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29.12.07

Merci, Président Sarkozy!

Nicholas Sarkozy, a 20 de Dezembro, em Roma, perante o papa Bento XVI apresentou como visão da «laicidade positiva», que a França não tem o direito de cortar as raízes cristãs. Um presidente francês a ser empossado como «cónego de honra» de São João de Latrão, título concedido aos reis de França desde 1593, parece uma revolução cultural. Mas é ainda mais do que isso. É um sinal de paz social dos não-crentes com moderação que exige um idêntico sinal dos crentes com moderação.
Eu achava grave que o defunto Tratado Constitucional Europeu não invocasse Deus num preâmbulo sobre as raízes da Europa. Mas se o nome de Deus não estava lá ( como não está no Tratado de Lisboa) a culpa deve ser repartida entre as elites agnósticas europeias – do tipo Giscard d’Estaing - e os “cristianistas” – do tipo fundamentalista católico - que invocam Deus em vão e assim desqualificam o ser cristão.A distinção entre um “cristianista” e um cristão é que um quer injectar religião na vida política e o outro respeita a separação entre Deus e César.
È bem evidente que o apoio a políticas públicas pode surgir de razões religiosas. Mas numa sociedade secular, os argumentos apresentados em público, não devem depender nem invocar verdades religiosas. A cidadania em democracia pluralista exige traduzir as convicções religiosas em argumentos morais que podem persuadir pessoas sem fé ou com fé.
Em países como os EUA, a tendência é para vir ao de cima o fundamentalismo dos "cristianistas" o que é mau. Em Portugal, predomina sobretudo a “paz podre”; não há ateus extremistas a proibir que as convicções políticas pessoais sejam informadas pela fé religiosa; o que existe é falta de testemunhos sobre a origem moral das nossas convicções políticas e ausência de debate entre as raízes culturais e religiosas das respectivas posições políticas. Donde, o debate na comunicação social estar tristemente entregue aos "técnicos" dos resultados, sem nunca serem chamado os "especialistas" das causas. O público é esperto: avalia os "técnicos" como porta-vozes de interesses particulares; e normalmente são mesmo porque o debate mais profundo não se realiza.
Pessoalmente, eu tenho consciência que a minha oposição absoluta à tortura, ou o meu empenho na justiça social, parea citar duas questões chave, tem raízes no Cristianismo. São convicções que resultam da minha fé católica, que se aprende como uma atitude e uma cultura e cujos frutos não dependem da hierarquia. Acredito na dignidade inerente de todos os seres humanos como reflexo da vontade de Deus revelado em Jesus Cristo. Mas é muito evidente que outros opositores à tortura e outros defensores da justiça social não foram crentes, como por exemplo Albert Camus e George Orwell, cujo sentido moral, alias, eclipsa o de muitos cristãos e de todos os “cristianistas”.
O debate político não pode depender do recurso a argumentos religiosos. Em política, um cristão não se dirije a cristãos, mas a cidadãos. Pode e deve usar argumentos históricos, jurídicos, constitutionais, morais, estratégicos, económicos, argumentos sobre a história portuguesa, europeia e ocidental. O que não pode é dizer "Sou cristão, portanto tenho razão". Como outros não podem dizer: "O cristianismo é uma parvoíce, portanto tenho razão".
Por isso “Merci, Président Sarkozy” pelo exemplo de moderação que deu e que sacode a paz podre e o fundamentalismo que nos atormentam.

24.4.07

Imaculada Conceição


A Rita Barata Silvério escreveu o seguinte numa das suas crónicas
Por ela enfrentaram-se correntes doutrinais, levantaram-se edifícios e talharam-se obras de arte; é fonte de inspiração para Cantatas de Bach, romarias populares e fenómenos extraordinários com velinhas na Avenida da Liberdade; exemplo de caridade e amor, a essência da maternidade. Maria. Nunca houve mulher que contribuísse mais para a discussão filosófica no Ocidente e nenhuma mulher mereceu mais devoção que ela. Pura, virgem e imaculada. Mas também caridosa, auxiliadora, mística, dolorosa, reconciliadora ou milagrosa. E a mulher que se espera sejamos todas as que viemos depois. Concordarão que não é propriamente fácil sobreviver a um modelo destes. E não me leiam aqui como uma iconoclasta radical de esquerda, sou só realista. Como alcançar tamanha virtude num mundo pejado de excessos carnais, publicidade erótica na televisão e incentivos à evasão fiscal? Não se nos terá exigido demais ao género feminino? Não poderiam ter escolhido Maria Madalena, pecadora, mas arrependida apesar de tudo? (continua...)

E eu respondi-lhe:


Rititi
Parabéns. Já não a lia há que meses mas surpreendeu-me com este post. É mesmo uma intelectual que sente, coisa tão rara como o Engenheiro Álvaro de Campos que, felizmente, não teve de provar se tinha diploma. O seu ponto neste post é que as glórias de Maria são conseguidas à custa da desumanidade da mesma. Como corolário, a doutrina do cristianismo não se aguenta pois pede uma utopia, e uma chata ainda para mais. Alguém falou em comunismo ou marxismo-Leninismo? O seu protesto humano, demasiado humano como dizia o outro, tem todo o sentido e não tenho uma resposta para ele. Santos e pecadores, eles andam por aí misturados.
Em todo o caso lembro-me disto. Dos quatro dogmas sobre Maria, o 1º, A "Imaculada" foi analisado foi si razoavelmente, tanto quanto a ignorância da escolástica lhe permite. Atenção. Não leve isto a mal. O que quero dizer é que acertou no centro da questão mas não percebe muito dos arredores. O 2º dogma é a "Assunção" de 1950, a subida ao "céu". Contudo Pio XII não quis proclamar as outras duas propostas de dogma que jazem nas gavetas do Vaticano, a Mediação de todas as Graças e a Co-redenção. A serem proclamados colocariam Maria quase a par de Jesus Cristo nas suas eficácias teologais. Já viu: a mãe de Deus pare, salva, ajuda e sobe ao Céu como o filho de deus. Deus é feminino, ou quase. Agora , sff, ponha entre parênteses, como os matemáticos e os fenomenólogos, se estas ideias são falsas ou verdadeiras. Nenhum de nós é teólogo, não as vamos discutir. Concentre-se apenas no que elas significam em colocar a mulher a par do homem, como orientação. Uma religião que pensa assim não deixa usar burkas, nem fazer excisões, nem segregar do trabalho, nem diminuir os direitos, nem mandar as virgens servirem no céu os "mártires" violentos. Uma religião que exalta Maria como tão "desumana" talvez crie o mesmo efeito com meios transcendentes que a Jane Fonda que nos seus sessenta bem puxaditos, com aeróbica e cremes, ainda é um regalo imanente. Vê onde eu quero chegar? Não me passaria debater se é verdade ou mentira o conteúdo daqueles dogmas marianos - os proclamados e os por proclamar. Mas vendo os efeitos, as consequências, e os frutos dos mesmos a mulher saiu mais defendida do que noutras culturas -islâmicas, budistas, "you name it"- que se marimbam para as suas Marias.
Com estima
mendo henriques