12.4.07

A tragédia do Iraque

As guerras perdem-se ou ganham-se antes de acabar. Mas a Guerra do Iraque, iniciada a 20 de Março de 2003, estava perdida antes de começar. Baseou-se em princípios errados, foi desencadeada com base em mentiras, foi prosseguida com incompetência, e o resultado actual é a tragédia para toda uma geração.

Em discurso à ONU em Setembro de 1993, Clinton ditou que o alargamento da democracia vinha substituir a contenção do comunismo, de preferência pelo comércio e sem violência. Os republicanos neo-conservadores fizeram o Projecto para um novo século americano, 1995 visando colocar os EUA na plataforma giratória do Médio Oriente. Tudo o que necessitavam era de um catalizador, como foi o 11 de Setembro.

A guerra foi desencadeada contra os princípios do direito internacional. O Iraque nada tinha a ver com o 9/11. Não possuía ADM’s. Não estava ligado à al Qaeda. Mas chicotearam o público até acreditar em tudo. Seria como tirar um doce a uma criança. Bastariam 160.000 militares. Seria auto-financiada com o petróleo. E assim Bush exclamou "Missão Cumprida" em Maio de 2003. Há quase 4 anos!

Depois, veio a incompetência. Paul Bremer mandou para casa um quarto de milhão de Baathistas, a que se juntaram separatistas curdos, milicianos Shiitas, nacionalistas Sunitas, terroristas estrangeiros, jihadistas. Esqueceu-se dos depósitos de munições. Perdeu o "coração e a mente" do povo. Restou a estratégia do atrito.

O optimismo patológico agarrava-se a tudo: o "fim das hostilidades"; a entrega de"soberania"; a captura de Saddam Hussein; a eleição do governo interino; as eleições constituintes; o governo da "unidade"; captura de al Zarqawi. Dizia-se em finais de 2005 que “a revolta estava no fim”; que o povo iraquiano queria liberdade; que a América lutava contra a jihad islâmica global. Mentiras ou ilusões? Pouco importa. A verdade veio ao de cima.

Em vez da construção da nação, o horror. 100 mortos iraquianos por dia e mais de 4000 americanos (militares e civis) abatidos. As forças armadas de EUA só controlam o chão que pisam. “Por cada recruta que matam criam três." E os conscritos economicamente inempregáveis e politicamente impotentes não protestam. Nos EUA, já só se fala em “apoiar as tropas”. Mas Fallujah, Najaf, Abu Ghraib, e Haditha, são sinónimos de massacres, de batalhas sem amanhã, de tortura gratuita.

O governo de maioria shiita está à espera que os mercenários americanos liquidem as milícias sunitas. Estas esperam pelo poder, após a saída dos invasores. O radicalismo islâmico disparou na Jordânia, Arábia Saudita, Egipto e Paquistão. O Irão cresce. E só por razões políticas internas americanas, a guerra ainda não terminou.

A tragédia do Iraque é que não foi alcançado o justo fim – o combate ao terrorismo - e diminuíram os meios - soldados, aliados, dinheiro, legitimidade e vontade. O Ocidente ficou mais exposto devido à mediocridade do "poder americano" e à indecisão do mundo europeu. E enquanto o Ocidente não sair do Iraque não terá as mãos livres e limpas para encontrar o seu lugar no mundo.

2 comments:

JSM said...

Uma grande e certeira análise, como era de esperar!
Se for autorizado, gostaria de publicar este texto no 'fora de estrutura', em data oportuna.
Aproveitaria a situação para fazer referência ao 'Duas Cidades' nesse território que frequento e sou parte, mas que precisa de ser ventilado por outras 'cidades', se me fiz entender.
Um abraço.

Anonymous said...

Mendo,

Tens lá tudo o que era preciso dizer, dentro do texto; Era preciso de algum modo divulgá-lo.

André