13.3.07

Máximas para acabar com o Inverno, por Pedro Cem

1 - O Sujeito participa do Objecto como uma melga. Depois de matar uma, vem outra. A certa altura, julgamos que estamos a bater em nós próprios mas não saímos do lugar porque julgaremos sempre que estamos quietos e quem incomoda é a melga. Mas é o nosso sangue que se move.

2 - A diferença entre a Moral e a Decisão é que a Moral estabelece uma caminho entre A e B, enquanto a Decisão amputa A de B ou B de A. Porque a Moral não pretende fazer da Razão um Deus, mas apenas um Seu instrumento. É essa a diferença entre a Moral e a Ciência do Bem e do Mal, que ainda nos amarga a boca.

3 - Dantes, a Moral era um sentimento negativo. Agora é um pressentimento. Amanhã, será um calafrio.

4 - O espectáculo da desgraça tem duas razões escondidas: fazer-nos sentir bem porque não nos aconteceu a nós e prolongar a desgraça, uma vez que nos temos de adaptar ao que não muda.

5 - Com o vazio do Poder, a Povo começou a exigir a Lua, mas por despeito e consciente disso. Com a demissão dos intelectuais, os filhos abandonados aprenderam a ler com as lendas da carochinha e organizaram-se para roubar a Lua, porque na falta de Poder, a imaginação não é real, é compulsiva. Do Inferno que se segue, só nos resta pensar que as chamas, ao menos, iluminam esta escuridão absoluta.

6- Em teoria dos números, pensávamos que tudo se sucedia como uma enorme repetição dos dedos da mão. De repente afagamos um relvado e damos conta que se trata do pêlo de uma animal fabuloso, prestes a acordar.

7 - A luta mental é entre um mundo feito de alternativas e um mundo feito de conversões. Nem as alternativas se convertem, nem as conversões alternam. As alternativas aparecem mas só permitem. As conversões acontecem mas não conseguem. Conseguir não depende de nós e chegar ao fim, passar-se-á sempre além da nossa vontade.

8 - Uma das razões da Filosofia Ocidental estar com a doença de Alzheimer é a de que, provavelmente, a Mente vê as coisas, como um espelho reflecte as imagens. Até é natural, pois a pecepção não podia estar colocada à frente dos sentidos. Mas a imagem que a mente faz de si própria não tem espelho e inflama-nos. Daí a convivência culposa dos mais belos pensamentos com as acções mais bárbaras.

9 - Tanto prazer para os momentos de lazer! Quanto mais tortura nos momentos de Labôr, mais Prazer nas férias. Parecemos uns ratos doidos no Laboratório. Só nos resta recusar a ideia de que a Felicidade é equivalente ao Prazer, se não queremos enlouquecer definitivamente.

10 - A minha alma não tem sexo. Mas foi-lhe dado um corpo.

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