24.1.07

Belmiro, por Pedro Cem

Vi a entrevista de Belmiro de Azevedo a Judite de Sousa.
Belmiro tem um discurso cheio de contrastes, de desfeitas, de arestas. Belmiro não brinca em serviço e trabalha como um modêlo. Belmiro não é rico para ser rico mas porque entrou numa competição que lhe deu sentido à vida.
Certamente que Belmiro, se ganhar a OPA da PT, poderá vir a fazer algo de inovador na Indústria Portuguesa. Contudo, tem pela frente o complexo burocrático-lusitano que prefere deixar o Empresário no Norte, na Província, e guardar as Comunicações de Portugal para um conjunto de homens sabidos que, embora gerindo uma empresa privada, se sentem como que proprietários de um privilégio nacional, onde só entram os membros de uma certa élite, onde a Economia se confunde com a política e a política com um certo estilo de vida. Infelizmente, Empresários como Belmiro só existe um. Portugal é demasiado pequeno, havendo só um Belmiro de um lado e o complexo burocrático-lusitano do outro. Belmiro ficará sempre com o valor dos marginalizados, mas também com a etiqueta da deselegância ou da incapacidade estrutural, como uma galinha a querer voar.
Mandaram-lhe Judite de Sousa, uma rapariga de Letras, do Porto, uma mãe valorosa. Ela foi industriada para lhe fazer as perguntas que defendem a prudência, o charme e o veneno do complexo burocrático-lusitano onde o último critério, acaba por ser o bem-estar. A pobre Judite de Sousa até parecia saber de Economia, até parecia saber de Bolsa, até parecia saber de Jornalismo político. Mas Judite de Sousa é também um pilar do complexo burocrático-jornalístico e, de novo, com valor. De charmes queirosianos morre Portugal. E tudo é um Simplesmente Maria, para Adultos.
De Belmiro fica apenas o realismo dum país abandonado a uma luta entre os veludos eróticos de Lisboa e os ódios de morte da Província: "eles fazem como quem pede esmola. Estendem a mão a pedir mais e ninguém lhes deixa nada". " Não vou entregar os pontos ao meu Inimigo". " Pedir não paga imposto", " Só se descobrissem diamantes ou um pôço de petróleo nos edifícios da PT, aquilo se valorizaria mais do que oferecemos", "Os clientes da PT no Brasil, não têm dono", "O Eng. Sócrates é como um Director do Conselho de Administração do Governo. O Primeiro-Ministro vem primeiro e os outros Ministros vêm a seguir", " Existe uma conjuntura feliz entre o Presidente da República e o Primeiro-Ministro". Entre o Engenheiro da Beira Alta e o Empresário do Norte há uma espécie de canto folclórico, antes do rancho girar.

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