12.1.11

LX (Re)leituras - Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, por André Bandeira

Não gostei do Romance. Fiz um grande esforço para ler este capítulo único de 623 páginas. Estou farto de Riobaldo e, quanto à relação dele com Diadorim-Reinaldo.Dizer que Diadorim, afinal era uma mulher, a dez páginas do fim, não convence nem um ingénuo. Por outro lado, o tenente Euclides da Cunha, o autor de «Os Sertões (a campanha de Canudos)» relativo à Guerra movida pela República brasileira ao povo monárquico do Nordeste, no fim do Séc. XIX,era muito mais emotivo que Guimarães Rosa mas teve a enorme responsabilidade, e o feito, de salvar a honra do Povo do sertão. Morreu num duelo e, como o matemático Cauchy, foi genial, talvez porque o seu objecto -- como o de Cauchy -- ou sejam, Antônio Conselheiro e Canudos, foram de carne e osso, enquanto a jagunçada de Guimarães Rosa é pura fantasia. Concedo que Guimarães Rosa é autor de alguns dos melhores aforismos da Língua Portuguesa e todo o livro é engraçado, cheio de verdades e até de frases que foram merecidamente usadas no discurso oficial em Brasília. Mas este livro é todo um adiamento, e a celebração do não-importa-o-quê como revelação dos deuses,antes das botas cardadas de Estaline institucionalizarem o não-importa-o-quê como stress produtivo. É a modernidade por orgulho e vaidade, antes de passar a vício. Realmente o «Realismo fantástico» de Cortázar, Asturias, e Garcia Márquez corresponde ainda ao apodrecimento dos europeus nos trópicos do Novo Mundo, mesmo que Llosa apanhe os cacos e os ate todos com uma gravata de sêda. À falta de filósofos -- ou melhor: ante o desprezo destes -- arruma-se um xamã sincrético que é actor e Realizador do seu próprio filme, largando em transe, uma enxurrada verbal. Claro que muitas verdades e uma bela sinfonia, marcam a cena, mas Guimarães Rosa, pelo menos por aqui, não nos dá nenhum Pensamento. Só nos dá uma Mentalidade. Todo o Pensamento é relativo, mas não pode ser evitado num romance social e linguístico como é este. E não se pense que a ausência de Pensamento pode ser substituída pela verosimilhança de uma grande representação. Guimarães Rosa é um Actor. Uns dirão: actor da sua própria História. Como se a vastidão do Universo, em torno da História, para além do palco e das portas do Teatro, não tivesse consistência! Passemos ao seguinte, nesta linha de quem se diz preocupar com os outros, só para que desviemos a atenção de nós próprios, e vamos ver se é mais substancial: vou ler mais Leonardo Boff. E, sobretudo, vou ler Chico Xavier!

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