19.7.06
Deus, não sujes as minhas mãos de sangue!, por André Bandeira
Quando Zidane deu uma cabeçada no peito do jogador italiano, todos se retiveram como quem assiste a um gesto dos deuses do estádio. E começou ali outro desafio que já vinha de antes, que sobreviveu depois. A mãe de Zidane divulgou uma receita sobre moelas, a propósito. Todos perguntaram se Zidane tinha ouvido a fórmula da bomba atómica ou uma surata dum Livro Sagrado ou um pregão genealógico, coloquiando os ouvintes, depois, sobre até que grau de parentesco.
Mas todos continuaram a seguir este desafio, porque parece que, quando nos fascinamos com pudins nas montras, com corpos bem-feitos nas Televisões, com carros de luxo e com efeitos especiais no Cinema, o único direito humano que reconhecemos, é o direito à explosão.
Aí estão os homens exercendo o seu direito à explosão, mais uma vez, cabeça ao peito, peito à cabeça, escudo ao dardo, dardo ao escudo. O direito à explosão não é a explosão, embora ela mate e estropie dezenas de pessoas por dia. O Direito é essas costas direitas e sabor a sal que fica na boca depois de se explodir.
Oh, Senhor Buda, Príncipe dos vagabundos, dá-me a realização do rio que corre, a mansidão do Sol que se apaga e se volta a acender, a brancura da mão do pedinte. Nada em mim expluda ou impluda, o vento me agregou como as nuvens do céu, o vento as dispersou. As minhas mãos não ficaram sujas de sangue. Nunca terei os olhos verdes daquela bela Mulher ao pé dos meus, mas eles foram belos na mesma e iluminaram o Mundo. E em dois pardais se transformaram...o seu riso ecoa eternamente pelos ramos do Tempo.
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