http://www.agencia.ecclesia.pt/noticia.asp?noticiaid=40555
No cerne da sua mensagem do Dia Mundial da Paz de 1 de Janeiro DE 2007, sobre os grandes temas da actualidade, o Papa Bento XVI colocou a Pessoa humana, coração da paz. Com esse tema como centro da meditação introduz o apelo das Escrituras num verdadeiro "roteiro da paz" que orienta áreas como o direito à vida e à liberdade religiosa, a igualdade de natureza de todas as pessoas, a "ecologia da paz", o papel dos Direitos humanos e Organizações internacionais, o Direito internacional humanitário, o direito interno dos Estados e o papel da Igreja em defesa da pessoa humana
Afastado dos conservadores que há uma década nos explicavam o "fim-da-história" e que agora insistem no "choque de civilizações" como "o sentido da história", Bento XVI introduz "sentido na história" através das Escrituras. Os problemas e as crises fundamentais da actualidade envolvem muito mais do que "atrasos" na adaptação da consciência humana a novas situações - o que poderia ser resolvido tant bien que mal por "novas moralidades" e "novas cidadanias". O problema é que a auto-interpretação do homem actual tem que ser libertada das enormes expectativas imanentistas que criam a insatisfação com a ordem instalada mas que renegam a " gramática" do direito natural.
Perante estas expectativas imanentistas, Bento XVI introduz a esperança de que a paz seja (2)"um dom e uma missão", a "criação de um universo ordenado" e a "redenção da história humana".(3) Existe uma "gramática" escrita no coração do homem pelo seu divino Criador com as normas do direito natural. O reconhecimento e o respeito pela lei natural são a base para o diálogo entre os crentes das diversas religiões e os não crentes. (4). O dever de respeitar a dignidade de cada ser humano, em cuja natureza se reflecte a imagem do Criador, tem como consequência que não se possa dispor da pessoa arbitrariamente, cabendo denunciar os atentados contra (5) as vítimas dos conflitos, do terrorismo e das formas de violência, provocadas pela fome, pelo aborto e pela eutanásia. São de denunciar (6) as desigualdades no acesso a bens essenciais, como a comida, a água, a casa, a saúde; e, por outro lado, as contínuas desigualdades entre homem e mulher no exercício dos direitos humanos fundamentais. (7). São inadmissíveis a exploração de mulheres tratadas como objectos e as numerosas formas de falta de respeito pela sua dignidade; (8). A experiência demonstra que toda a atitude de desprezo pelo ambiente provoca danos à convivência humana, e vice-versa. (9). A destruição do ambiente, e a apropriação violenta dos recursos da terra geram conflitos e guerras. (10). São inadmissíveis as concepções antropológicas que pregam a guerra em nome de Deus. (11). São inadmissíveis também "pela indiferença face àquilo que constitui a verdadeira natureza do homem. (12). É ineficaz que os direitos humanos sejam propostos como absolutos, mas com um fundamento apenas relativo. Como disse o mahatma Gandhi: "O Gange dos direitos desce do Himalaia dos deveres" (13). A Declaração Universal de 1948 é um compromisso moral assumido por toda a humanidade que fortalece a autoridade dos Organismos internacionais para defenderem os direitos fundamentais da pessoa e dos povos. (14). O direito internacional humanitário, e os instrumentos de segurança nacional devem combater a "praga do terrorismo". (15). A vontade de alguns Estados de possuírem armas nucleares deve ser contrariada por acordos internacionais que visem a não proliferação, e pelo esforço de procurar a definitiva abolição.
Este grandioso roteiro da paz do Papa Bento XVI demarca-se claramente das visões optimistas de que estamos numa década de expansão da democracia, da economia de mercado e das tentativas de paz pelo direito. Também não alimenta o pessimismo dos que referem a permanência de guerras não declaradas, genocídios, pobreza continuada, novos fundamentalismos, degradação ambiental, desemprego e esvaziamento do significado do trabalho, e doenças sociais como o SIDA e o consumo das drogas. Conforme os ensinamentos das Cartas Encíclicas Popu-lorum progressio e Sollicitudo rei socialis, proclama um humanismo integral com que a Igreja defende a transcendência da pessoa humana e com que dá continuidade ao diálogo ecuménico com outras religiões.
Mendo Castro Henriques
Dossier | Mendo Castro Henriques| 19/12/2006 | 13:04 | 4360 Caracteres | 181 | Dia Mundial da Paz
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