Após o regicídio de 1 de Fevereiro, as forças radicais desencadearam uma campanha fortíssima do «culto dos regicidas» em que os autores reconhecidos do crime foram glorificados, sem que quaisquer imposições das autoridades o tentassem impedir. Essas manifestações organizadas e persistentes prolongaram-se durante alguns anos, até se esgotarem já depois do 5 de Outubro com a cisão entre as facções do PRP e os choques com os anarquistas.
Como tudo o que resultava da colaboração entre as forças radicais, a campanha foi montada sistemáticamente e com enorme rapidez e poder de mobilização. Quanto menos crédito e verosimilhança tinha a versão do atentado isolado, mais ruidosa se tornava. Alfredo Costa, o jovem caixeiro, e Manuel Buíça, o ex-sargento de Cavalaria tinham sido carbonários, com ligações à loja maçónica loja “Obreiros do Futuro” e fanáticos de António José de Almeida. Tanto bastava para que estas e outras organizações em rede por ela patrocinadas convergissem na manobra do “culto dos regicidas” com uma conivência e passividade do Governo que impressionou os observadores. O PPR aplicava a táctica de Brito Camacho: “Quanto mais liberdade nos derem, mais haveremos de obrigá-los às transigências que rebaixam ou às violências que comprometem.”
Os diários radicais - já sem a censura imposta por João Franco - deploraram o destino dos assassinos e não tiveram palavras de piedade para com as vítimas régias. O Mundo abriu nas suas colunas uma subscrição em favor da viúva e órfãos de Manuel Buiça que rendeu 64 contos de reis, uma quantia ao tempo fabulosa. Houve propaganda levada a cabo nas escolas.Uma subscrição pública foi aberta pela Associação do Registo Civil que patrocinou o funeral dos regicidas; os regicidas foram glorificados, e cobertos de flores os seus covais no cemiterio do Alto de S. João. Promoveu ainda a construção de um monumento na campa dos mesmos, da autoria de Julio Vaz, em plena via e junto ao túmulo do anarquista Heliodoro Salgado.[1]
O acto culminante da campanha foi o que o Conde de Arnoso chamou «a vergonhosa e vil peregrinação ao cemitério». Associações, grémios, delegados de diversos organismos radicais, redactores de diários das esquerdas desfilaram, previamente convocados, diante dos túmulos dos regicidas, depositando ramos de flores, coroas, e fitas com inscrições laudatórias. Nas montras das lojas da Baixa, em bilhete postal e em retratos, os regicidas tinham lugar de honra. E ainda Museu da Revolução, inaugurado apos a implantação da Republica, o capote de Buiça e as armas que ele e Costa tinham utilizado encontravam-se em exposição como relíquias de dois mártires.[2]
Qualquer regime que se abandona sem defesas, está perdido. A opinião pública constatou que o Governo se abstinha de qualquer censura ou proibição ao “culto dos regicidas” e que os inimigos redobravam de insolencência. A Marquesa de Rio Maior solicitou a Ferreira do Amaral que pusesse termo àquela vergonha. «Agora - respondeu-lhe o Presidente - só penso em acalmar os ânimos». The Times escreveu: «O mundo civilizado observará, provavelmente, que os senhores assassinos é que mandam». A grande massa dos versáteis, num primeiro momento indignados pelo crime, achou inútil mostrar-se mais intransigente que o governo.
Qualquer regime que se abandona sem defesas, está perdido. A opinião pública constatou que o Governo se abstinha de qualquer censura ou proibição ao “culto dos regicidas” e que os inimigos redobravam de insolencência. A Marquesa de Rio Maior solicitou a Ferreira do Amaral que pusesse termo àquela vergonha. «Agora - respondeu-lhe o Presidente - só penso em acalmar os ânimos». The Times escreveu: «O mundo civilizado observará, provavelmente, que os senhores assassinos é que mandam». A grande massa dos versáteis, num primeiro momento indignados pelo crime, achou inútil mostrar-se mais intransigente que o governo.
Os mais comprometidos nos eventos do 1 de Fevereiro - como José de Alpoim, um dos instigadores do assassinato - mostravam-se em público sem se expôr a incidentes desagradáveis. O regicídio começou a parecee desculpável, a partir do momento que o govermo, apesar de instaurar o processo, renunciava à retaliação política (96).
Mas se o culto provocador dos regicidas desmobilizou boa parte da opinião pública e impressionou o mundo político, em contrapartida exasperou sectores que sempre tinham revelado lealdade ao rei, nomeadamente o exército. Correram rumores de golpe entre os oficiais das guarnições de Lisboa, exasperados com a inacção do poder e com as provocações sucessivas. A unidades foram confinadas nas casernas e ninguém surgiu a liderar o movimento. Talvez por isso, algumas semanas após o atentado uma centena de oficiais e sargentos foram saquear os escritórios do jornal O Mundo, abertamente republicano. Se D. Manuel II tivesse legitimidade para contrariar a politica do governo e agisse resolutamente contra as froças radicais orquestradas pelo PRP, decerto teria o apoio de todo o exército. Os quadros subalternos do exército, em particular, ficaram desiludidos com a inacção e foram aliciados para a causa da revolução onde se iriam distinguir os sargentos na Rotunda.