Acabei de ler o livro do Biólogo Richard Dawkins que foi lançado no fim do ano passado. Traduzo o título "The God Dellusion" por " A Desilusão de Deus" ou "Uma desilusão chamada Deus".
Richard Dawkins, que nos fascinou a todos há trinta anos com " O Gene Egoísta", é responsável, num dos Colégios de Oxford, pela cadeira de "Imagem Pública da Ciência". Não sei quem lhe encomendou este livro, talvez ele mesmo, nem ninguém me encomendou o sermão que vou fazer a seguir.
Richard Dawkins declara-se ateu, lista ao fim uma série de organizações que ajudam as pessoas a fugir da religião mas fá-lo de um modo tolerante como se fosse o velho do Restelo inglês que dizia mal da expedição do Mayflower levando o código genético da América para a terra dos Índios. O livro começa com Teologia, de que Dawkins domina o essencial, a meu ver, e fica-se por uma fórmula de Sísifo a escorregar para o outro lado da montanha a cujo tôpo levou o pedregulho. Ou, por outra, é como Pascal, prestes a perder a Fé: se a inexistência de Deus é improvável, a sua existência é muito mais improvável.
De resto o livro é acessível e a doutrina de Dawkins é Darwin. Serve-se dela para dar uma tareia monumental nos Evangélicos norte-americanos, uma tareia mais prudente nos perigosos islâmicos e, no fim, para atacar uma nuvem de Catolicismo e Cristianismo ateu ou civilizado que lhe dá ganas, desde que era menino de côro anglicano. Embora o livro seja um ataque justo aos fundamentalismos que aumentaram com o ataque do 11 de Setembro -- e nisso dá o que de melhor o Pensamento Europeu pode dar -- vai mais longe e ataca aquilo que o impede de escorregar definitivamente para o outro lado da colina de Sísifo e pôr Pascal ateu: o seu cristianismo de formação. Está no seu direito, tem engenho e arte para isso e os cristãos precisam muitos destes ateus com quem conversarem.
Paradoxalmente o livro acaba com um capítulo, "A mãe de todas as burkhas" em que compara o cérebro humano a mais um órgão que vê o mundo por uma frincha. Embora termine a fazer votos que o pensamento humano se liberte dessa "burkha" e possa ver um universo sem limites, designa todo o manancial de saber e experiência da Humanidade, como a arte de se cobrir com uma "burkha". Ou seja: a mente sabe porque se soube cobrir com uma burkha. Impressionante. Os islâmicos descobriram isso sem irem a Oxford. Enfim, Dawkins, sem o saber, é tão ateu como um islâmico que há trinta anos atrás seria maoísta e lembremo-nos que as tropas do exército de Mao Zedong, entraram em várias escolas, durante a derrocada e fuga do Kuomitang para a Formosa, proclamando aos estudantes sentados a doutrina de Darwin.
Enquanto o ateísmo de Dawkins se processa por raios de luz, alguns deles ressentidos, mas outros brilhantes e com sentido de humor, como se Dawkins estivesse esgotado sem se dar conta disso, os islâmicos descobriram a arte da fuga, quero dizer, da sombra.
Dawkins foi o grande divulgador da doutrina do "meme" uma espécie de forma pura, resistente a séculos e intempéries como o gene e capaz de se repetir por milhões de anos mas sob uma forma cultural. A certa altura, o "meme" de Dawkins confunde-se com ele próprio, come-o e diz exactamente o contrário do que ele começou a dizer.
À tolerância de Dawkins, plural e benfazeja, falta-lhe um pouco de arte, um pouco de humildade e, apesar de toda a liberdade, um pouco de saudável loucura.
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4 comments:
Delusion: Delusão ou Ilusão.
Portanto, traduzido à letra e sem deturpar o significado original a Delusão de Deus ou a Ilusão de Deus.
A desilusão de Deus implicaria que o autor esteve primeiro iludido, e depois superou por meio da desilusão esse momento, Mas o autor não está desiludido com Deus, pelo contrário considera-o como uma ilusão da mente.
Caro anónimo,
Olhe que fechei há bocado o livro. E a sua tradução é capaz de ser mais fiel. Mas o resto não é bem assim.
Ele cita um colega dele (um dos três cientistas ingleses, por ele tidos como importantes e que se declaram cristãos) o qual concilia Deus com Ciência implicando que Deus é a Mente amplificada.Mas cita o colega só para o refutar. Se assim não fosse, por mais que a Ciência ocupasse lugares outrora de Deus, entre a Ciência e o Homem, estaria sempre a mente. Ora uma concepção de Mente generosa englobava tudo o que precisamos para conceber Deus. Curioso: embora ele não toque uma vez que seja no Budismo, este ensina-nos os males da Mente o que levaria Dawkins a refutar o colega duas vezes, se também lhe desse para se atirar contra o Budismo. Porém, Dawkins, que não parece deter-se em Budismos, mas seguir um positivismo simplificado, aceitaria talvez que Mente, é, quando muito, Consciência, a qual corresponderia a um "gene", ou um "meme" evoluído ao longo de milhões de anos. Enfim, não é a impossibilidade de reduzir tantos fenómenos da Consciência a "genes" ou a "memes" que impedem Dawkins de tirar conclusões: Deus não é apenas uma ilusão. É uma "burkha", um impedimento, um vício, uma coisa sado-masoquista e deixa-o entender se bem que, ao longo do livro, vá utilizando "Worship", "Religion" e "God" em sentidos diversos, não muito conscientes, sem que Deus venha sempre negativo. O que é certo é que a segunda coisa que faz, desde logo, é destruir o agnosticismo, ou seja, a posição intermédia e não tem probelmas em declarar-se claramente ateu desde o início, dispondo-se apenas a demonstrar o evidente bom-senso disso. Não é grave e talvez seja a posição pública que melhor encontra para fazer face aos exemplos absurdos de obscurantismo fundamentalista, passados em revista. O mal do livro é que Dawkins não p=oe uma vez que seja a questão de ele próprio partir de outro tipo de ilusões. Por isso não condescende sequer com um conceito de Humanidade iludida.
Enquanto Marx chamava à religião o ópio do consôlo, o penúltimo capítulo do livro de Dawkins, em vez de "Conclusion", chama-se "Consolation". Qual? A da ciência e duma prosa de Ciência ao alcance de todos que até parece televisiva. Em suma: Deus não é uma ilusão do homem, é um produto estupefaciente, uma espécie de veneno genético, um estigma.
Não sei se a livre comunicação e a expressao de um certo tipo de discursos serão consolação para todos os grandes mistérios com que deparamos tantas vezes.
pENSO QUE O LIVRO é uma grande desilusão se pretende ser a grande refutação dum cientista, no séc. XXI, dos Mitos em torno de Deus.
Obrigado pelo seu comentário.
A. Bandeira
a propósito desse guru hollywoodesco, Richard Dawkins, e basta passar pelo seu site (http://richarddawkins.net/foundation) para confirmar seu narcismo patológico Olavo de Carvalho escreveu:
http://www.olavodecarvalho.org/semana/070430dc.html
um abraço
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