14.7.06

Pad' Zé - O Cavaleiro da Utopia", de João Mendes Rosa


Acabei de receber hoje "Pad' Zé - O Cavaleiro da Utopia", de João Mendes Rosa, edição da JF de Joanes, no Fundão, 2000. Agradeço ao autor. Primorosamente bem escrito, antes de mais! E para além do objecto próprio de estudar o folgazão das Beiras - o homem das anedotas do dr. Assis, das pilhérias de Coimbra, do estudante que organizava a turma a rir por bancadas das piadas do dr. LAranjo, Alberto António da Silva e Costa (Pad' Zé) foi-me revelado como advogado e jornalista ,incansável nas pilhérias e sedento de uma " sociedade republicana " onde a lealdade desse às maõs à inteligência. Felizmente morreu antes de ver o resultado do 5 de Outubro.
Deixei para outra altura as leituras sobre os episódios chamemos-lhe de "para além da porta Férrea", a cultura sui generisde lentes, sebentas e tertúlias do que foi durante séculos o único campus universitário português, onde ser futrica era estar a mais numa cidade cujo coração vivia compassado pelo toque da "cabra". Tudo isso fica para depois, até porque a minha aldeia é a Universidade de Lisboa, e tenho presente o célebre comentário de Fernando Pessoa sobre a lusa Atenas.
Mas lancei-me qual Zidane e li compulsivamente os capítulos em que Mendes Rosa lança luz abundante sobre a preparação, a execução e sobretudo, o encobrimento do Regicídio. Desde o livro de Sanches de BAena, prefaciado pelo dr. António Reis, agora Grão-Mestre do GOL, que não se fazia tanta luz sobre um tema decisivo do séc. XX.
Mendes Rosa - amigo de velha data e velhas cepas - escreve com fibra de historiador, com alma de literato, com ganas de jornalista e com astúcia de detectuive. São parágrafos sucessivos em que as citações exumadas daqueles inconcebíveis jornais republicanos - "O Mundo" (O imundo, claro) "O Século" - e do memorialismo abundante e fervente da época, nos deixa pasmados pelo rigor da concatenação dos argumentos e pelo brilho das metáforas. Podemos chorar com os crimes de sangue da Carbonária - que " suicidava " os arrependidos", os " temerários"; ou podemos rir com os " gatos-pingados da eloquência democrática" que vinham cobrir-se de penas após encomendados assassinatos. Mendes Rosa passeia-nos com mão de cicerone dantesco pelo relativo inferno do fim de século português que se arrastou séc. XX adentro. Quem quiser sentir de perto o Pad Zé, natural de aLDEIA DE Joane, poderá ir ao Cemitério dos Prazeres, Gavetão Municipal nº305. Talvez lá vá um dia! Depois de ler o resto do livro! Por este, obrigado ao historiador João Mendes Rosa, professor em Salamanca e exercendo o seu mester no Fundão.

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