16.1.06

Sobre a Superstição, por André Bandeira

Penso que as superstições, hoje em dia, estão organizadas como estímulos psicológicos televisivos. Há muitas. Podemos vê-las sem chegar ao fim. Transmitem-nos o que queremos e relaxam-nos a mente.
A última versão do Catecismo Católico não as considera satânicas mas assevera que são boas portas para conduzirem a essas esferas. É um aviso seguro. Outro dia apanhei a minha filha, que segue a moda do Harry Potter, a dizer que as pessoas malucas se deviam queimar como antigamente. Quando lhe disse que alguns dos maiores “ sábios antigos’’ foram queimados porque as pessoas da altura os achavam malucos – quando eles estavam era adiantados para a época – a minha filha concordou mas só porque isso também vem nos sortilégios da “cultura Harry Potter”.
Em Viena li obras de Psiquiatras que utilizavam a Astrologia ( como quem utiliza uma “linguagem privada”que já se sabe que não existia para Wittgenstein, mas Ludwig não sabia tudo) para curarem ou melhorarem a vida aos pacientes. Mas sei que muitos políticos vão lá, muitos daqueles cuja opinião “conta” ( a sua e a minha ficam nos Blogues) acreditam nela. Ronald Reagan, que era razoável e inteligente, ouvia mais Astrologia que notícias. A CIA já chegou a mobilizar videntes. Digo como o Padre Evaristo de Vasconcelos: estas coisas existem mas não têm ciência. Ora muitas coisas da Fé também não têm ciência. Mas aqui faço um outro “voto de ignorância”, como fiz a um único Deus, na Universidade Católica, em Julho de 2005: muitas vezes a necessidade de um linguagem privada faz das crendices um verdadeiro canal de comunicação. Herman José foi avisado de que ia ter problemas por uma vidente que convidou para o programa. Qualquer bom detective sabe a utilidade de ter contactos nestas psiquiatras sociais que não estão vinculadas pelo juramento de Hipócrates. Digo mesmo - e S. Martinho de Dume - nos perdoe, mas, às vezes não temos outro modo de comunicar humanamente numa Realidade tiranizada por escolhas livres transformadas em teimas, que não seja por meio de crendices. Será feminino mas é bom que aceitemos também o que há de feminino, de poder do afecto concreto, em nós.
Um excesso de “electio” torna-nos em orgulhosos e angustiados Priscilianos. Há que acreditar no eterno Amor de Deus e na Providência que de todas as formas se manifesta. Isso implica uma alternativa dura às crendices: a aceitação de uma inevitável derrota nesta existência corpórea mas – porque isso não serve para descansar – também uma compassividade sem fim, até com as crendices que muitas vezes manifestam a voz real, inaudível, das pessoas. De resto S. Paulo disse que Deus dotou pessoas com diversos dons, como o de lhes falar pelos sonhos, outros de curar com as mãos, etc. O bom disto é que nada se pretendia como a profecia marxista ou o pragmatismo norte-americanos, mas como simples sinais duma realidade pensante e sentiente, duma Natureza habitada pelo Espírito que não podemos descodificar inteiramente. Não há ciência disto, senão a do Amor, às vezes até tolerando as crendices com que pessoas simples ou ilustres como Ronald Reagan vão tentando seguir um calendário. Sim, até a crendice de que há uma Justiça Social, num todo, a Sociedade, que é mais ilusão que realidade, assim como uma justiça poética para a qual tivemos de inventar um Tribunal.

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