13.4.09

XV - (Re)Leituras -- The UN Security Council and the Politics of International Authority, editado por Bruce Cronin e Ian Hurd, por André Bandeira

(Como é Primavera, ninguém acha bera). Mais um livro de vários autores, desta vez aqueles ligados a Tony Blair, aos socialistas de armas na mão. Começo por evocar Antero de Quental: era um homem impulsivo, generoso e suicidou-se, penso eu por uma mistura explosiva de Amor e Honra. O livro diz que o grau de autoridade do Conselho de Segurança das Nações Unidas expande e contrai-se segundo a legitimidade dos seus membros. Antero suicidou-se porque não podia cumprir o seu dever de alimentar a sobrinha, o que era a única coisa que lhe restava da mistura de amor ao direito à Liberdade e ao dever de solidariedade. Irão as Nações Unidas acabar, se não reformam o número dos membros do Conselho de Segurança? Eu penso que é legítimo pensar que as Nações Unidas, resultado duma vitória na Segunda Guerra Mundial, têm de alterar o seu esquema de Directório do Mundo. Mas, para isso, teriam que ter um poder regulador económico que não têm, não poderão ter e não é bom que tenham. Portanto, só restará à ONU ser um modelo moral.E o modelo moral é sempre de poucos.
Cabe neste modelo moral, o direito a intervir à força em países, como o Iraque de Saddam, para sustentar os Direitos Humanos, ou secar o mar da Somália para acabar com os piratas, ou invadir o Paquistão para acabar com os terroristas que se reclamam do Islão? Todas estas questões eram tão legítimas como aquelas que a Sociedade das Nações nem sequer conseguiu formular ante a Alemanha Nazi, a Rússia Soviética, a Itália invasora da Abissínia e o Japão invasor da China. Eu penso que não, por uma razão complexa que reza assim: se a minha verdade (Lei internacional) é apenas particular, porque a Parte nasce antes do Todo, há partes mais diferentes do que eu poderei algum dia imaginar. Então, para ser justo, eu preciso de ter consciência do Todo. Mas Tudo saber é igual a tudo perdoar. Como nunca saberei tudo, terei de actuar (intervir), mesmo correndo o risco de ser injusto (provocar guerras). Mas quem me disse que devo actuar? Para fazer pior (acabar com regimes ditatoriais mas sustentar guerras sem fim)?! O que eu devo é extrair-me da minha ilusão do Todo, reconhecer a minha profunda ignorância e não pretender conquistar a Verdade. Extraindo-me do Todo, eu deixarei a Verdade, pelo menos, pura das minhas distorsões, não me confundirei com o Todo, ao qual pertenço (não farei a Lei substituir o Costume internacional). Como ensina a moderna Ciência atómica, afinal a Parte é um corredor para o Todo e é melhor que eu me concentre sobre o meu próprio Todo. Se um dia me dominar a mim próprio, já terei cumprido o meu destino histórico.Tudo o que eu disser será sempre parcial e, muitas vezes injusto. Quando muito poderei existir (inclusive defender o meu país no Estrangeiro), para que o meu Todo coexista com os outros Todos, porque as Partes, afinal, são muitos Todos, não há um único Todo e, se é assim, então, «Tudo» (e não Todo) são ligações que se religam quando parece que iam morrer (a Comunidade Internacional vai para além das Nações Unidas). Assim reza o credo pacifista: como podes desarmar o Mundo se não te desarmas primeiro (ou seja: deixa de actuar como se fosses o Centro do Mundo)?!O único Direito Humano é o Direito à Vida e estou certo que há uma forma das vidas todas poderem coexistir, apesar de tal ideia, em qualquer momento, parecer ilógica.Mas se a Vida fosse lógica, já a teríamos pisado por distracção.
Com isto, volto a entrar na máquina do Tempo e vou aparecer ao lado de Antero de Quental, em Angra do Heroísmo, quando ele se sentar no banco de jardim que tem «Esperança» escrito por trás e segurar-lhe com força a mão onde ele empunhou o revólver, dizendo-lhe:«Antero, não te mates. Nós precisamos muito mais de ti que do teu Amor e da tua Honra».

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