22.7.06

Fatuma, por André Bandeira

Dizem que havia e há uma Fathima negra que incita as viúvas chechenas a morrerem em combate. Este ciclo não tem fim e arrasta-nos com melopeias de sereia para a cegueira total, porque o negro das fátimas negras nos dá relâmpagos de luz na periferia do olhar. Isto porque o olhar não se semicerra, a respiração não pulsa com os pássaros, e o nosso interior não repousa na sombra, em equilíbrio com a luz de fora, acendendo uma candeia quando a noite vem. O Buda histórico não recolheu ainda as pernas e depôs os braços no núcleo da nossa matéria, quando o devia ter feito há muito tempo, como a velha capela no centro da nossa aldeia. Pelo menos para os que não passam nesta vida impunemente, abraçando-se ao veludo negro.

Assim…lembro-me duma bela Mulher que não tinha bem consciência disso e me pregava a licenciosidade. Era casada e mãe. Tive de fugir dela durante muito tempo. Como muitas outras, não me perdoava, eu não me ter sacrificado no altar do suor e das lágrimas, dos sangues menstrual e sacrificial, em suma, de não ter feito o que ela queria, mesmo que ela não o soubesse bem o quê. De repente, o homem larga à tareia na mulher e não se liberta de nada, apenas a liberta a ela de todo o Poder que tem, só por uns instantes. Todo o meu amor a uma Mulher ideal, feito de compreensão mútua e elevação não é para esta Fathuma negra. Na verdade é pôr-me a correr semi-nu na savana, à frente das leoas que acordam com a Lua.

Ora o mundo está cheio deste sabor a desdém de várias mulheres que juraram vingar-se e que embruxam afanosamente. Contudo, as Fátimas negras buscam o direito ao amor e à paz, morrendo gazeadas no ombro do jovem terrorista que não acredita, nem a faz acreditar que há setenta jovens à espera deles no paraíso. A luta pela Liberdade nasce nos extremos do Islão mas o seu bálsamo não se sente e o cinismo gelado de certa gente em Israel satisfaz-se em organizer esta carnificina, abanando as chamas de uma fogueira perpétua. Há pessoas inocentes a morrer, quando tinham laboriosamente canalizado e saneado a paz. Na festa informativa não lhe damos nem um milésimo da atenção que daríamos ao nosso avô, nos cuidados intensivos do hospital durante a canícula. Tudo em nós é colateral como uma alucinação de drogado. A empresa do ódio gera a opressão da frieza. A frieza gera a orgia do festejo.

E por trás disto tudo, há uma Fatuma negra que se vestiu de côr-de-rosa, incitando-nos desgovernada a que a mordamos. Para que ambos caiamos na lama com ela, já que não a podemos amar. Valha-nos Sta. Teresa de Ávila.

No comments: