11.7.05

ARGUMENTOS POUCO SÉRIOS, por Carlos Luna


ARGUMENTOS POUCO SÉRIOS

O mês de Junho de 2005 fica marcada pela aparição à venda de mais um livro sobre a Questão de Olivença. O seu título é "Olivenza, las razones de España", e o seu autor é Luis Alfonso Limpo Píriz, bibliotecário na localidade.
Trata-se de um livro favorável aos argumentos de Madrid, que pedirá uma análise cuidada, impossível de concretizar para já. Todavia, o livro apresenta um prólogo/introdução de quatro páginas, assinadas por um intelectual de relevância, de nome Juan García Gutiérrez (JGG). Neste texto, há algumas afirmações de imediato polémicas e pouco consistentes, que merecem alguns reparos.
Lê-se (páginas 14 e 15) no mesmo, e traduzindo, "...nesse longo período de História que vai do Tratado de Alcañices (1297) ao de Badajoz (1801), Olivença não esteve de forma ininterrupta sob domínio português; desde 1580 com Filipe II até 1640 com o neto deste, Filipe IV, foi Portugal inteiro que esteve debaixo de domínio espanhol; e ainda foi ocasionalmente que Olivença foi retomada depois da segunda dessas datas, quando em 1658 um destacamento vindo de Badajoz a voltou a ocupar, ainda que por pouco tempo. O ocaso dos Áustrias com Carlos II fez com que a praça voltasse a mãos portuguesas, até à sua definitiva incorporação em Espanha pelo Tratado de Badajoz."
Há que interromper aqui a transcrição, e fazer desde já alguns comentários. JGG confunde os desejos com a realidade. Olivença foi portuguesa sem discussões a partir de 1297, e só esteve ocupada episodicamente por Espanha durante algumas guerras, tal como sucedeu com outras praças, e tal como Portugal também ocupou praças espanholas. O argumento, no que toca ao período de 1580-1640, é confrangedor. Portugal esteve unido à Coroa Espanhola, Olivença como todas as outras localidades lusas. Sempre como parte do Reino de Portugal... ao ponto de ter sido uma das localidades alentejanas a revoltar-se em 1637/38. E, se em 1658 esteve ocupada por Madrid (até 1668), é um facto histórico que toda a sua população, salvo trinta pessoas, resolveu refugiar-se noutras localidades portuguesas, regressando só em 1668, quando a praça voltou para Portugal. E isto quando não se podia ainda falar do ocaso dos Áustrias, que só se deu de facto em 1700. Estamos perante 504 anos de presença portuguesa...mesmo porque em 1658 Olivença foi considerada como parte do Reino de PORTUGAL, recuperada para a administração da coroa espanhola.
Não resisto a recordar que Gibraltar só veio para a Coroa Castelhana, por conquista aos muçulmanos, em 1462, ainda que em 1309 tenha sido conquistada pela mesma, mas perdida logo a seguir. Tendo sido ocupada pela Grã-Bretanha em 1704, e cedida à mesma no Tratado de Utrecht em 1713-14, só esteve integrada em Castela/Espanha durante 242 anos. A História tem ironias divertidas.

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