Ora aqui está um livro com espírito, com sabedoria. Na parte que nos interessa, Madariaga, da família de Solana, entra no campo chutando para a canela do adversário: os portugueses são espanhóis. Dá-nos um lugar autónomo entre "Gregos e Turcos" e "Judeus e Ciganos".Contudo, quando se trata de falar de espanhóis, que coloca num clube dos 5, na Europa, já não se refere ao braço direito da "Hispânia", que seria o lírico Portugal, nem o braço esquerdo (a levantina Catalunha), só fica o corpo, Castela/Andaluzia ( diga-se que este corpo, com os cabelos no país Basco e o baixo-ventre na Andaluzia, não tem pernas para andar).
Madariga, que escrevia do México, em 1951, altura do bem sucedido desenvolvimentismo franquista, tem humor, elegância, imaginação europeia. É culto, informado e veraz. Certamente que, num salão europeu, arrancaria uns suspiros e fixaria uns olhares da carneiro-mal-morto de algumas europeias. Não sei se durariam o tempo da Melanie Grifith e do António Banderas, mas, nesse tempo, não se conhecia o divórcio.
Enfim, também nos vem com um esclarecimento, útil de reler, porque já nos esquecíamos: a América Latina não é Hispano-América por causa do Brasil, e não é Ibero-América por causa do Haiti.
No meio de tanto "mikado", lá vou retirando as varinhas e fico com a ideia de que os seres humanos se fixam em vários pontos da terra, outras vezes imigram e vão ficando mais ou menos isolados, mais ou menos miscigenados. Isto não que dizer que tudo é uma misturada. Quer dizer que nada é definitivamente de ninguém. No fundo, o que Salvador de Madariaga diz é que a Europa na sua diversidade, é ainda muito dominadora.
Salvador de Madariga é, claro, um percursor da União Europeia, mas a sua "Hispânia" altaneira e esperta, é tão neurótica quanto muitos europeus. Ora Portugal, ainda tem um Império para velar, porque Tristeza tem-na muita, vinda de não se sabe de onde, vinda de não sei quando, mas neurótico, Portugal não quer ser. Nem que, para isso, se meta a bóiar num deserto azul, martelado pelo Sol.
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1 comment:
"Portugal não quer ser neurótico," diz o meu caro amigo, mas quem quer sê-lo?
As neuroses ou mais século dezanovemente dito "as nevroses", não se escolhem, nem se afastam com um estalar de dedos.
Duvido que Portugal se meta voluntariamente a boiar, para fugir da neurose colectiva nesse deserto azul, martelado de sol (bonita metáfora, lá chegaremos se se deixar o Belmiro e o Lino). Porque vendo bem as coisas não há coisa mais neurótica (entendo por neurose o que entristece e tira energia) do que as saudades. Tem a ver com fatalismo, não com uma forma superior de Tragédia que tenha a possibilidade de despoletar a necessária catharsis.
Por isso, os seus portugueses de escolha de deserto azul antes que de neurose são, se os houver, um punhado. A maioria tem um deserto cinzento e atávico na massa azul, digo na massa cinzenta.
A maioria anda cosmetizada em "alegrote", o contrário do "allegro"mozartiano. P.ex. o Joâo Baião e o Malato e os Fedorentos são os profetas do alegrote, que é neurose dissimulada.
Diz e bem que Portugal tem Tristeza. Presta-se-lhe um culto imenso, de resto. A Tristeza vem do pecado, não da virtude. Que pecado enorme individual e colectivo terá sido?
E para finalizar muito obrigado pelo seu interessante post sobre o familiar do Bildeberg Solana.
Escrevendo do PC de pessoa amiga,
aqui me assino,
P. Sampayo Durões
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