Carta Aberta a Mário Lino
27/05/2007 (54 leituras)
Exm.º Sr. Ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações
Eng.º Mário Lino:
Refere a comunicação social de 24 de Maio de 2007 que, durante um
almoço-debate sobre "O Novo Aeroporto de Lisboa", promovido pela Ordem dos
Economistas, e que ficou assinalado pela sua intervenção, não direi tanto
famosa quanto notória, que “A margem Sul é um deserto” achou também
oportuno brindar os presentes com a afirmação que "O programa do Governo
não será avaliado por 22 senhores que escrevem livros, mas pelos eleitores
em 2009".
Referia-se decerto ao livro O ERRO DA OTA e creio falar em nome de todos
os seus autores.
Naturalmente que não inferimos das suas palavras que despreza os autores
de livros, nem a cultura em geral, nem a cultura técnica e profissional
que resulta do citado livro, escrito por especialistas independentes e
isentos com a consciência cívica de estarem a prestar um serviço ao país.
Também não inferimos das suas palavras que são inúteis estudos
preliminares e chamadas de atenção fundamentadas, quando estão em jogo
opções estratégicas para o país como seja “O Novo Aeroporto de Lisboa".
Não inferimos, ainda, das suas palavras que a democracia, para si, Sr.
Ministro, é um cheque em branco passado de quatro em quatro anos, não
tanto a um Governo, mas a um partido político que selecciona esse Governo;
sempre nos ensinaram que o poder legislativo tem a primazia sobre o poder
executivo e que o Presidente da Assembleia da República é a 2ª figura do
regime.
Tudo isto, senhor Ministro, damos por pacífico que não é questionado na
sua intrigante afirmação.
Mas, Sr. Ministro, ficamos preocupados que com tanta preocupação sua,
técnica e politica, e tantos dossiers a gerir, encontre tempo para
desqualificar quem com “honesto estudo” vem concluir em voz alta o mesmo
que indicam as sondagens de Abril e Maio de 2007, segundo as quais cerca
de 92 a 93% da população nacional, ponderando os votos, está contra a
localização na Ota do Novo Aeroporto de Lisboa.
Poderá V. Exª saber que o famoso poeta alemão Heinrich Heine escreveu em
1821 que “Onde queimam livros, acabam por queimar pessoas”. Sem dúvida que
jamais terá atravessado a mente de V. Exª queimar livros e muito menos
pessoas, ao longo da sua já longa carreira política. Mas só lhe pedimos
isto Sr. Ministro: tendo o Prof. António Brotas feito a oferta a V. Ex.ª
de um exemplar da citada obra, não queime também reputações e responda a
quem merece resposta pelos depoimentos fundamentados que prestaram, como é
o caso dos 22 autores de O ERRO DA OTA E O FUTURO DE PORTUGAL
Mendo Henriques
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1 comment:
Tão Patriotas que Eles São...
Toda a gente ouviu a indignação dos promotores do estudo sobre a edificação do futuro aeroporto de Lisboa em Alcochete quando lhes foi perguntado se o avançavam por interesse económico. Foi um clamor: nada disso, diziam; que o estudo era patriótico [sic], juravam; que o que lhes interessava era poupar uns cobres ao depauperado Estado Português, afirmavam; que era vergonhoso supor - logo eles, tão amiguinhos da população como os sabemos! - que pudessem estar interessados em fazer negócio na Margem Sul: o dinheiro que dispendiam a pedir um novo estudo era um investimento a fundo perdido, a bem da Nação e da felicidade geral: em resumo, uns beneméritos...
As boas intenções, essas de que o Inferno está cheio, começaram a ceder quando se soube que a Lusoponte tinha estado entre os financiadores do estudo. Ou seja, quando se percebeu que a empresa que gere as pontes sobre o Tejo, por mera (e providencial, com certeza, sinal de que Deus ajuda quem ama a Pátria) casualidade estava entre os filantrópicos promotores da nova infra-estrutura. O facto de poder ganhar centenares de Euros caso a obra vá para lá do Tejo é mera casualidade, obviamente: estou firmemente convencido - e como eu os meus caros leitores, que não embarcam na maledicência dos inimigos da Pátria, que vergonhosamente insinuam os «interesses escondidos» dos nossos bondosos capitalistas - de que os gestores da Lusoponte nem sequer se lembraram disso quando desembolsaram a quantia que lhes foi pedida.
Mas agora há mais um dado que nos faz desconfiar da generosidade espontânea e extemporânea dos magnates portugueses: segundo denuncia a Associação Comercial do Porto ao Público o estudo encomendado começou por ser uma iniciativa tripartida entre essa organização patronal [a CIP], a Associação Comercial do Porto (ACP) e uma terceira confederação empresarial. Mas tudo mudou depois de uma reunião entre Francisco Van Zeller, José Sócrates e Mário Lino, onde se considerou “conveniente” que apenas a CIP ficasse encarregue da promoção do documento.
E de onde decorria esta «conveniência» a que o talvez-Eng. Pinto Sousa e seus sequazes faziam referência? Ao que transparece, o estudo de uma opção Portela + 1, que constava do estudo preliminar e é considerado essencial pela ACP, acabou também por ficar pelo caminho.
Vamos lá ver se eu percebo: a ACP fez menção à inclusão no estudo da construção de um aeroporto complementar ao da Portela, que não teria de ser feito de raiz, e está na esteira do que fazem todas as cidades com grande tráfego aéreo no Mundo inteiro. No entanto, o Governo, preocupado com como está com a poupança de dinheiro... retira-os da corrida, e só deixa em jogo as duas opções mais caras???
Tudo isto cheira que tresanda a favorecimento: a CIP é com certeza a representante do lóbi que financiou a campanha socialista para as Legislativas: e agora que o partido está no poder, reclama pagamento - de preferência com uma obra pública à partida obscenamente cara, e que mais ainda o será com as previsíveis derrapagens que por aí virão. Tudo evidente demais.
Perguntar-se-á? Mas então, porque quiseram eles a obra de Alcochete, mais barata do que a Ota? Porque fizeram estudos nesse sentido? Por duas razões: por um lado, porque a mobilização da opinião pública contra a política de facto consumado em relação à Ota obrigou o XVII Governo a dar uma amostra de abertura a outras possibilidades - essa vitória ninguém no-la tira; contudo, para a contornar, pediram à CIP que fizesse um estudo a equacionar Alcochete - e só Alcochete - para poderem depois tomar uma de duas medidas: ou chegar à conclusão que, estudadas todas as alternativas, até à última, a Ota continua a ser a mais viável, ou então, num rasgo de abertura que lhes pode valer votos depois de três anos (que na altura já terão passado sobre a governação) de um ministério intratável, aceitar Alcochete, e, aproveitando a embalagem, purgar Mário Lino, um dos pesos mortos do Governo, permitindo assim a chegada a 2009 com um Executivo livre de todas as nódoas de imagem, bem limpinho e aprumado, talhado para ser apresentado ao Povo.
Numa situação destas, o que pode o Povo fazer? Mobilizar-se, todo e de uma vez, exigindo que se estude a opção do aeroporto complementar à Portela. É bastante triste que os mesmos partidos que investem com quantas forças têm sobre a Ota tenham fundos para campanhas eleitorais zilionárias mas não estejam dispostos a abrir cordões à bolsa para aferir esta nova posibilidade. Triste e demonstrativo da sua mediocridade e incapacidade de visão: que outra coisa lhes podia valer mais votos na campanha para as Intercalares de Lisboa do que poderem dizer «nós é que nos preocupámos com a manutenção do aeroporto na capital»? São ignaros, são incompetentes, são de uma falta de lucidez completa. Mas se eles estão nestas condições, que as não partilhe o Povo, e exija que se estude a possibilidade mais barata: a bem do gasto judicioso do sagrado dinheiro dos contribuintes, tão propalado por todos mas praticado por ninguém.JV
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