23.7.06

O direito à auto-terminação, por Pedro Cem

A Ministra dos Negócios Estrangeiros de Israel é uma mulher bonita de se ver. Tem umas madeixas loiras sempre a caírem sobre o rosto que ela tem de afastar com as suas mãos longas, cinematográficas. Tem uma ar pouco à-vontade, com as suas roupas sóbrias, de cerimónia satânica numa Universidade da Nova Inglaterra... quero dizer, meio de rapaz, típicas dos pubs de encontros simpáticos, em Greenwich Village, Nova Iorque.
Disse ela ontem, que um Estado que não consegue sancionar a sua soberania dentro das fronteiras ou onde existem grupos terroristas dentro do seu território, ou milícias, não pode ser aceite. Receitou bem a cartilha. A Espanha tem um grupo terrorista no seu território, o Reino Unido também, o Governo de Bagdhad tem de lidar todos os dias com várias milícias, o de Kabul fê-las renascer para segurar a polícia. Existem milícias, constitucionalmente, nos EUA. E acrescenta Gideon Meir, porta-voz do MNE israelita, que a ameaça do Hezbollah, diária, sobre o povo de Israel, essa é que é desproporcionada. Ai que alucinação do Sr. Geir não tem proporção!
Parece-me que a Sra. Livni não está à vontade nas suas roupas. Tem um ar distinto, quase frio, mas um sorriso caloroso, e aquelas mãos nasceram para afagar (já agora um homem que não esteja, correlativamente, vestido de roupas femininas).
Espero que ela vá amar alguém, ser bonita para um jardim, escrever poemas ou fazer filmes e que experimente um desses vestidos claros e longos, à moda de Israel, que lhe fica muito bem. Não sonhe ser Golda Meyr, que não nascera tão bonita.
Tenho pena que queira ser homem, de tão torcida que é, num cargo onde os homens tentaram aprender com as mulheres. Como se o direito à auto-determinação do Líbano, da Espanha ou dos EUA seja equivalente a escolher entre matar em segredo ou não dormir de noite, com bombardeamentos colaterais e parando aviões com prédios cheios de inocentes.
A Sra. Livni, se calhar, não deve gostar do próprio pai pois nãO nascíamos se os nossos pais não interferissem entre si mas também não crescíamos se eles não nos deixassem, depois, em paz. A Sra. Ivni não vai parar enquanto não encontrar uma pose definitiva frente às câmaras, ou enquanto não for homem. Irá à Síria e ao Irão para cantar, com voz de veludo, que "não é aceitável", acompanhada ao órgão Estaline. Os seus promotores julgarão que nos enganam com a lógica da guerra preventiva (que é um jogo de suposições como o foi a dissuasão nuclear) para evitar piores males. Como se tudo não estivesse programado, há muito tempo, para arder em toda a região, ao som da tabuada da democracia, ou do ditado militar. E ainda querem envolver a comunidade internacional neste fogo regional, para o qual têm muitos litros de gasolina.
Em breve teremos um Grande Iraque onde a arma é o voto do povo, com eleitores passivos e activos, idos nas urnas, todos os dias.
Realmente a solução é a mesma que já ouvimos na Alemanha dos anos 30: sem a auto-terminação de todos os colaterais, sem os colaterais todos a irem como cordeiros para o duche, não haverá auto-determinação dos especiais, nem pureza de sangue. Auto-determinação, já agora, até da antiquada condição de mulher.
Assim, uma destas noites, um médico vai decretar ao modo do general que quer deixar o Líbano, o Irão, o Iraque e a Síria em vida vegetativa: que se desligue uma máquina para ligar outra. Ora já não é a cabeça de Sharon que pensa, mas a máquina. Se já sabíamos que não se pode pensar como os ideais, os ideais têm de pensar como nós e liga-se à máquina quando a nossa mente estoura. A vida é como é, faça-se a comparação, tire-se a metáfora: a vida, como é. E depois, vá-se mais longe: a vida é como...ou "é a vida!".
Vivemos um sonho, em que não se acorda da magia do palavreado. Por isso se tem que ligar a cabeça à máquina. Faz-se-lhe uma máscara mortuária e, sem honra mas com glória, metemo-la num busto.Tínhamos a cabeça suja de sangue, o nosso pensamento afogava-se no sangue, guardámo-la numa urna de pó. E só resta aos mortos-vivos este sonho de sarcófago, de ter um calhau erguido, em que o alívio de tanto sangue é a areia que lavará o busto do nosso cérebro em curto circuito, quando o vierem derrubar. Cairá como a ânfora romana, herméticamente fechada, que só tinha dentro, afinal, ar e pó...
Ah, zombies vaidosos, loucos de posar, sem lugar onde descansarem a cabeça!

1 comment:

A Vilhena said...

Porque carga de água, sempre que se verifica o bombardeamento de qualquer cidade ou lugar do Líbano há senhores jornalistas que
referem/afirmam/explicam/justificam/desculpabilizam dizendo que se tratou de um ataque a um bastião do Hezbollah.

Veja-se no dicionário:

bastião
do Fr. bastion
s. m.,

trincheira;
muro que serve de anteparo ao ângulo saliente de uma fortaleza;
baluarte;
sentido figurado reduto; sustentáculo.

Fico impressionado com sabedoria que exalam.. Como é que eles lograram saber/divisar/descobrir/investigar/adivinhar que aquelas cidades ou lugares são:
um muro do Hezbollah;
uma trincheira do Hezbollah;
uma fortaleza do Hezbollah;
um baluarte do Hezbollah;
um reduto do Hezbollah;
um sustentáculo do Hezbollah;

Deixo aqui algumas hipóteses explicativas para tanta sapiência. Escolha aquela que lhe parecer a melhor (ou a menos má...!!!):
* porque são bem informados
* porque foi a informação que colheram no local
* porque são os dados de que dispõem
* porque consultaram o CIA Fact Book
* porque perguntaram ao Mossad
* porque se não fosse assim... Israel não atacava
* porque pesquisaram na net
* porque toda a gente diz isso
* porque tinham de dizer qualquer coisa
* porque estão a gozar connosco
* porque nos estão a chamar parolos
* porque...

Mãezinha...!!!

António Vilhena