24.8.09
XXVII - (Re)leituras: a Encíclica Caritas in Veritate, de Benedito XVI, por André Bandeira
Esta Encíclica pretende dar a boa doutrina, para quem olha e lê o Vaticano (Umberto Bossi, Ministro nortista de Itália, parece que não, uma vez que entrou em colisão com o Vaticano quando se afogaram cerca de 70 imigrantes clandestinos ao largo da ilha de Lampedusa depois de andarem vários dias à deriva, sem que ninguém dos que passavam, os viesse socorrer).Há outros para quem o que o Vaticano diz, pouco interessa (no Norte de Itália, canta-se como hino o «Va Pensiero» de Verdi...pois eu digo «Non Va», que tropeça). Mas a «boa doutrina» desta Encíclica usa uma linguagem que, no tempo de Leão XIII, com a «Rerum Novarum», surtia efeito.Vejamos o estilo: a Rerum Novarum começa por alertar contra as ideias novas, no fim do Séc. XIX, mas acaba a ajudá-las a passar.É portanto, um sarcasmo bondoso. Já a Encíclica de Benedito XVI usa fórmulas metafóricas em que a linguagem é a do socialismo mas que podem ser interpretadas favoravelmente quer por comunistas, quer por fascistas, que se considerem honestamente cristãos.A linguagem , portanto, serve a muitos mas não satisfaz todos. É claro que Bento XVI não conhece as loucuras do socialismo que fazem uma mandatária para a juventude de um Partido Socialista declarar publicamente que detesta perder e prefere fazer batota a perder, ou que só come cerejas e uvas quando a criada (direi «técnica de superfície») lhes tira previamente os caroços e graínhas. Uma declaração assim, de uma jovem, pode muito bem significar a derrota de umas eleições, do mesmo modo como algumas afirmações da «boa doutrina» de Bento XVI podem, por incrível que pareça, salvar uma Encíclica assim tão doutoral, cheia de metáforas que nos deixam a dormir. Pego em duas: subrepticiamente, Bento XVI, critica o hinduísmo e a New Age pela sua estrutura mágica (p. 55). Estou de acordo: a magia existe e é um dos piores inimigos dos cristãos, o que significa que quando ela está associada a uma religião, não se deve ter medo de criticar esta última. Segundo: em Ciência, a «Grande Final» desta época parece desenrolar-se nas ciências do cérebro e, aí, só há duas alternativas (p. 74): ou tecnologia, ou valores. Estou de acordo também. Por mais pujante que seja a Ciência, mesmo a Ciência da Ciência da Ciência, espera aí que já me perdi e, como dizia o Tótó «não consigo dormir. Quando apago a luz, vejo os olhos da Consciência». Bom, apaguem a luz. São horas de dormir, com uma boa piada do Tótó.
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