4.11.10

LVII - Eta Mineiro...Jeito de Ser, de Olavo Romano, por André Bandeira

Este livro, do académico mineiro Olavo Romano, é uma chuva de Verão, em sentido de humor e perspicácia. O autor, tendo nascido em Morro de Ferro, no então remoto distrito de Oliveira, em Minas Gerais, trouxe consigo o tesouro da fala e da inteligência do Povo que o viu nascer. Os  sessenta e seis textos são todos sábios e reais, sem excepção, mas o meu preferido é «O Elogio». Que os tropeções da reconversão do Português de Portugal, para o Português do Brasil, me vacinem contra fazer um discurso público, assim, algum dia. Mas pode ser que aconteça (espero bem que não). Este tipo de literatura, como a que Olavo Romano nos apresenta nesta colectânea de textos de outros volumes da  sua Obra, têm o dom de nos ensinar e de nos divertir, chegando mesmo a dar-nos a sensação que o Mundo pode ser um lugar maravilhoso e que a Lógica e a Inteligência, correndo sempre duma fonte inesgotável, não se detêm em lado nenhum, aflorando quando menos se espera. Os textos fazem-me lembrar aquilo que Madonna, a cantora Rock, procurava quando lhe deu a fase, entre dois namorados novos e mais um programa de ginástica radical, de se virar para estudar a Cabala. No enxurro jornalístico que então expediu, disse-se que os cabalistas estudavam então qual é o cimento que une toda a Humanidade. Compreende-se que, numa saudável divulgação de que há homens que insistem em estudos místicos (o que não foi saudável foi divulgar-se isso, só porque a Madonna decidiu), se divulga também que há quem procure a salvação em algo específico da Humanidade. Pois estes 66 textos de Olavo Romano filtram esse cimento que nos une a todos. E não pude deixar de pensar num escritor muito interessante, português, António Cagica Rapaz, nome bem de Pescador, da antiquíssima vila de Sesimbra, trinta Kms ao sul de Lisboa, o qual escreveu um livro muito semelhante referindo-se à sua terra: 90 e tal Contos. Tive uma enorme dor quando o António nos abandonou, ano passado, sem a divulgação que merecia, fulminado por um tumor que não merecia, nem ninguém esperava. Mas tudo isto me lembrou que este estilo de escrever, de quem dá testemunho, até vindo de escritores pouco divulgados como foi o caso do Cagica Rapaz, entre outras coisas, fazem uma ponte comprida entre os Pescadores de Sesimbra e os Lavradores de Minas Gerais.