16.7.06

Quem era Basayev, por Pedro Cem

Um dia conheci um checheno, na Jordânia. Rapaz novo, enorme, de pernas grandes como duas colunas, olhos e cabelo ligeiramente claros, uma voz humilde, tranquila, retida. Tinha uma posição qualquer na Administração jordana que se via bem que era um lugar na caravana beduína, dada por ser órfão de tudo menos de Allah. Ele não era daquele lugares, nem daquelas temperaturas, não dançava se calhar à mesma música. Contudo, falava-me do lado de lá duma barreira, porque eu representava o Ocidente e ele tinha encontrado refúgio entre os seus Aliados, num lugar longínquo, sem árvores. Por fim entendemo-nos quando, depois de nos enumerarmos todos os nossos acidentes, concluímos de cabeça baixa, pensativos, que éramos ser humanos, do Planeta Terra. E assim dissemos adeus.

Basayev morreu. Já tinha um pé no outro lado. Nascera para morrer assim. Segundo o seu comando, por pisar uma mina por engano, entregou o que faltava ao Criador. O Comando tinha razão: os Serviços secretos russos apenas espalharam mais umas minas e, desta vez, uma acertou em gente importante. Mas Bassayev tem sucessor, Omarov, capaz de fazer tanto mal como na escola de Baslan, abraçando-se nesse amplexo fatal, malévolo mas cheio de balalaikas e amores românticos com que os modernos opričnicky se abraçam aos misteriosos vostokskyludi, como os nossos franceses nas Arabias, ou os nosso David Crockett no Faróeste, aos nativos e miscigenados cheios de magia. Que chorem as mães.

Não duvidem que, entre milhões de muçulmanos Basayev é um herói de pele clara e Omarov, um ruivo herói viking que se juntarão ao « Olimpo universal » do Deus único. Não duvidem que eles já cultivam o seu Forte Alamo, uma derrota que é vitória futura, na revolta em 2004, de Mazar-i-Shariff, onde durante três dias « cem túlipas negras » (como ficaram conhecidos quando os seus cadáveres ficaram abandonados e enlaçados no pátio da prisão porque a Aliança do Norte tinha medo dos fantasmas que sairíam da masmorra) mantiveram as tropas especiais norte-americanas em respeito, combatendo num metro de água gelada que lhes foi injectada, como Kubis e Gabchik na Praga de 1943, com cadáveres a flutuar e escrevendo versetos do Corão, a sangue, na parede. Entre eles, combatia um jovem de boas famílias americanas, John Walker Lindh.

Tudo o que se passa nos outros lados, são apenas batalhas do que eles crêem ser o Armagedão. E Putin não matou o seu Bin Laden. Só uma Liberdade cínica resolveria isto com a morte dos Bin Ladens. Uma civilzação julga. E divinamente, não condena à morte.

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