28.6.06
27.6.06
E depois de Bush?
E depois de Bush? Será o fim dos que querem impôr a democracia e a justiça globais à bomba e à porrada, dos que levam tudo e todos para mentir sobre uma coisa qualquer que até não tinha assim tanta importância para a sua causa, mas que, se calhar, escondia uma mentira ainda mais espantosa de que nem suspeitamos. Lady Di, como morreste..? Blair diz que Deus o julgará. Castro dizia que a História o absolveria. Castro sempre era mais humilde e Deus deu-lhe uma longa vida. Mesmo assim, não sei como vai acabar...
Depois de Bush, será o fim dos auto-convencidos, dos que ficaram sempre drogados, mesmo sem consumirem droga, graças a planos de reabilitação perfeitos. Talvez seja também o fim do abuso de Deus, de falar de Deus para todo o lado, como se fôsse uma conquista da técnica, ou um motivo de orgulho como termos ido à Lua, ou às cataratas do Niagara. Talvez nos lembremos antes de Jesus, do modesto S. Francisco que morreu tão depressa e do bom Frei Vassoura, humilde entre os humildes que levou o cãozito, o gatito e o pardal que partilhavam consigo o seu prato, para o Céu.Ah, e levou também a vassoura para nos varrer a todos, e ao Bush e ao Bin...talvez ouçamos melhor o Profeta, no que disse para resolver o dia-a-dia e em tudo o que não disse mas que se revelará com os tempos, no Sagrado Corão. E talvez o Deus de Israel nos conduza de novo, no silêncio, pelo Mar Vermelho...e descubramos o Buda dourado, escondido na forma do Sol entre as ramagens e ainda o Grande Espírito pairando, mesmo num vale onde já não há apaches a correr, excepto esse que se levanta de repente num cavalo gigantesco, na forma de uma nuvem...
E depois de Bush? Hillary Clinton, Al Gore, Sarkozy, um bom e abençoado descanso com os Conservadores britânicos, cujo General Michael Rose, valente como um soldado das Ilhas brumosas, teve a coragem de dizer “a Guerra no Iraque foi um crime”.
Mas até lá, os espertalhões não deixarão de querer agarrar melhor que o Viagra, de provar que a História é uma cabriola, um passo de artista, um “bonito”, de ficar contentes com que o Mundo arda ainda no Irão, para bem das suas teses e para bem das teses contrárias de outros artistas como eles. Que interessa que o Deco ponha a equipa em causa! O Deco é homem! É que o Mundo sou eu, e o meu peito, o Mundo é a minha desforra. Que se lixe a Morte! Depois não há nada!
E depois de Bush? Talvez um pouco mais de humildade, a começar pela Mulher e Mãe que diz que quer ser igual ( triste desejo!) e que acha que o seu filho deve ser Presidente!
Engraçado...a Senhora Bush, quando o seu filho foi dado como eleito provisoriamente, antes do Supremo tribunal dos EUA obrigar a repetir a contagem na Flórida, limitou-se a dizer: fui mãe de um Presidente por uma hora e estou contente assim. Era uma Grande Senhora.
26.6.06
Aforismos sobre a Mente, sobre a Guerra e sobre Mona Lisa
Tudo se processa por pequenas ligações e encaixes, depois das expressões nos aturdirem. Assim o coração continua a bater mesmo se estamos inconscientes
A ressaca é a presença constante da Natureza depois das convenções que fazemos. A vertigem é a Natureza em nós, antes de fazermos convenções
O mergulhador não vê, às vezes, que as mais afiadas rochas estão cobertas de corais coloridos e plantas engraçadas. Sim, a Natureza também aborda a rir as coisas mais violentas
Dizemos “é curioso!” e ficamos perplexos só porque nos esquecemos e a falta de memória nos apanhou de surpresa
Descansar numa máxima ou numa ideologia é respectivamente ter uma ressaca pequena e uma ressaca grande como quem julga que ouviu um eco
A Nação é um tesouro de Saber a preservar até ao fim mas pretender que o saber duma Nação é único, ou que é o melhor, é o princípio para uma Nação ser odiada e morrer sózinha
A luta constante, as diferenças entre pessoas de um mesmo Partido ilude-as e fá-las esquecerem-se completamente da diferença que têm com as pessoas sem partido nenhum. Por isso existem os Partidos
Nas ilusões se fazem ideais. E nos ideais, uma droga para os momentos de vazio. Depois vem a prática mesquinha e gera-se o ideal de ser prático que fica com os ideais na mão sem acreditar neles. Possuir passa a ser mais importante que idealizar. Falta-nos então qualquer coisa e a busca de cobrar uma dívida sobre os outros faz-nos perder um crédito sobre todos.
O Terrorismo revelou as fragilidades e as ilusões de sociedades modernas, cada vez mais arriscadas. Porque os Terroristas são tão modernos como nós mas arriscam-se de um outro modo
A Guerra começa por ser uma operação punitiva, de política ou de Defesa. Nasce então um Inimigo que entra na Guerra e se transforma à sua própria custa. Assim a Guerra cria dois Inimigos onde só havia um, porque a Guerra só existe num estado permanente
Três coisas são necessárias para fazer a Guerra: “Dinheiro, Dinheiro e Dinheiro”. Isto aprendeu Napoleão um dia num bordel quando reparou que não tinha a carteira
Num mundo todo feito de Democracias, a Guerra ainda seria mais antiga
Estratégia: um modo de manter a nossa mente afastada do Bom-senso, durante uns tempos e deixar a Providência usar à vontade a nossa mente agitada
Não há nenhuma adivinhação do futuro. Só há Genealogia. Aquilo que é “como se fosse”passa a ser aquilo que é, andemos em que direcção andarmos
No fim saberemos que as ideias que tanto nos ocuparam não passaram de sons para nos camuflarmos. Sim, para nos confundirmos com o meio que nos envolve, enganando os predadores, mesmo que tudo se tivesse passado dentro de uma só cabeça
Não é preciso gastar muito tempo a adivinhar o mistério do Outro. Se o Outro, ao fim de um certo tempo, não se revela, então é porque não é outro. Sou eu próprio
Como podem os Europeus unir-se, se vieram todos a fugir, expulsos da Ásia?
A Política é a arte do segundo movimento. Nada se cria, tudo se transforma. O que se perde, Majestade, não pertence à Política
Buda encontrou uma árvore e sentou-se à sua sombra. Jesus foi crucificado nela. E da sombra se fez Luz...
Não há boa acção que não tenha a acompanhá-la um bom pensamento. Se o Inferno está cheio de boas intenções, o Céu está cheio de Acções falhadas
Entre mim e o Céu, não há nenhuma escada de sins e nãos
Cheguei, vi e venci, César redarguiu . Gaguejei “Vi-Vinci”, e Mona Lisa sorriu
23.6.06
Iran and Escalation, by André Bandeira
It is useful to retain three relevant historical facts: first, the Cold War began in the Northwest of Iran, in 1946, when a Democratic Republic of Azerbaijan, with the support of the Red Army and the conspicuous presence of a powerful soviet General Consulate was proclaimed; second, between 1978 and 1979, it was the first time in the US History that one of its most powerful Diplomatic Representations has been thrashed by the hostagetaking, as never before, of so many American civil servants abroad; third, Persia was the sole Empire of the Antiquity that was conquered or dismantled by the western Powers, and it was the first temporal power to send Christian missionaries to China.
On both sides of the Atlantic, those who still feel inspired by the irrationalism of the Strategist Clausewitz, would say that Diplomacy is the continuation of War by other means, whereas War is just one among other stages of international Politics. Furthermore, those who erected the Principle of Pre-emption, and are now looking for practical criteria for its use, will sooner or later manufacture the reasons that justify a pre-emptive attack. Therefore, do not be surprised in seeing an escalation of Diplomatic devices, even the atomic one, as if the Diplomat was dancing to a military drum.
On the 21st of March, British P-M Blair defended his “interventionist policy” and added that it “would be a mistake to do nothing about Iran’s nuclear programme”. On the 23rd, Supreme Leader Khamenei, offered direct negotiations Teheran/Washington about Iraq ( after a similar statement was made by the long-time Chief negotiator in the AIEA, Ali-Larijani). Germany subscribed a similar proposal on the 5th of April. On the 28th, AIEA Director, El Baradei, meant that Iran would resume its uranium enrichment program in a few days. On the 29th of March, the Security Council gave 30 days to Iran for suspending the uranium enrichment process, which had been resumed soon before. On the 30th, the five veto-holders and the European Union tried, in order to materialize the Declaration, albeit without success, to unite for a wave of sanctions against Iran. Nevertheless, in Geneva, MFA Mottaki declared that three years of negotiations “added to our mistrust”, and, both from Vienna and New York, Teheran’s representatives said the uranium enrichment was irreversible - Iran, which is “allergic to pressures and intimidations”, would never renounce its “inherent right”. On the 31st, the Armed Forces of Iran begun to drill against “any threat”, in the “Great Prophet” exercises. On the 2nd of April, Condi Rice said that “Iran is not Iraq” (MFA, Jack Straw would say the same on the 27th of April, while ruling out the threat of military action, but Blair said, however, that it was not the time to send a message of weakness” - AP 19.04.06). This happened the same day that Iran announced having successfully tested a underwater missile, the Kowsar, able to evade radars. On the 10th of April, the Washington Post said that the Pentagon was studying the options of striking Iranian targets such as the nuclear facilities of Natanz and Ispahan, but Iranian Minister of Defence, Najjaf, while visiting Baku, on the 20th of April, said that the US has been threatening Iran for 27 years”( Reuters, 20.04.06). On the 12th of April (AFP) the newspapers, reformist and conservative alike, in Teheran, announced that Iran had joined the “atomic club”.
On the 25th of April, Al-Larijani said Teheran would suspend its relations with the AIEA, in case it had to suffer sanctions (AFP), President Ahmedinejad said that he was thinking in Teheran leaving the Non-Proliferation Treaty (AP, 07.05.06), or the Supreme Leader Khameni that if the USA invaded Iran (...) their interests around the world would be harmed” (AP, 26.04.06) but it was the military, such as Gen. Safavi, commander-in-chief of the Revolutionary Guards (Reuters, 5.04) and Gen. Firouzabadi (ISNA 12.04) who respectively argued for the right of Iran being recognized as a “regional Power” and for the survivability of Iran's nuclear know-how after any kind of attack. We should take note that it is the Politicians who are using the ambiguity of Diplomacy and the military who are asserting the rhetoric of Iranian geopolitical interests. The threat of attacking Israel as the first consequence of an US attack on Iran, voiced by the Revolutionary Guards, was dismissed by the top-military (Reuters, 04.05.06). On the 28th of April, Iran didn’t comply, after all, with the UN Resolution but the AEIA sent a report which didn’t recommend sanctions.
We know that China, France, Germany and Russia ( Gen. Baluyevsky, in Paris, AFP, 16.05.06) are against a military strike, which remains an option in the US posture. As a matter of fact, this latter is always looming, even when Pr. Bush, during a speech to the Paul H. Nitze School, stressed that “prevention”, in the case of Iran, means “Diplomacy” ( AP 11.04.06), not to mention all the appeasing statements made by Condi Rice.
On the 8th of May, the European Union offered Iran, a sophisticated Reactor but the Iranians refused it anyway, by means of the statement of MFA spokesperson Assefi ( AFP, 16.05.06), to fulfill the pre-requisite of suspending Uranium enrichment.
Then, the USA reiterated by the State Department spokespersons, Ereli and McCormack, respectively on the 11th, and, on the 26th of April, that Teheran had channels of direct communication with Washington (Reuters and AP, respectively the 12.04.06 and 27.04.06). However, when it came the time of Ahmadinejad’s letter, on the 8th of May, proposing “new solutions” to the differences between the two countries, it was dismissed by Condi Rice as not “addressing the issues” ( AP, 09.05.06).
The Defense Intelligence in the USA goes on unveiling clues and striking evidences of an Iranian nuclear Weapons program, as it was the recent case of an Iranian scientist’s laptop containing the drawings of a nuclear missile and the shaft for a concluding experiment. Nevertheless, Washington continues to dismiss the Iranian capability to line up all the centrifuges necessary to enrich uranium up to a weapons-grade level. The same discourse around a “bomb in two years or so” has been there for over a decade. On the other hand, the lethality and veracity attached to the declarations made by Iranian top-leaders is kept boiling up. It seems as if the widening and shortening of prognostics serve a political frame where History has no time, as, once Kosyguine said.
While Blair keeps a more doctrinal and daring rhetoric, one cannot deny that his days as Prime-Minister may well be numbered. On the opposite way, the more appeasing line of the French government may undergo the same fate, giving room to a more American-aligned policy, in Paris, led by Sarkozy, the Interior Minister who keeps benefiting, after all, of all political scandals around his name.
The Strategy of defining a “Clash of Civilizations” didn’t lost its way: the purpose was to define a centre of Gravity in the Adversary and that was Teheran, the “most important challenge” profiled by the US National Security Defense of 2006. And if this is the way, the ways of this Strategy are keeping Teheran in a Defensive posture, under the Damocles sword of a set of options which include “nuclear pre-emption”. While the divisions among the different segments of Teheran’s elites begin to cleave, they try their own chances of competing among themselves, in order to take the initiative and get out of the defensive closet. The EU, which has to square all the close-ins and estrangements between two old acquaintances, Teheran and Washington, shall manage the diplomatic agenda but won´t set it.
The most curious sign of the latest developments which tend to keep a more long-standing agenda out of the anti-war public sight is the fact that, by all means, the USA is engaging with Teheran, and Teheran is breaking its diplomatic isolation. That is why Donald Rumsfeld, an old conservative who has never been a neo-con, declared on the 25th of April, to an internal TV network in the Pentagon, that the USA should “contain” Teheran by means of holding on in Afghanistan and Iraq. Containment was only abandoned during the Cold War, when this latter became inevitable.
In the meantime, Iran is acting both undercover and overtly, be it in Lebanon, Pakistan, and Gaza. Better say instead of “Iran is not Iraq”: Iraq is becoming similar to Iran.
19.6.06
Três canções, Por André BAndeira
Estive outro dia rever a Maria Callas, a Dalida e a Barbara. Depois lembrei-me de Luigi Tenco, de Leo Ferré e de Jacques Brel. Começo por Barbara, vítima de ser mulher e não ser bela, a quem os parisienses, finalmente, pela força do seu trabalho e da sua graça lhe fizeram um favor: ser bela. Quando o que ela queria era que reconhecessem que encher a brisa de canções, mesmo quando não se é belo, é tão importante como ver.
Todos sabem a história da Maria Callas, o seu emagrecimento urdido por um marido que a passeava pelos palcos, a paixão ao primeiro encontro por Onassis e o seu fim trágico, quando tocava piano sózinha no apartamento de Paris, imerso em sombra, cheio de fotografias do filho de Onassis, de quem nunca pudera ser mãe. No fim do seu casamento, Onassis gritava-lhe que a única coisa que ela tinha era um apito na garganta.
Lembrei-me de Dalida, saída raivosamente dum subúrbio de Alexandria, jurada a ser famosa apesar do seu estrabismo, que não a impediu de ser Missa França. Depois recordo as suas canções, sobretudo a interpretação dessa laje de túmulo que é a canção de Leo Ferré, Avec le temps. Com perto de cinquenta anos conseguia ter uma beleza fora do vulgar. Mas três dos seus amantes suicidaram-se. Ou só dois. Porque nunca ficou bem apurado o caso de Luigi Tenco.
Tenco, uma das vozes mais brilhantes do seu tempo. De olhar pasmado, parado frente ao mundo quando o percebeu e decidiu, como um garôto de Roma, não apanhar a moeda. Ter-se-ia suicidado depois da sua canção, a meias com Dalida, Ciao, Amore,Ciao, não ter sido apurada para o festival de San Remo. Sabia-se que mantinha, além de Dalida, uma relação com um rapariga mais nova com quem estivera a falar duas horas seguidas antes de morrer. Deixou um bilhete que era um protesto contra o absurdo da Indústria musical em que pedia que tudo ficasse claro quando o Júri apurara “Tu, Io e le Rose” e “la Rivoluzione”, de Lucio Dalla, que estava no quarto ao lado. Dalla diz que, depois de ouvir o tiro, nunca mais foi o mesmo, apesar de nos ter brindado com canções tão bonitas, como Gesù Bambino. Tenco não era de esquerda nem de direita, não era de Dalida, nem de outra qualquer. Havia nele pugno di ferro, cuore di veluto. Queira reformar a canção ligeira em Itália, fazê-la uma forma feliz e desperta de existir na realidade. Tinha uma missão clara, embora sem ambição. Cantou todo o tipo de ritmos e fê-lo sempre com dedicação. Como Elvis “Era alguém. Tinha algo a dizer.Era tudo.”
Ou Ferré, que finalmente morreu em paz nos seus vinhedos no país cátaro, talvez quando ia começar a sorrir ao perceber que a violência do Mundo não é mais forte que a Alma.Finalmente Brel, imagino-o morrendo nos braços da sua havaiana, como Gauguin. Com o corpo esclerosado porque um belga se tem de manter em pé num país plano, como as torres de Bruges e Gand. Fez rir os outros, fê-los descansar o espírito e, no fim, ninguém lhe abriu a porta. Benditos sejam os que nos fazem assobiar. Esta noite, o Vento.
17.6.06
Re in esilio
Il caso apparso adesso in giornale lascia pensare il peggio della famiglia reale italiana, appena lasciata entrare in Italia, per una provvidenza legislativa del Governo Berlusconi, l’anno scorso, che ha abolito l’infrazione criminale costituita della semplice entrata di qualcuno membro della famiglia Savoia in territorio italiano. Dopo questo evento, il figlio del principe Savoia, Emanuele Filiberto si è anche sposato à Roma, nella Chiesa della Santa Maria degli Angeli, con l‘attrice natta in Francia, Clotilde, di chi aveva adesso già un figlio, mentre che, recentemente, ne aspettava un altro.
13.6.06
Entrevista ao Padre Chico, de Timor
O Padre Francisco Fernandes nasceu em Lacló — no concelho de Manatuto,
11.6.06
10.6.06
Timor, QED
Declaração do Primeiro-Ministro, 27 de Maio
"Acusam-nos agora de não sabermos governar. Contudo, lembro aqui que as políticas delineadas e seguidas pelo Governo de que me orgulho chefiar têm recebido os mais insuspeitos elogios de toda a comunidade internacional. Destaco apenas a título de exemplo o aplauso sincero que o presidente do Banco Mundial, Paul Wolfowitz, no mês passado e que repetiu agora no dia 25, fez às políticas deste Governo, aqui nesta mesma sala. Será que apenas num mês deixámos de ser um caso de exemplar sucesso, passando a ser um caso de manifesta incapacidade? (...)
Eu, primeiro-ministro de Timor-Leste, mantenho as minhas declarações anteriores. Está em marcha uma tentativa de um golpe de Estado. Contudo, estou confiante que o senhor Presidente da República, com quem tenho mantido contacto, não deixará de respeitar a Constituição da República Democrática de Timor-Leste, que jurou cumprir. E não esquecerá nunca os interesses do povo de Timor-Leste, pelos quais todos lutámos durante 24 anos e milhares de irmãos deram a vida."
Cronologia simples
- Primeiro Ministro convoca reunião do Gabinete de Crise e recebe Embaixador da República da Indonésia, 6 de Junho
- Alguma imprensa australiana distorce declaração do primeiro-ministro, 28 de Maio
- Declaração do Primeiro-Ministro, 27 de Maio
- Perímetro de segurança definido, 26 de Maio
- Apoio internacional começa a chegar a Timor-Leste, 25 de Maio
- Timor-Leste pede apoio internacional, 24 de Maio
- F-FDTL reage a ataque de amotinados, 23 de Maio
- Anúncio dos vencedores do primeiro concurso internacional de exploração petrolífera, 22 de Maio
- Comissão de Notáveis começa a ouvir ex-militares, 11 de Maio
- Prosseguem contactos entre Governo e ex-militares, 10 de Maio
- Regresso à normalidade em Timor-Leste, 9 de Maio
- Incidentes em Gleno, calma no resto do país, 8 de Maio
- Primeiro-ministro aceita resignação de ministro do Desenvolvimento, 8 de Maio
- Díli regista passos em relação a normalidade, 7 de Maio
- Gabinete do primeiro-ministro refuta rumores sobre resignação do primeiro-ministro, 6 de Maio
- Situação calma em Díli, 5 de Maio
- Governo decreta regresso dos militares aos quartéis, 4 de Maio
- Tomada de posse da Comissão de Notáveis, 4 de Maio
- Cinco empresas concorreram à exploração petrolífera do Mar de Timor, 20 de Abril
- Primeiro-ministro recebe presidente do Banco Mundial, 7 de Abril
9.6.06
Morreu o Condómino da Democracia Global, por André Bandeira
A criação é muito mais perversa: é a criação do eterno rebelde que determina, pelo lado contrário, o campo de quem está no Poder. A lenda de David, do Robin dos Bosques e dos outros. Ou seja: cria-se o rebelde para cair, depois de fazer um arco luminoso. O rebelde estimula as nossas correrias adolescentes quando devíamos ser mais meditativos, celebra as nossas fanfarronadas e, por fim, tudo acaba num apagada e vil tristeza em que nos encolhemos por não termos sido nós a ser eliminados. É isso: a revolta, a Revolução, a libertação comunista em que os Senhores e os Tiranos morderiam o pó é uma invenção dos próprios Tiranos para perpetuar a saudade de ser rebelde, de querer e poder, que é o lema do Tirano. Porque não vimos, da esquerda para a direita e da direita para a esquerda que Hitler, Estaline e Mao Tsé-Tung eram todos a mesma coisa, não queremos ver hoje que uma Democracia que bombardeia e abusa do seu Poder, é a mesma coisa que uma Ditadura. E Zarqaoui foi criado para ser o outro titular de um condomínio que, como Russos e Americanos, faziam de nós um algarismo, enquanto todos encolhem os ombros dizendo: “É assim...” “Assim...” é a nova forma de dizer sim, ou até de votar.
8.6.06
Mundial de Futebol
6.6.06
5.6.06
Na morte de Raúl Indipwo, por André Bandeira
Espero que se lembrem agora de Artur Garcia, de António Calvário, de João Maria Tudela e de outros que também nos fizeram cantar ou assobiar, agora que um tipo assobiar lhe pode valer uma facada, ou um despedimento. Talvez para nos lembraramos, enquanto ainda estão vivos, dos ídolos de pés de barro que não pretendiam fazer política e que, quando a sorte mudou, sempre se souberam comportar com uma doce dignidade.
2.6.06
Síntese noticiosa II, por André Bandeira
De repente, Onokah arranca para trás de Griffiths, Sullivan prega-lhe um murro, em travelling, que lhe parte o maxilar e Onokah torce o braço a Pollen, que baixa a cabeça, enquanto Sullivan se baixa, frente a ele, para o encarar e ditar-lhe a sentença de morte, desferindo duas navalhadas de baixo para cima que lhe atingem o coração. Volta ainda atrás e espeta-lhe quatro navalhadas no flanco. Depois metem-se num carro, desses utilitários azuis a parecerem desportivos e arrancam. A noite paira. Pollen cai no chão e morre, Onokah tenta perseguir Grifiths que foge. Um ano depois foram condenados, mas não por assassínio e por motivos que a Polícia britânica considera obscuros.
Dois homens matam um outro, como um cão. Sempre se passou. Surgem várias explicações da qual a que mais gosto é a da “cultura da navalha”, em Inglaterra. E digo: cuidado. O rosto, jovem que vês na rua, no metro, e que te observa há anos, nos bares, na rua, nas avenidas amenas de Verão, o rosto que envelhece a olhar-te desde o fundo dos tempos, o rosto do retrato famoso, estão apenas a saborear-te. Quando o medo e o almíscar atingirem o seu ponto de rebuçado, o rosto expectante pronunciará alguma sentença rude de quem tem dificuldades a pensar e espetar-te-á o espigão do medo e da rejeição, várias vezes até o deixares de olhar. Por isso arma-te, com o que souberes, a começar pelo desprezo pela condição humana que não é engraçada. Despreza os jovens e despreza os velhos, mas despreza acima de tudo o rosto expectante que te observa, despreza-te a ti próprio, não tenhas pena. O náufrago do deserto cobre o rosto, quem olha o céu, cobre os olhos. Triste e amarga é a existência humana se esperas nela. Se te for possível, vive longe do Mundo. Se não te for possível, esconde um jardim do paraíso no teu pensamento. Poderás visitá-lo em sonhos, e ele te visitará a ti, poderás a certa altura sonhar acordado. Os teus olhos não foram feitos para serem furados, mas para iluminarem o mundo. O Bom não olha nos olhos de ninguém, ilumina-o todo com o olhar.
Dedico isto ao adolescente Keynan, que morreu num metro de Londres, ao intervir corajosamente numa luta, levando uma navalhada no estômago pela qual sangrou até à morte. As suas últimas palavras foram: ‘não me deixem morrer”. E nós deixámos.
1.6.06
Entrevista por Carlos VAz MArques
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