21.11.08

Crise nas Universidades Públicas

Crise nas Universidades Públicas
O ministro Mariano Gago, admitiu que existem maus gestores nas universidades públicas. E logo a seguir acrescentou que confia na autonomia universitária.

A autonomia assenta em três pilares – o financiamento, a avaliação e uma realidade mais difícil de definir a que podemos chamar o carácter humanista do ensino e da investigação. Quanto ao financiamento do ensino superior público a despesa aumentou muito com a contribuição de 11% para a Segurança Social. Várias Universidades entraram em rotura financeira, situação que umas enfrentaram com reforços orçamentais e outras utilizando os saldos de receitas próprias. Mas como entre 2005 e 2008, as dotações diminuíram, em percentagem do PIB, cerca de 16%”, a situação é insustentável a médio prazo. Por isso, os ex-reitores escreveram ao órgãos do poder a apelar por uma revisão da actual política de financiamento.


Mas os ex-reitores não falam que a universidade que aspira à produção, transmissão ou a aquisição de um saber autónomo em relação ao poder e ao dinheiro tem que ser governada pela investigação da verdade mais do que pela utilidade. Tal é o núcleo vivo de qualquer universidade. Se este ideal universitário é obsoleto, deite-se fora e façam-se escolas superiores. Qualquer das 10 melhores universidades americanas tem um orçamento supeiror a duas vezes todo o orçamento do ministerio português do ensino superior. Mas a força das universidades americanas, para além dos seus meios financeiros, é que souberam favorecer a dimensão antiutilitária, interdisciplinar e humanista do saber.

9.11.08

A finalidade do Estado é a liberdade


Amsterdão vai homenagear um dos seus filhos mais famosos: o judeu lusodescendente Bento de Espinosa (1632-1677), filho de agricultores de Beja que escreveu que “A finalidade do Estado é a liberdade”. A frase estará no pedestal da estátua a inaugurar a 24 de Novembro, dia do aniversário, no Zwanenburgwal onde ele viveu. Mas Espinoza ainda causa controvérsia O mayor de Amsterdão, Cohen, quer fazer o filósofo tão emblemático de Amsterdão como Erasmo é de Roterdão.
O monumento por Nicolas Dings é uma representação em granito de um icosaedro - um globo de vinte triângulos idênticos que simbolize a idéia do universo como um modelo cuja forma é dada pelo intelecto humano. A representação figurativa de Spinoza tem uma capa decorada com pardais, periquitos e rosas. Os periquitos são os animais de estimação exóticos nas árvores de Amsterdão visto que o pardal holandês está a desparecer. Os pássaros são símbolos de Amsterdão como uma cidade emigrante. As raizes Portuguesas-Judaicas do filósofo fazem dele um imigrante.
As suas idéias na tolerância religiosa e de liberdade de expressão são mais relevantes agora do que nunca quando o medo do fanatismo islâmico e o terrorismo aumentam a pressão. De acordo com Espinoza, Deus não tem num plano, está na natureza, e a Bíblia foi feita poelos povo. No seu Tractatus Theologico-Politicus (1670) escreveu: “Amsterdão progride por tudo o que a liberdade pode dar. Aqui, povos de todos os credos vivem em paz.

8.11.08

X -(Re)Leituras: A Roménia depois de 1989, de Catherine Durandin e Zoe Petre, por André Bandeira

Um livro de duas historiadoras, sendo Zoe uma antiga conselheira do ex-Presidente de Direita, que tem hoje um partido irrelevante, Emil Constantinescu. O livro defende uma tese que toda a gente receia: que a Roménia, de todos os países da antiga Europa de Leste,foi aquele onde os membros do Partido Comunista, com o seu cortejo local de corruptos e tiranos, melhor se adaptaram. E equacionam o caso do seguinte modo: Ceausescu era realmente independente de Moscovo (tese contestada pelos historiadores russos e pela Espionagem norte-americana), de tal modo que Gorbachov teve mesmo de o mandar abaixo. Neste sentido, uma massa de militares, de agentes secretos (Securitate)e de pessoas com emprego ( inclusive os mineiros) se passaram de campo e serviram as cabeças do casal Ceausescu e uma espécie de Democracia, numa bandeja, aos russos. Mas, entretanto, Gorbachov era apeado e Moscovo passava do comunismo ao capitalismo selvagem. O que ficou? Ficou a capacidade de sobreviver, ficou uma velha Roménia que, em 1941, perdeu 200.000 pessoas a combater por Hitler, contra Moscovo e, em 1944, perdeu outros 200.000 a combater pelos Aliados contra a Alemanha, tudo isto para continuar a existir. Perdoem ser ignorante mas sempre pensei que a Roménia era a sul da Bulgária, porque esta sempre foi, pelo idioma e pela Igreja, muito naturalmente afeita a Moscovo. Ora a Roménia sempre foi muito romena,na sua diversidade, com os seus costumes, a sua música, o seu idioma. Mesmo os fascistas romenos, a Guarda de Ferro, eram os únicos fascistas que, apesar de terem cometido as maiores barbaridades, sabiam morrer, sem se moverem, debaixo de bala, por fidelidade ao seu comando e ao seu ideal que não era apenas violento.
Passeando pelo centro de Bucareste, em campanha eleitoral, dou esmola a gente boa que muitas vezes vejo em Portugal nos trabalhos mais humildes e topo com menos cães vadios do que os milhares que andavam livremente antes do presidente Basescu, então na Câmara, os limpar. Lembro-me do Rei Miguel que conheci nos seus modos simples e na sua permanente postura de saber ser digno perante quem o vai trair, a qualquer momento e de qualquer lado, mesmo da família, talvez até vendendo cara a pele, e renovo o meu amor por esta terra. A Roménia ligada ao solo, triste e nevoenta, com sóis orientais que arranja formas por vezes tortuosas de sobreviver. Na realidade, a Roménia apenas parece triste, para quem deixou de ver que as terras e os países foram compostos de pessoas, sobretudo de pessoas e por pessoas, antes de tudo. E sinto, no peito, que esta terra, nos seus vales, nos seus vampiros, na sua ingenuidade, nos seus pavores, nos seus ciganos que amontam a metade da alma romena, nos seus Cárpatos,se trata apenas dum enorme tesouro, algures nas traseiras da minha casa, a qual, sem ela, parecia um precipício sobre o Mar.