No passado fim-de-semana, esteve em Lisboa Josep Carod-Rovira, o líder da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC). O senhor Rovira veio a Portugal falar-nos da Ibéria. Declarou ao semanário "Expresso", também na passada semana: "Devemos passar de uma concepção unipolar do Estado para uma outra multipolar, que passe por Lisboa, Barcelona, Bilbau, certamente por Sevilha, e juntos poderemos acabar de alguma forma esta península que nunca foi concluída." Helena Matos alertou para este ponto.
Como defensor da Aliança Peninsular, entendo que que a Península tem dois pólos - Lisboa e MAdrid. Ambos devem estar unidos para projectar no mundo ibero-americano e africano os afectos e os interesses comuns. Ambos devem separar-se no quadro regional, que abrange Marrocos e o triàngulo Atlântico -Açores, Madeira, Canárias, e Cabo Verde - o que separa as duas nações-estado-sociedades.
O dirigente catalão Rovira tem, como lhe cabe, uma visão provinciana da questão. Por razões partidárias nem lembra a Galiza e , muito menos, Castela. É um discurso oportunista à pesca de apoios também oportunistas. Anda a dar recados no local errado porque desde 1640 que resolvemos este problema com a ajuda dos Restauradores e da protodemocracia de francisco Suaréz. A Catalunha poderá ser uma nação, como reconhece a Constituição Espanhola de 1975; mas querer repetir o apetite de Estado em 2005 é patético.
31.1.05
28.1.05
Batalhão 745
Timor Leste: Setembro 1999. Após o voto pela independência, o massacre. As autoridades militares indonésias negaram a responsabilidade no massacre de centenas de Timorenses. O Christina Science Monitor investigou o papel desempenhado pelo BAtalhão 745 das ABRI em 21 matanças e desaparecimentos durante esses dias, incluindo o assassinato de Sander Thoenes, jornalista desse órgão. O retrato dos últimos dias brutais do batalhão 745. MAis uma vez; só morrendo americanos, é que se sabe o que se passa.
http://www.csmonitor.com/atcsmonitor/specials/timor/index.html?leftNavInclude
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26.1.05
Confissões de um assassino económico
CONFESSIONS OF AN ECONOMIC HIT MAN, by John Perkins. (Barrett-Koehler, $24.95.)
Há muito que se afirma que o FMI e o BM constituem "um império do mal." É preciso explicar isso de um modo diferente do Prof. Francisco Louçã.
As duas "instituições financeiras internacionais" foram fundadas em 1945 como "BOAS". O FMI ajudaria os países que tentavam manter as moedas ligadas ao dólar nos termos do acordo de Bretton Woods. O BM emprestaria o dinheiro dos países ricos com juros baixos aos países pobres.
Mas o processo foi corrompido quando o FMI e o BM passaram a ser controlados pelas multinacionais e seus bancos, com ajuda dos EUA , depois de o presidente Nixon, aconselhado por George Schultz e outros ter abandonado o padrão ouro em 1971.
Que sucedeu quando o FMI perdeu a razão de ser? 1) Os grandes bancos tiveram que pensar em emprestar os dólares de papel acumulados em excesso – e que sem ligação ao padrão-ouro perdiam valor todos os dias. 2) Alguém se lembrou poderiam emprestar aos países pobres e remediados, cujos governos tinham que pagar os empréstimos ou perder os ratings de crédito internacionais. 3) Se esses países não pagassem, a solução seria trazer o FMI, que procurava justificar a sua existência, para recolher o débito. Bastava convencer o Congresso Americano a encher o FMI e o BM com uns biliões de dólares, ir ao país em dívida e dizer-lhe: "Damos-lhe este dinheiro para pagar aos Bancos privados, mas vai subir os impostos e desvalorizar a moeda corrente!” Stop and Go, para o mundo girar.
Os banqueiros não são más pessoas. Mas querem dinheiro para os seus bancos e não ligam ao estado em que deixam os devedores. Apenas a existência de um contra-valor , como seja o regresso ao padrão-ouro, permitiria evitar que quem controle o dinheiro, controle o governo. A Bechtel e a Halliburton florescem mesmo que empobreçam os mais pobres países do mundo.
Há trinta anos era George Schultz, agora é Dick Cheney. Outros virão, nesta longa recta final dos EUA.
São estas as confissões de John Perkins, um soldado arrependido do exército económico cujos generais triunfam menos porque precisam agora de chamar os militares reais. Durante vinte anos , não escreveu o livro porque lhe deram 500.000 dólares para estar calado. Não morreu assassinado como Omar Torrijos, e por isso podemos ler o livro ou os resumos na net.
Há muito que se afirma que o FMI e o BM constituem "um império do mal." É preciso explicar isso de um modo diferente do Prof. Francisco Louçã.
As duas "instituições financeiras internacionais" foram fundadas em 1945 como "BOAS". O FMI ajudaria os países que tentavam manter as moedas ligadas ao dólar nos termos do acordo de Bretton Woods. O BM emprestaria o dinheiro dos países ricos com juros baixos aos países pobres.
Mas o processo foi corrompido quando o FMI e o BM passaram a ser controlados pelas multinacionais e seus bancos, com ajuda dos EUA , depois de o presidente Nixon, aconselhado por George Schultz e outros ter abandonado o padrão ouro em 1971.
Que sucedeu quando o FMI perdeu a razão de ser? 1) Os grandes bancos tiveram que pensar em emprestar os dólares de papel acumulados em excesso – e que sem ligação ao padrão-ouro perdiam valor todos os dias. 2) Alguém se lembrou poderiam emprestar aos países pobres e remediados, cujos governos tinham que pagar os empréstimos ou perder os ratings de crédito internacionais. 3) Se esses países não pagassem, a solução seria trazer o FMI, que procurava justificar a sua existência, para recolher o débito. Bastava convencer o Congresso Americano a encher o FMI e o BM com uns biliões de dólares, ir ao país em dívida e dizer-lhe: "Damos-lhe este dinheiro para pagar aos Bancos privados, mas vai subir os impostos e desvalorizar a moeda corrente!” Stop and Go, para o mundo girar.
Os banqueiros não são más pessoas. Mas querem dinheiro para os seus bancos e não ligam ao estado em que deixam os devedores. Apenas a existência de um contra-valor , como seja o regresso ao padrão-ouro, permitiria evitar que quem controle o dinheiro, controle o governo. A Bechtel e a Halliburton florescem mesmo que empobreçam os mais pobres países do mundo.
Há trinta anos era George Schultz, agora é Dick Cheney. Outros virão, nesta longa recta final dos EUA.
São estas as confissões de John Perkins, um soldado arrependido do exército económico cujos generais triunfam menos porque precisam agora de chamar os militares reais. Durante vinte anos , não escreveu o livro porque lhe deram 500.000 dólares para estar calado. Não morreu assassinado como Omar Torrijos, e por isso podemos ler o livro ou os resumos na net.
25.1.05
BUSH carrega na tecla RESET
Na imprensa americana, o Discurso Inaugural do Presidente George W. Bush é elogiado por admiradores como idealista e recusado por críticos como sendo vazio e irrealista. Ambos têm a sua parte de razão. Como as razões originais para a guerra do Iraque não se mantiveram, Bush tocou no botão RESET e apresenta a versão idealista da propagação da liberdade no mundo.
Como disse BRZEZINSKI em entrevista, se o discurso fosse levado a sério, implicaria uma cruzada global dos EUA contra Estados com os quais têm interesses comuns, mesmo que não apreciem as respectivas políticas externas. Entraria em conflito com a China que não é uma democracia, vg.Tibete? Como agiria para com a Rússia e os seus Chechenos ? Como agiria com Israel, que é um amigo dos EUA, que tem de se defender dos terroristas palestinianos mas que também oprime os palestinianos ?
Como retórica, há quem goste do discurso da liberdade mas a referência ao "fogo que arde no espírito humano" faz lembrar as velhas promessas gnósticas da centelha que arde no iluminado que tudo sabe. Como ponto de partida para uma política externa, o discurso é preocupante.
Os amigos do presidente estão a usar o discurso como uma promessa de solidariedade para com tibetanos, sauditas e quaisquer outros que se sentem oprimidos nos seus direitos.
Mais realisticamente, os EUA talvez venham a intervir contra Estados fracos mas em termos práticos nunca interviriam contra Estados fortes. Não é muito diferente do expansionismo soviético.
Como disse BRZEZINSKI em entrevista, se o discurso fosse levado a sério, implicaria uma cruzada global dos EUA contra Estados com os quais têm interesses comuns, mesmo que não apreciem as respectivas políticas externas. Entraria em conflito com a China que não é uma democracia, vg.Tibete? Como agiria para com a Rússia e os seus Chechenos ? Como agiria com Israel, que é um amigo dos EUA, que tem de se defender dos terroristas palestinianos mas que também oprime os palestinianos ?
Como retórica, há quem goste do discurso da liberdade mas a referência ao "fogo que arde no espírito humano" faz lembrar as velhas promessas gnósticas da centelha que arde no iluminado que tudo sabe. Como ponto de partida para uma política externa, o discurso é preocupante.
Os amigos do presidente estão a usar o discurso como uma promessa de solidariedade para com tibetanos, sauditas e quaisquer outros que se sentem oprimidos nos seus direitos.
Mais realisticamente, os EUA talvez venham a intervir contra Estados fracos mas em termos práticos nunca interviriam contra Estados fortes. Não é muito diferente do expansionismo soviético.
20.1.05
A folha de parra
Condoleeza Rice foi confirmada pelo Foreign Relations Committee como Secretária do Estado. A dúvida que se põe é se o seu desempenho será igual ao de Colin Powell ou se será mesmo neo-conservadora. Os fracos esforços de paz de Powell foram utilizados como folha de parra para tapar as iniciativas unilaterais americanas.
Conseguirá Rice ser diferente ?
Nos interrogatórios, o senador Chafee sugeriu-lhe que, perante os Estados bandidos e falhados e os líderes anti-americanos da Ibero-América, usasse a diplomacia ping-pong do Presidente Nixon em 1969, que trouxe a China de volta à comunidade global. Rice mal reagiu a isto.
O Senador Coleman, neo-conservador, afirmou que não esperava qualquer tentativa de fazer a ponte para como o Irão. Condoleezza sorriu e aprovou sem sequer dizer palavra. Não augura nada de bom.
Conseguirá Rice ser diferente ?
Nos interrogatórios, o senador Chafee sugeriu-lhe que, perante os Estados bandidos e falhados e os líderes anti-americanos da Ibero-América, usasse a diplomacia ping-pong do Presidente Nixon em 1969, que trouxe a China de volta à comunidade global. Rice mal reagiu a isto.
O Senador Coleman, neo-conservador, afirmou que não esperava qualquer tentativa de fazer a ponte para como o Irão. Condoleezza sorriu e aprovou sem sequer dizer palavra. Não augura nada de bom.
17.1.05
Bondgirls e crianças mortas
Os neo-conservadores e seus aliados neo-liberais decidiram que o Presidente russo Vladimir Putin é o mais recente "fascista". Nicholas Kristof do NYTimes apresenta-o como o novo Mussolini ! Não há como os columnistas políticos, para se divertirem em fazer ondas. O problema é que se aplaude a "Revolução Laranja" na Ucrânia com o mesmo entusiasmo com que se fez guerra ao Iraque.
Segundo Justin Raimondo, o antiwar.com, Kristof anda a vender a retalho aos liberais o que os neocons têm vendido por grosso: a Rússia pretende reverter ao Estalinismo (ou fascismo). A etapa seguinte será o grito de alarme sobre o "rearmamento" russo; é preciso cercá-los do mar de Báltico ao Cáspio, com revoluções "democráticas"; com revoltas na periferia em direcção ao centro. Nova guerra fria para exportar a "democracia" e "mercado livre." Pat Buchanan alerta para o mesmo.
A nova Russofobia promete algo para todos. Se a Rússia não se dirigir para o fascismo, faz-se uma zaragata e o público americano começará uma nova guerra das civilizações. Zbigniew Brzezinski também considera Putin como um regresso ao Estalinismo. Ele e Kristof eram anti-guerra aquando do Iraque. Mas os conservadores e liberais estiveram unidos na oposição ao comunismo russo. As forças das trevas nunca dormem e achavam a guerra fria tão divertida quanto os filmes de James Bond. Só que em vez de Bondgirls, servem danos colaterais e crianças mortas.
Segundo Justin Raimondo, o antiwar.com, Kristof anda a vender a retalho aos liberais o que os neocons têm vendido por grosso: a Rússia pretende reverter ao Estalinismo (ou fascismo). A etapa seguinte será o grito de alarme sobre o "rearmamento" russo; é preciso cercá-los do mar de Báltico ao Cáspio, com revoluções "democráticas"; com revoltas na periferia em direcção ao centro. Nova guerra fria para exportar a "democracia" e "mercado livre." Pat Buchanan alerta para o mesmo.
A nova Russofobia promete algo para todos. Se a Rússia não se dirigir para o fascismo, faz-se uma zaragata e o público americano começará uma nova guerra das civilizações. Zbigniew Brzezinski também considera Putin como um regresso ao Estalinismo. Ele e Kristof eram anti-guerra aquando do Iraque. Mas os conservadores e liberais estiveram unidos na oposição ao comunismo russo. As forças das trevas nunca dormem e achavam a guerra fria tão divertida quanto os filmes de James Bond. Só que em vez de Bondgirls, servem danos colaterais e crianças mortas.
15.1.05
E os pesadelos serão verdadeiros?
Os sonhos não eram verdadeiros; e os pesadelos serão?
Destaco o programa a ser emitido pela BBC 2 - The Power of nightmares - Transmissão durante três noites, de terça-feira 18 a quinta-feira, 20 janeiro, a começar às 23H20.
No passado os governantes ofereciam sonhos de um mundo melhor. Agora prometem proteger-nos dos pesadelos. O mais terrível pesadelo é a ameaça de uma rede terrorista internacional. Os sonhos não eram verdadeiros; e os pesadelos serão?
Dois grupos em confronto: os neo-conservadores americanos e os fundamentalistas islâmicos. Juntos criaram o pesadelo de uma rede terrorista organizada. Uma imagem que ajudou os governantes a restaurar o poder numa idade de desilusões. O mundo mudou mas não como eles pretendiam. Ainda mudará mais. Os que possuem os medos mais tenebrosos transformaram-se nos mais poderosos.
Destaco o programa a ser emitido pela BBC 2 - The Power of nightmares - Transmissão durante três noites, de terça-feira 18 a quinta-feira, 20 janeiro, a começar às 23H20.
No passado os governantes ofereciam sonhos de um mundo melhor. Agora prometem proteger-nos dos pesadelos. O mais terrível pesadelo é a ameaça de uma rede terrorista internacional. Os sonhos não eram verdadeiros; e os pesadelos serão?
Dois grupos em confronto: os neo-conservadores americanos e os fundamentalistas islâmicos. Juntos criaram o pesadelo de uma rede terrorista organizada. Uma imagem que ajudou os governantes a restaurar o poder numa idade de desilusões. O mundo mudou mas não como eles pretendiam. Ainda mudará mais. Os que possuem os medos mais tenebrosos transformaram-se nos mais poderosos.
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