22.1.07

Elsa, Elsa... por Pedro Cem

Quem me dera estar apaixonado, ter dor de barriga, esperança, desespero, por amar! Com a idade aprendemos a ter a paixão num mundo paralelo, onde só vamos por um salto quântico.
Mas que frio aterrador, aquele que emana do silêncio com que Portugal inteiro se diverte com as digressões de Elsa Rapôso, bonita e infeliz mulher, Mãe de três filhos que certamente ama.
Noticia o Correio da Manhã que Elsa, além de se filmar, lança pregões pela Internet, para todos os lados, como se de uma Vénus indiana, com sanha de Kali, na Primavera, se tratasse. E, com isto, gere um negócio, como quem pega numa carteira esquecida sobre a mesa de um Bar.
Tudo isto parece o esgotar de Pompéia antes da erupção, o sight-seeing de Sodoma, antes da chuva de fogo. Como se a única arma desta mulher desprezada, fosse o dizer aos outros o que os outros pensam e calam. E como se a distância que vai da sua figura patética até à muralha da indiferença, fosse o quebrar de todas as interdições. Do alto das muralhas, os sentinelas sociais, olham a pobre viandante despojar-se de tudo, com os miasmas que eles guardam, a portas fechadas, dentro da muralha.
E todos a olhamos com um misto de prazer e deleite. Dentro das nossa muralhas abrimos uma janela dourada para a decadência acelerada de Elsa, esperamos até recolhê-la, feita num farrapo, na discrição da escuridão pois algo desta sua "vida" permanecerá no seu olhar e na sua bôca dorida que nós talvez possamos beijar e dizer "nossa".
Quando uma mulher não tem mais nada que o corpo para agredir é porque a nossa indiferença se tornou numa doença que nos corrói por dentro e pela qual já nem temos coragem para gritar por socorro.

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