25.9.09

XXIX - (Re)Leituras - Inside Right: a Study of Conservantism, de Ian Gilmour, por André Bandeira

Este livro de Ian Gilmour, do Partido Conservador britânico dos anos oitenta, é um bom panfleto de divulgação e um ataque contra as ideologias em Política, sem cair no oportunismo a que se chama hoje, com esperteza saloia, pragmatismo. Ian Gilmour, Ministro da Defesa sob Edward Heath e Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros sob Margaret Thatcher, de cuja orientação nunca gostou, pertencia à ala esquerda dos Conservadores, não era snob e realmente preocupava-se com quem não tinha trabalho ou dormia na rua.Mas achava que era conservando e defendendo o essencial de uma sociedade, que se tiravam as pessoas da rua,para não voltarem. O Partido Conservador de David Cameron vai vencer as eleições em Inglaterra, com um sabor a Gilmour. E nós teremos que enfrentar o Conde Andeiro sozinhos. A Inglaterra fez a primeira Revolução francesa, com Cromwell, cem anos antes de Paris, mas perpetuou-a na Restauração dos Orange/Hannover, só para depois, na primeira Guerra Mundial, ir destruir a primeira União Europeia que era o Império Austro-húngaro. Parece que a hipocrisia da Restauração dos Orange percebeu que uma cabeça decapitada não volta a usar colarinho e, desde aí, não se aceita nada de escorreito na Europa pelo que, à Europa só resta a violência e a mania, como aconteceu com os Jacobinos ou os Nazis. Ian Gilmour dá-nos o rol dos santos do Conservadorismo, tão diferentes entre si, como Peel, Salisbury, David Hume, Burke, Disraeli, Douglas-Home, os irmãos Chamberlain ou Churchill. Nenhum deles é Buda ou Maomé mas todos constroem uma Nação e lhe dão um sentido de comunidade, no uso ininterrupto da liberdade, sem os descarnamentos do liberalismo. É a Inglaterra dos homens como Gilmour que resiste a Hitler e Napoleão, porque esta é a Inglaterra que ama o Género Humano, a começar em casa. A Inglaterra liberal fez o seu pezinho na Rádio Berlim, com Oswald Mosley (todo o fascismo é um liberalismo em estado de excepção), e a Inglaterra trabalhista fê-lo na Rádio Moscovo, com Philby. Porém, Gilmour só nos dá um sistema filosófico de Pensamento, o de David Hume, citando a frase deste de que os filósofos deviam desconfiar dos seus próprios sistemas. Certo. Mas se o cepticismo não tiraniza como sistema, tiraniza como moda. O Deus dos franciscanos desfaz-se em subjectividade absoluta. O Deus dos jesuítas fecha-se numa agenda auto-suficiente. Em ambos descansa a mente, como quem, depois de caminhar na noite prêta, sabendo que há um precipício por ali, deita-se por pressentimento à beira dele. Esperando pela alvorada não basta dizer que não interessa para que lado se vai acordar, pois assim, ser de Esquerda seria o que é ser hoje de Esquerda, uma recreação snob, disciplinada ao fim com ímpetos totalitários. Alguma coisas não são relativas mesmo que seja muito difícil dizer quais são, sentados num sofá, a escrever. E a prova é de que nada sabemos mas não nos é dado o luxo de dizer que isso é tudo o que sabemos. Até quando votamos, ou não votamos, nós não podemos deixar de saber qualquer coisa. Não somos, nem o Sócrates de Platão, nem o de Erasmo. Antes de dizer «eu só sei que nada sei» e ir festejar nas redes sociais, temos a obrigação de nos desinocentar.Sempre sabemos alguma coisa, mesmo que nos tenhamos esquecido. Avançar significa ir ao lado de um barco, a «vante», mesmo que o barco não esteja apontado para a frente, como quando vai à bolina.O bom arrais não se esquece da navegação, mesmo que não saiba a posição, a todo o momento.

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