico.
por outro lado não esqueça que a língua saariana avança. A geologia a botânica e a flora são coisas instáveis, e são elas, no fundo quem determina as nações, essas convenções úteis de costumes e língua ou línguas. Ou seja Portugal está a caminho de ter um Sul desertificado, justamente de fazer parte do sistema saariano.
Com jeeps, com camelos, com tendas com ar condicionado - mas sem petróleo e sem tanto glamour. A mim isso não me preocupa, talvez então nos unamos por fim â Galiza, mais apimentados pela pressão de sobrevivência. Talvez disparemos em direcção à Irlanda e nos reorientemos no famoso Eixo Celta, umas das matrizes portuguesas, existente antes do cristianismo e da sua diferente luz primitiva.
A actual paranóia securitária, não passa disso. Pura paranóia e delegação e submissão de poder pessoal a terceiros. O que falhou profundamente em todos os modelos portugueses foi o falhanço em construir uma Educação do Guerreiro, o único ser humano capaz
de assegurar a sua própria liberdade e de contribuir positivamente para as liberdades públicas.
Sinceramente,
Um cão que filosofa.
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