31.3.05

Merecido êxito de José Adelino Maltez

Estive no lançamento nesta quinta-feira, dia 31 de Março, na Biblioteca Municipal do Palácio Galveias, em Lisboa, do 2º volume do "Tradição e Revolução", a biografia política de Portugal, de 1910 a 2005. A edição da Tribuna da História, fica com dois volumes com 1500 páginas. A apresentação de Marcelo Rebelo de Sousa foi muito sentida e inteligente. A obra, disse é indispensável, e constitui como que os Anais do Portugal Contemporâneo. O autor, afinal, é um reformista e não um radical, e as suas simpatias e subjectividades são o nosso melhor guia nas sendas contemporâneas. Na sua intervenção, Jose Adelino MAltez provou por que razão é o mais lúcido analista actual da consciência portuguesa. O nosso problema é de organisação do trabalho, dos recursos humanos. A nossa classe política é dinásticamente viradeira, desde há muito. Em contrapartida, a educação generalizada na democracia permite aumentar os recursos onde iremos buscar os nossos representantes.

Concordo com tudo e, por isso, nada mais acrescento senão que fico contente de ter indicado o livro para ser publicado na colecção que dirijo com o José Adelino e o Artur Morão. E deixo as palavras do, livro:

" Neste segundo volume, abrangendo os períodos da I República, do Estado Novo e da chamada III República, do abrilismo a Sócrates, há uma introdução onde se tenta uma caracterização do Portugal contemporâneo, ou a tradução em calão do jacobinismo concentracionário; um elenco dos erros sem tragédia na constituição a que chegámos, ou a procura das leis fundamentais; a teoria do revolucionarismo permanecente, ou a procura frustrada da Idade de Ouro; o elenco da guerra civil fria, ou as sociedades secretas e a questão político-religiosa; e um balanço do compadrismo e da corrupção.

De resto, um império que já não há, uma língua que é futuro, dois regicídios, outros tantos magnicídios, três guerras civis, campanhas de ocupação e guerras coloniais em África, uma permanente guerra civil ideológica, três bandeiras, uma guerra mundial, seis constituições escritas, sete presidentes eleitos pelo povo, oito monarcas, a separação de nove Estados independentes e, muito domesticamente, quinze regimes, com duas monarquias e três repúblicas, sem que voltasse D. Sebastião, apesar dos heróis do mar e do nobre povo. Mais: oitenta eleições gerais, cento e vinte e tal governos, 13 233 dias de salazarquia, duzentas turbulências golpistas, cinco revoluções, outras tantas contra-revoluções, com restaurações, nostalgias, utopias e reviralhices. Oito dezenas e meia de chefes de governo, cerca de meio milhar de partidos e facções, várias congregações e outras tantas maçonarias, muitas fragmentações de um todo que resiste, com mais de cinco mil factos políticos seleccionados. E sempre a frustrada modernização de um Portugal Velho que quis ser reino unido e armilar, entre antigos regimes e jovens democracias. Graças à balança da Europa: desde El-rei Junot ao estado a que chegámos, com passagem por Évora-Monte, Gramido, Ultimatum, Grande Guerra, neutralidade colaborante, Vaticano, CIA, KGB e integração na CEE. Sobretudo, um povo sem rei nem lei e até sem sinais de nevoeiro."

O GAO sabe o que quer

«Eles não podem restaurar a ponte porque é património nacional», frisa Carlos Luna, (GAO) um descendente de bascos e de oliventinos, que sente todas as iniciativas espanholas como tentativas para apagar a presença portuguesa em Olivença. Dá-se, por isso, ao trabalho de produzir constantemente instrumentos de divulgação da cultura e história portuguesas. Isto porque, alega, as crianças da margem esquerda do Guadiana aprendem que Olivença ficou sob tutela espanhola devido ao dote de uma princesa ou em troca de Campo Maior. O próprio alcaide afirma que, depois da invasão do Alentejo, Espanha devolveu «o que não interessava» e ficou com Olivença.
Cerca de 400 oliventinos, numa população de 11 mil habitantes, já ouviram os originais de Zeca Afonso, Vitorino, António Barroso e Delfins. Tudo graças a Carlos Luna, que, pela calada da noite e quase como que numa actividade clandestina, oferece aos jovens de Olivença cassetes em português, com música ou com a história de Olivença. «As pessoas têm medo de ser vistas connosco», diz.

27.3.05

COITADA DA SR.ª SCHIAVO


Coitada, em bom português vem de cuidar. Ou, seja, há aqui um problema de cuidados públcos de saúde e outro de caridade pessoal. Qual é o preço de uma vida e de um ser humano inerte? É bom que as respostas sejam publicitadas. Tudo vai depender das tendências sociais.Se os americanos querem suportar as muitas Sr.ª Schiavo do futuro, têm que manter e reforçar a Segurança Social. Se querem fazer cortes, como os republicanos dizem, não se queixem do marido de Schiavo. Os custos para o marido da Sr.ª. Schiavo mais os dólares gastos pelos concidadãos excederam já $1 milhões. Os fundos da família que a suportam são de cerca de $100.000 por ano. Nos próximos anos os EUA terão de pagar milhares, talvez mesmo milhões, de Terri Schiavos.Entretanto, o líder Republicano Tom DeLay bate no peito em nome da intervenção federal para manter viva a Sr.ª Schiavo; e denuncia os Democratas que não aceitam o corte de $15 bilhões federais em cuidados de saúde até 2010. O jornalista Dan Henninger perguntou bem se DelAy estava já a arrancar os tubos de alimentação de muitos milhares de doentes e moribundos nos anos futuros, enquanto berra hipocritamente pela vida de um cidadão.As sondagens mostram que 80% dos americanos opõe-se à intervenção federal para alimentar Schiavo conquanto simpatizem com o marido e pais. Com tantos interesses em jogo, a única maneira de decidir é nos tribunais, que têm tomado o partido do marido. Não gosto da solução, muito dolorosa, mas é melhor que o moralismo duvidoso dos republicanos. Coitada da Sr. ª Schiavo: é uma tragédia, em que os dados já estão lançados.

22.3.05

A lição de Moshe Dayan


Estão na moda as comparações entre Vietname e Iraque. O historiador e estratega Martin van Creveld tem uma grande lição a dar, baseado na experiência do genial Moshe Dayan, que visitou os EUA e o Vietname no ano longínquo de 1966. As conclusões de Dayan, em Agosto de 1966 quando retornou a Israel foram publicadas no jornal Maariv.
Creveld considera que as semelhanças são mais importantes do que as diferenças.
1) O problema operacional mais significativo das forças americanas o Vietname era a falta de Informações para distinguir entre o inimigo e população civil. No Iraque também.
2) Segundo Dayan, a campanha para conquistar corações e mentes falhava. Muitas dos números não se confirmavam. No Iraque também.
3) Para Dayan, os americanos encontraram-se na posição infeliz de bater no mais fraco. A comparação com a guerra actual no Iraque é flagrante.

Um adulto que bata numa criança de cincos anos será acusado de cometer um crime. Uma força armada que bata num oponente mais fraco será vista a cometer uma série dos crimes; perde o apoio dos seus aliados, de seu povo, e de suas próprias tropas. Dependendo do carácter das forças (conscritos ou profissionais), a eficácia da máquina do propaganda, a natureza do processo político, e assim por diante, este resultado pode chegar mais tarde ou mais cedo. Mas é sempre o mesmo resultado. Quem não compreende isto não compreende nada da guerra nem da natureza humana.
Ou seja quem luta contra os fracos e perde, perde. Quem luta contra o fraco e vence, perde também. Matar um oponente mais fraco é desnecessário e cruel; deixar que o oponente mate, é desnecessário e louco. Como o Vietname prova, nenhuma força armada, mais rica, mais poderosa, mais avançada, mais motivada, é imune a este dilema. O resultado final é sempre a derrota. Segundo Martin van Crefeld, a aventura do Iraque terminará como a anterior – as tropas americanas a sair do país agarradas às calhas dos helicópteros.

George F. Kennan - 1904-2005

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Na morte de George F. Kennan. 18 de Março de 2005
Memorandum to Dean Acheson on Far Eastern policy. August 21, 1950
http://www.trumanlibrary.org/whistlestop/study_collections/korea/large/sec3/kw149_1.htm

“O teste significativo das nossas instituições públicas não é a sua adequação às exigências da república agrária de fronteira para que foram projectados originalmente, mas antes a sua capacidade de conduzir a sociedade através das vicissitudes da mudança social e económica e continuar a fornecer uma estrutura bem sucedida para o progresso de uma sociedade onde o desenvolvimento da tecnologia cria tensões cada vez maiores na estrutura da autoridade pública.
Esta é a questão do tempo presente, ainda por decidir. Até estar decidida (e nunca estará inteiramente, num mundo em mudança e imperfeito), a nossa adesão às nossas próprias instituições deve permanecer, legitima e compreensívelmente, um acto de fé, e não uma experiência pragmática. Enquanto assim for, qualquer tentativa da nossa parte em recomendar as nossas instituições a outros aproxima-se perigosamente das tendências messiânicas das ideologias políticas militantes que dizem, de facto, "devem acreditar porque nós acreditamos."..."

18.3.05

Bravo Castela Santos

Belo artigo de Rafael Castela Santos – um daqueles espanhóis que conhecem e estimam Portugal – como o falecido Francisco Elias de Tejada ou o muito vivo comillense Miguel Ayuso - que tem sido distribuido via net: CONTRA EL IBERISMO: APUNTES PARA UNA EPIFANÍA IBÉRICA. Contra la unión de Portugal y España: Hacia una metapolítica conjunta luso-española.
O longo título e sub-título é todo um programa. Também se poderia ter chamado A ALIANÇA PENINSULAR, na linha de António Sardinha aliás citado abundantemente no que de mais livre e perene possui. Castela Santos explica por que razão houve, e haverá, uma estratégia conjunta luso-espanhola contra inimigos comuns que nos querem dividir. São preciosas as suas indicações de que mais do que invasão económica Espanhola em Portugal, existe escorrência do capital internacional através de empresas de nome espanhol e madrileno e catalão.
Indicações doutrinárias de Jesús Laínz sobre os nacionalismos espanhóis,
http://www.ediciones-encuentro.es/Shop/Detail.aspx?id=574
Sobre a imagem recíproca de ambas as nações nas historiografías oficiais de ambos os países ver http://www.gitextremadura.com/agora/agora2001/academia2.pdf

3.3.05

Guerra de Quarta Geração

A ameaça que a América enfrenta não é apenas terrorismo, que é afinal uma técnica de guerra. A ameaça é a chamada guerra da quarta geração, um fenómeno mais amplo, analisado por estrategas como Martin van Creveld (ISR), o coronel John Boyd e William S. Lind (EUA). A guerra da quarta geração marca a maior mudança qualitativa na conduta da guerra desde a paz de Vestfália de 1648. Tem três características centrais: 1) A perda do monopólio do estado na guerra e na lealdade primeira dos cidadãos e a ascensão de entidades não-estatais que comandam a lealdade de grandes grupos. Estas entidades podem ser religiões, raças, grupos étnicos, localidades, tribos, ideologias e mesmo multinacionais; as variedades são quase ilimitadas; 2) O retorno a um mundo de culturas em conflito, e não meramente de estados; 3) a manifestação do declínio do estado e a ascensão de novas lealdades em todo o mundo, no Ocidente e no Oriente, na Europa e na América.
Nenhuma força armada estatal sabe derrotar militarmente os oponentes da quarta geração. Politicamente, a característica mais fundamental desta guerra , é a crise de legitimidade do estado, que não é reconhecida em nenhuma capital nacional. Combinados, estes dois factos tornam a maior parte dos Estados vulneráveis a esta guerra.