21.11.10

LIX - (Re) Leituras - A Escrita da Finitude, organização de Lélia Parreira Duarte, por André Bandeira

Esta colectânea de vinte autores foi-me oferecida pela organizadora, Professora da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. E foi no contexto de um colóquio sobre a Morte, com a presença dos sociólogos Michel Manffesoli e Moisés Martins. A morte não está na moda, mas está aí.Um shintoísta ou um budista tibetano sabem que dá sorte contemplar esqueletos ou ter mesas feitas com ossos. Quanto mais se contempla a morte, mais a vida se levanta da cama desalinhada da nossa mente e vai à vida. Mas quando a vida começa a ser mais recheada de «bem-estar» (ponho entre aspas porque os autores escolhidos, como Lobo Antunes, Autran Dourado, ou Jorge de Sena, não demonstram bem-estar nenhum) então tem-se que cuidar dos moribundos, dos velhos e dos aposentados que não querem morrer, siderados que estão no Bem-estar. Sobre a Morte, já se disse muito. Sobre a desgraça e a aflição diz-se pouco, porque não vendem nada e esta literatura da morte instila um certo bem-estar (os autores têm prazer a escrever sobre uma tema tão digno). Mas, em Política, eu tenho de dizer qualquer coisa: os anos sessenta deram o poder, no Ocidente, a muitos adolescentes que não saíram da adolescência. Talvez os adolescentes no Poder sejam aqueles que abrem as portas da cidade, aos bárbaros.E Santo Expedito, vestido de legionário romano, diz-nos com a cruz bem levantda na mão: «Hodie!», ou seja «É hoje!». As Esquerdas -- como estes textos, sobre a Morte, uma mistura de vidas introspectivas ou egocêntricas -- são uma série de Direitas mal realizadas. Ora a Vida -- dizia Bichat, o médico francês -- é o conjunto das forças todas que resistem à Morte, desde um copo de cachaça a uma Oração.Pois só me resta dizer algo contra esta -- muito bem organizada e refinada -- colectânea da indústria da Morte:quando se inventa um reino do outro lado do espelho, ou suspenso no vazio do precipício, esquece-se a hora que passa, cheia de minutos para preencher. Eu sei que é apenas Fé, mas é melhor uma Fé para juntar os ossos desconjuntados dos nossos sentidos, uma Fé ainda como acto de Vida e dizer aquilo que dizia o Evangelho: Oh Morte, onde está o teu Poder?!

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