Esta madrugada vi um filme de vampiros. No castelo de Drácula, todos os que entram morrem de terror mas ficam lá. Finalmente alguém se revolta contra a atracção do Terror e tem mais ou menos sorte. O filme não acaba nunca, porque Drácula fica sempre. Há apenas mais um alívio.
Assim como no castelo de Drácula, tudo se pode discutir antes da ferradela eterna: a eutanásia, a ETA, a União Ibérica, o casamento entre Homossexuais, o ordenado do Cristiano Ronaldo, a extinção da vida na Terra por efeito de um asteróide, ou por efeito da Poluição, a fusão dos pólos e a emergência das ruínas da Atlântida. A eternidade da alma já não interessa muito porque faltam coxas e peitos grandes à Alma.
Drácula é a eternidade da Morte por oposição à provisoriedade da Vida. E, numa vida que nunca morre, todos soçobramos, atraídos pelo descanso da sombra, pelo correr do sangue pujante que enche e sempre flui do estômago vazio. Ninguém quer a desolação das cinzas, do fim, do esquecimento.
Acredito que há uma Razão para Portugal. Acredito que quem vive à beira do abismo do Oceano mais bravo da Terra, veio de muito longe, com peles de urso, olhos rasgados, cabelos vermelhos, ganhou membros altos flexíveis e pele negra, fez cair-lhes na íris duas gotas azuis ou verdes. Veio e ficou em todo o lado, esperando partir, por imposição duma procura constante. Os outros podem ter tudo: terras, belos e saudáveis corpos, crianças espertas cheias de graça, ideias finais, engenhos brilhantes, bênçãos de Deus, batalhas épicas com o diabo, reis e repúblicas, liberdade e autoridade, monumentos, catedrais. Nós poderemos às vezes ter o céu azul, a nossos pés, como uma colcha que nos cobre e afaga sempre precária. Nós temos o sorriso da tartaruga e do golfinho, de quem não percebe bem o que lhe dizem mas mesmo assim compreende. Os vampiros vivem nas grutas repletas. Nós vivemos nos precipícios como as gaivotas, por uns instantes, chocando os ovos nos abismos. O Sol é toda a nossa riqueza. O Mar é todo o nosso consolo.
Dos meus lábios tolhidos pelo frio, sussurro ainda, coroado pelos espinhos do sol e as gotas de orvalho das estrelas: esta é a minha Pátria muito amada.
31.7.09
13.7.09
OS BURROS
Antes de existirem blogues e blogueiros havia, no início do séc XIX, a folhinha volante onde no máximo de frente e verso se devia dizer tudo o que interessava aos asnos da época e com as asneiras datadas.
E assim vos deixo do truculento ex-frade José Agostinho de Macedo, a quem de todas as muitas qualidades que tinha só faltou a principal de ter génio, o prefácio de OS BURROS, que serviria de albarda a muitos blogues do séc. XXI.
"Para formar o encómio das burricaes qualidades d .V. Reverendíssima, desejara ter as frases e o juízo alvar de um quinhentista, ou de um Padre Foyos; mas destituído do tudo, só me fica a sinceridade de lhe dizer sem ofensa da sua religiosa modéstia, e sem encher a sua manjedoira do retraço abominável da lisonja que V. Reverendíssima não só é um pedaço d’asno, uma conhecida besta, um acabadíssimo burro e perfeitíssimo jumento, de quem se protesta sincero tangedor."
E assim vos deixo do truculento ex-frade José Agostinho de Macedo, a quem de todas as muitas qualidades que tinha só faltou a principal de ter génio, o prefácio de OS BURROS, que serviria de albarda a muitos blogues do séc. XXI.
"Para formar o encómio das burricaes qualidades d .V. Reverendíssima, desejara ter as frases e o juízo alvar de um quinhentista, ou de um Padre Foyos; mas destituído do tudo, só me fica a sinceridade de lhe dizer sem ofensa da sua religiosa modéstia, e sem encher a sua manjedoira do retraço abominável da lisonja que V. Reverendíssima não só é um pedaço d’asno, uma conhecida besta, um acabadíssimo burro e perfeitíssimo jumento, de quem se protesta sincero tangedor."
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