25.12.06

Votos de Natal, por Pedro Cem


Que este Natal seja isso mesmo, um ponto no horizonte. Como o do arqueiro Zen, como o Cabo da Boa Esperança, do marinheiro desesperado. E como tantas outras coisas. Nem Jesus nasceu no Natal, nem o solestício de Inverno comanda um Povo que nem tem Destino, nem carta astral. Bom Natal aos que sofreram intimamente tentando comprar uma prendita, com orçamento precário e ,ainda assim, ficaram mal com a consciência. Os que se sentiram mal ao ver os mendigos, mesmo que profissionais, na Baixa e os que se desalentaram com as notícias das inundações na Indonésia e com mais uma bomba em Baghdad, ou uma guerra novinha em folha entre a Etiópia e a Somália. Bom Natal ao Mendo, valente Mendo, piloto deste vôo nocturno pela tempestade, ao Misantropo Enjaulado, que mesmo que não escrevesse Posts tão úteis e bons, só pelo nome dava um estaladão neste Mundo; ao Sobre o Tempo que Passa, escritor bem livre; ao Boca de Incêndio, da Guarda da nossa Terra; ao Bar Velho, dum Estudante que se não calou; ao Manchas do meu amigo Mourão, sempre simples e sensível; ao Sesimbra e Ventos do António e do Pedro, que me dão saudades e a tantos outros que fazem esta "Democracia digital", em que fico contente, ignorante que sou, com a palavra democracia. Vá lá, ouçam mais uma vez o "Last Christmas" do George Michael, esse bom cantor, apesar de tudo, que escreveu o "Like Jesus to a Child", embora a canção de Natal, vos possa ja invocar um Amor impossível ou até a Empregada da Tabacaria. Natal de contradição, de provação, de aturar às vezes pessoas que não o merecem, e ainda sair mal agradecido, ficar bloqueado no aeroporto, ou no combóio, fazer figura de parvo como num quadro de Edward Hopper, por essas ruas vazias.
Acho que Jesus teve hoje um bom presente e não podia James Brown morrer senão no dia de Natal; James Brown, esse menino pobre da Bronx, que ficou sempre pobre, apesar do dinheiro que tinha e que tentava dedicar, nos tempos de sorte, à gente da sua condição como um exemplo de fazerem alguma coisa boa na vida, a qual ele dificilmente conseguia endireitar. Decerto que ninguém dançava como ele, dançando sózinho como o pobre bêbedo que converteu Santo Agostinho, ninguém dançava como ele e foi certamente o que este Rei Mago, Belchior, deu na sua última romagem ao Deus-menino.
Isso mesmo. Sing Loud, I have a Soul and I'm proud.
E se não acreditas que tenho uma alma, olha bem para os meus pés.
Tenho a certeza que num quadrante do céu -- para quem quiser ver -- estarão em exibição contínua, para sempre, os filmes dos irmãos Marx e os musicais de Kelly e Astaire, os filmes todos do Tótó e, a partir de hoje, os concêrtos todos do James Brown.

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