Nuno Rogeiro foi à Conferência sobre o Holocausto no Irão, com a intenção de fazer a sua apresentação "Holograms of Holocausts". Antes de ir, figura pública como é, telefonou a outra figura pública, Esther Mucznick, que lhe sublinhou o contexto perverso da Conferência. À última da hora -- sabendo que o líder da Klu Klux Klan estava na sala -- recusou-se finalmente a fazer a Conferência, tendo descrito a atitude como uma das difíceis da sua vida, na qual pensou em toda a sua família. Acredito nisto tudo.
Acredito também que Nuno Rogeiro fez um enorme disparate em ter-se deslocado ao Irão para participar na Conferência.
Não conheço o texto. Mas perdeu o contexto e tornou-se um pretexto.
Se Nuno Rogeiro andou a ler Roger Penrose e achou graça à parábola do holograma para descrever aquilo que Sloterdjik chama inflação e, no Portugal pós-pós-moderno ( um Portugal do Carrilho) se chama "bôlha" é porque anda fã da Ciência Popular. Como esta está tão perto, na sua querida América, da ficção, como a vulgata marxista estava, na antiga URSS, Rogeiro pôde pensar que é a componente cultural e psíquica que fazem os acontecimentos parecerem aquilo que não são e tornarem-se as parábolas em factos.
Mas Nuno Rogeiro conseguiu fazer como Gérard Phillippe no papel de Fausto em " La Beauté du Diable", filme dos anos trinta, em que Fausto se vê no espelho do Futuro e não beija a Raínha adúltera.
O problema é que, no mundo quântico e homossexual em que vivemos, futuro e passado são a mesma coisa. Rogeiro só pode exercer a liberdade com que nos armamos aos cucos, num imenso Presente sem sombra, amputando-se. Assim o teve que fazer, ao aperceber-se da Conferência fantoche, num país que não é tão pouco livre como se pensa e a quem certos livres, que não são tão livres como pensam, querem fazer muito mal.
Foi melhor que nada, mas a auto-mutilação não faz um mártir.
Para a próxima vez, de tanta presunção mostre Rogeiro mais humildade e pense naquilo que o malogrado bôbo da Corte, lhe chamou, num momento de inspiração: Nuno Ligeiro.
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