29.7.06

Gilead! Gilead!, por André Bandeira


Erev tov Gilead, onde quer que estejas, Adonai, shalom sheLo im ata…foste caçado quando andavas à boleia. Eu percorri tantos lugares à boleia, com o Sérgio Venezuelano, com o Gustavo, com o João de S.Tomé. Se nos tivéssemos encontrado talvez também andássemos à boleia juntos. Caminhos de pobre maçarico, caminhos de Deus…

Agora que estás numa cova do Hamas, com as bombas a explodirem ao lado, deves ter as dimensões que temos do nosso pobre corpo. Sabes que arrebentou um petroleiro no mar do Líbano? E o mar, amor azul se fez negro. Somos aquele pequenino caranguejo na maré negra mexendo as patitas como o Pianista do Ghetto, à procura da voz de Deus que soa entre duas teclas. Não diziam os mártires do Holocausto « Apesar de tudo, música ! « ? Como aquela canção yiddish em que um pobre Gilead como tu e eu, recordava ter dançado um dia num salão com lustres, a amada junto ao peito, e depois saíu e viu uma arvorezinha, pequenina como nós, toda florida . Há dias de sorte, até para um Judeu, como eu e tu. Como são pequeninas as maravilhas da vida. Talvez te sintas como Mordechai Vanunu que passou treze anos na solitária por ter gritado ao Mundo que o teu Israel tinha a bomba atómica. Porque era o seu Dever. O seu Dever. Mordechai, sim, como o insubmisso do ghetto, porque não se tem um nome impunemente, nas praias de Israel.

Possas sair Gilead, desse buraco, possas passar entre as bombas e as armas, como o nosso Povo pelo Mar Vermelho. Não quero voltar ao Egipto, não quero voltar ao Egipto. Agarro-me a esta Aliança como a um tronco, perdoem-me não ver bem. Se não houvesse Deus, se Deus morrese, se tivesse ido para um lugar de onde não volta, ainda me agarraria ao seu tronco, porque talvez o universo se comovesse e Deus voltasse. Como aquele macaquito abandonado que se agarrava a um urso de peluche arrebentado.

Passou mais um shabbath, apaga a vela que não existe. Agora acendo-a eu, num lugar onde procuro todos os Domingos um Messias que era pobre e azarado como tu. Sobreviverá esta humilde chamazinba? Para o ano que vem, lá nos vemos em Jerusalém.

No comments: