26.1.08

III - (Re)leituras: "On the Choice of Books", de Thomas Carlyle, por André Bandeira

Reler "On the Choice of Books", de Thomas Carlyle, a sua prelecção aos estudantes de Edimburgo, em Abril de 1866, quando foi eleito como Reitor, contra Disraeli.
No fundo, Carlyle só aconselha um livro,"The History of Reformation", de John Knox, o arauto do protestantismo escocês, e de quem a mulher do próprio Carlyle, Jane Welsh, era descendente. Enfim, a prelecção só nos faz lembrar o que já se sabe de Carlyle: a sua veracidade, a sua tempestade, as suas posições de Direita, a sua Esperança e também um pouco a sua súbita escuridão. O discurso é feito cinco anos antes da publicação de "The Descent of Man", em que Darwin assume aquilo que T.H. Huxley já tornara público, ou seja que todos descendemos "do macaco". Tirando as interpretações nesse largo laboratório em auto-gestão que é a "Natureza", Carlyle, no reino da Cultura, parece uma gesticulação de quem acha que não é justo que essa ferida aberta da nossa animalidade se não feche e nos venha finalmente a matar. Sempre em "minoria de um", incapaz de entabular um diálogo, infiel ao que dissera antes mas apenas porque o facto de o ter dito não lhe dava razão por isso, Carlyle era alguém que, se lhe vaticinassem quão difícil ia ser a sua Vida, nem por isso acreditaria em bruxas.
Acho que era um Homem realmente com pouca sorte mas que se atreveu, não por arrogância ou orgulho, a lutar com a má-sorte. Esse seu brilho escuro, no fim, nada tem de diabólico: é apenas o encolhimento final de quem vai morrer e, por isso, talvez seja o pouco de paz celeste que ainda existe na nossa animalidade. Reza a Enciclopédia Britânica que os amigos íntimos diziam ser Carlyle impotente. É possível...mas mais impotente é a Enciclopédia Britânica, porque Carlyle, sem braços, nadou com os ombros e o seu naufrágio foi uma bela oração ao Deus de Job, o Deus da Esperança.

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