10.1.07

O “churrasco” da Direita Republicana

Neste fim de ano de 2006, parece que o desporto favorito da Direita Republicana Portuguesa é o churrasco dos seus líderes partidários, mas em fogo muito brando. No PSD o "assado" é o dr. Marques Mendes. No PP CDS, é o dr. Ribeiro e Castro. Há razões naturais e outras anti-natura para este procedimento.
A razão natural é que, perante a eventual consolidação da dupla Sócrates-Cavaco até 2009, a Direita Republicana sente que alguma coisa deve ser feita para robustecer a oposição. Vão ser quase 3 anos de oposição complicada. Como os dois grandes ausentes – Marcelo e Portas - ainda não sentem o momento conveniente - descansam a dar sermões na televisão e nos semanários. Quem actua são os “grupos de retirada”. Os Drs. António Pires de Lima, Nuno Melo e Telmo Correia, cada um à vez, acorrem para discutir a liderança do PP. No PSD, o panorama é mais complexo; o dr . Marques Mendes vai sofrendo assaltos do nortenho Meneses que, por sua vez sofre, os assaltos do prof. Marcelo enquanto a dra.ª Paula Teixeira da Cruz ataca na frente Sul. Uma evidência que entra em casa quase todos os dias, é esta balcanização da direita republicana portuguesa.
Mas o procedimento é anti-natura porque o "churrasco elitista" em lume brando dos líderes eleitos, até à véspera das legislativas de 2009, faz mal à democracia. Em vez de se concentrarem nos problemas económicos e sociais com solução política, concentram-se nos problemas de poder interno, cujas soluções não interessam senão a uma oligarquia de umas 3000 pessoas na Grande Lisboa e bastante menos - peço desculpa ao Porto - no Grande Porto. Que o país seja representado por políticos quezilentos que falam para as câmaras de TV como quem condescende em dar pérolas a porcos, como quem faz brilharetes para os amigos mas se está a marimbar para tudo excepto nos cargos, faz muito mal à democracia e à confiança dos eleitores. O ataque aos líderes eleitos e a procura de um líder ausente, em jeito de “mulheres à beira de ataque de nervos”, ofende a inteligência dos eleitores. E este género de exercícios de hipocrisia política são nocivos para quem os pratica e dão mau nome à política e aos políticos da república. No caso do CDS, todos já perceberam o ambiente de guerra aberta entre Ribeiro e Castro e o grupo parlamentar constituído por antigos dirigentes afectos a Paulo Portas. “ Afectos?” Dir-se-ia “ afectados” O mais espantoso é que a Direita Republicana tem dirigentes partidários eficazes. Mas esses não podem falar. Onde está Maria José Avillez no CDS? Onde está no PSD o tal António Borges?
A quem interessa esta situação de “balcanização” da Direita Republicana ? Numa palavra, à Esquerda e ao Big Business. A primeira continua a predominar na comunicação social. Assim, interessa-lhe alimentar o churrasco. Lentamente. Age muito bem, em termos políticos. Parabéns ao discreto dr. Pedro Silva Pereira. Uma vez que o recrutamento de dirigentes partidários na Direita deixou de ser conduzido pelo sentido de interesse nacional e por Causas, passou a servir objectivamente apenas o status quo e os médios e grandes grupos económicos. Quanto ao Big Business vive bem. Para quê incomodar-se com líderes da oposição, se tem o líder do governo pelo seu lado? Assim desinteressa-se do caso, deixando o terreno para actores menores
Bem gostaríamos que a Direita Democrática Portuguesa fosse mais digna. O eleitorado assim o merece com a sua espantosa constância de voto nos 2+ 2 partidos, uma constância que tornou Portugal um case-study de toda a politologia europeia. Os próprios partidos democráticos - que prestaram um serviço ao país após o 25 de Abril, afastando o espectro totalitário – mereciam melhor e deviam ser restaurados na formação de quadros, juventudes, debate interno, proximidade aos eleitores, etc. Onde isso já lá vai! –
Mas enquanto a Direita Democrática for republicana, auguro o pior! Não tem princípios, não tem causas, não tem desígnio senão passar de oposição a poder. Qual o espanto que se entretenha com o churrasco dos seus dirigentes?

10 comments:

JSM said...

Caro MCH
Muito bem visto. Em primeiro lugar, o sorriso de satisfação do patronato não engana. Isto está bom, Sócrates é fixe!
Em segundo lugar, como salienta, a tal direita republicana é pior que a esquerda! O problema é que, por questões sociológicas que vêm de trás (e porque somos um país pequeno) pertencem ao meu 'mundo' convencional. É caso para perguntar, onde estão os monárquicos?
Um abraço.

mch said...

Ora aí está precisamente o que eu queria sucitar. Onde estão os monárquicos ?
Eu não sou PSD mas repito-lhe o seguinte que me disseram: O problema dos partidos de Centro (mais à esquerda ou mais à direita) é que lhes falta líderes com "visão", que mostrem que sabem minimamente do que estão a falar e que mandem. Os actuais são sérios, determinados, mas falta-lhes algo que lhes possibilite aparecer como alternativa. Ha´quem diga que estão apertados pela política "neo-liberal e anti-gente de sucesso" do Governo. Ora, ora, mas essa não foi o mesmo tipo de política que os governos socialistas tiveram de adoptar em 1977-79 e em 1983-85, então apertados pelas Cartas de Intenção do FMI? E Sá Carneiro e Cavaco Silva ganharam em 1979 e em 1985.Arranje o PSD uma pessoa credível e com um programa simples, mas de Esperança ( se for com Rei , tanto melhor) e verão a volta . Os monárquicos deveriam estar aí.

Anonymous said...

O Churrasco parece uma boa metáfora para sinalizar o comportamentos fratricida dos actores no palco da política.

E na Europa como será? A ""liderança"" da UE é uma brincadeira de lego atómico com efeitos de auto-flagelação... E dp ainda temos de ouvir os sermões sobre os maus resultados da economia nacional por parte daqueles que contribuíram para a agaravar.

Facto inédito na conjuntura politico-partidária nacional parece ser a deslocação do centro de conflitualidade: dantes o psd combatia o ps, este adversariava com aquele; do cds/PP nem se fala, aquilo é um ninho de cobras; hoje, ao invés, as oposições são intestinas, fratricidas...E se a coisa se generaliza ainda teremos uma guerra civil..Safa)))


O que nos salva é que temos um PM q lidera um governo socialista que 1º foi do psd; temos um PR que foi do psd mas que hoje se entende com o ps. Está tudo trocado neste nosso reininho podre da Dinamarca...arca, arca)))

Cumprimenta
E, já agora, um Bom Ano de 2007
RPM
Macro

mch said...

Caro RPM do MAcroscópio e outras andanças. Obrigado por seus votos. Bem preciso e ainda para mais fiz anos ontem. Como me conhece verá que ao acrescentar Republicana à ÁREA Centro Direita, eu quero indicar que ou a área sacode o seu centro de negócios instalados e restaura dirigentes com esperança e sensatez ou está condenada ao jugo da área do Centro Esquerda, com outros negócios instalados. Tem toda a razão Sócarte e Cavaco gémeos. E o rei que não regressou...

João Gomes said...

Professor,

Em primeiro lugar o meu obrigado por me ter dado a honra de comentar no meu blog, ainda por cima tratando-se de uma critica a um livro por V. escrito.
Quanto ao actual estado da direita concordo na totalidade. O problema é que Portugal, não tem, nem nunca teve uma direita monárquica credível. Basta para isso observarmos o estado do PPM desde a saída do Arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles. Que se veio sempre a degradar, atingindo agora o apogeu de se ter coligado a Santana Lopes e ser comandado por um pseudo pretendente ao trono que não reconhece nem o Pactode de Dover, nem o de Paris.
Mas a verdadeira questão é se deve existir uma direita monárquica. Na minha opinião não. A monarquia estende-se muito para lá da esquerda e da direita, e o Rei só faz sentido existir se conseguir estar acima de qualquer doutrina ideológica.
Vejamos pois, sou de esquerda e defendo um modelo economico semelhante aos estados escandinavos (predominantemente monarquias) e do ponto de vista social defendo um modelo liberal de esquerda, como o holandês (outra monarquia). O que é que isto tem de direita? Nada. Aliás, a estabilidade destes países é conseguida através da monarquia, que consegue estar acima de qualquer concepção política da sociedade.
Mas de qualquer maneira não me considero monárquico, mas muito menos republicano.

alexandre simas dias said...

Camaradas,

Assim como a república se implantou por telex, não creio que a monarquia se restaure por email.

A discussão não pode ser de regime, creio que temos sim de falar de acção.

A acção política desenrola-se hoje na praça pública televisiva. E quem edita esses conteúdos é quem governa. E governa pelos silêncios, na penumbra coberta pelo biombo do chavascal pornográfico do "churrasco".

Mas o que arde é o nosso Bem Comum.

As regas automáticas com água de Castelo de Bode que ensopam canteiros sem vitalidade ecológica, a transbordar para o alcatrão, faça chuva ou faça Sol.

O urbanismo corrupto da responsabilidade da Administração Local e Central, das nossas Universidades, e de todos nós que há mais de trinta anos ignoramos as advertências e as denúncias de Gonçalo Ribeiro Teles.

A partilha democrática do nosso Bem Comum começa de manhã quando nos levantamos, quando saímos de casa e no correr do dia, quando actuamos comprometidos ou não com os nossos concidadãos.

A gestão do Bem Comum é devida aos Aristocratas, noção pulverizada pela saudade de uma Pólis fantasiada.

Hoje não há aristocratas. Somos todos burgueses com trezentos anos de esclerose, em busca de títulos nobiliárquicos conferidos por um apartamento na Lapa, umas férias no Dubai e um Jipe que galgue as nossas estradas intransitáveis.

Somos aristocratas de salão, somos filósofos de blogoesfera.

Não precisamos de programas de “esperança”. A esperança é muitas vezes eficiente, mas raramente eficaz.

O compromisso para Portugal tem de ser o compromisso da abdicação.
Eu abdico da minha parcela de luxo para reduzir a Pobreza de outro, mas isso é possível se ficar à espera que os restantes dêem o primeiro passo?

Jesus disse para darmos a outra face, mas também nos entregou a espada.

Mas a espada tem-na quem tem o Poder. E quem tem o Poder não abdica dele. Manobra na penumbra e alimenta a Telenovela do Jornal das Oito com actores políticos recrutados em boticos queirosianos. São fala-baratos.

“(...)O problema dos partidos de Centro (mais à esquerda ou mais à direita) é que lhes falta líderes com "visão", que mostrem que sabem minimamente do que estão a falar e que mandem.(...)”

Nem mais.

Não há ninguém que queira avançar?

mch said...

Caro João Gomes:
Acho que tocou todos os pontos certos que eu queria dizer. 1- Talvez eu me explicasse melhor se dissesse centro-direita republicana em vez de só Direita. (raciocínio análogo para centro esquerda republicano, tanto mais que por cá, como na Catalunha, por exemplo existe esquerda radical)
Isso explica que a grande questão política Portuguesa é a conquista do Centro. Donde o Ribeiro telles que vinha da AD, ser deputado independente do PS, como o Sousa Tavares e o Ferreira Amaral, enfim os que representavam a oposição monárquica ao Estado Novo.
2 - Eu concordo consigo,para desespero dos meus amigos liberais, que o modelo deve ser a economia social de mercado,como na Alemanha da reconstrução e nos Escandinavos que v. cita. Depois é preciso tomar decisões concretas de equilíbrio entre medidas de produção e medidas de resistribuição.
3 - Sobre o dilema do regime houve um leitor do CM que escreveu "os portugueses são todos monárquicos; uns consciente, outros inconscientemente; os mais inconscientes de todos são mesmo republicanos" Tem muita piada, acho eu, e tem toda a razão!

Mentiroso said...

Há aqui um grande desperdício de tempo. Uma análise quase profunda sobre assuntos menos que secundários. Quase todos sabemos das lutas e dos problemas descritos, mas não têm qualquer interesse para a nação. É a roupa suja e as lutas intestinas dos partidários gananciosos. Por isso uma verdadeira perda de tempo.

A corrupção, a ganância, a bandalheira, a arrogância, o marketing político estilo Pingo Doce que baixa os preços em artigos de menos de 1 euro e sobe nos restantes e em todos aqueles que não anuncia, a pura canalhice, o declarado sentimento anti-democrático e paralelo comportamento, a malvadez e a traição, isso sim, são assuntos que interessam a todos. Deixemos os mexericos para a escumalha ranhosa dos políticos corruptos que nos impingem ideias a que têm o descaramento de chamar de democráticas a um povo ignorante, em que até aqueles que parecem mais cultos estão tão atrás da média do operário dos países democráticos europeus. Pudera, não admira com a desinformação de jornaleiros em conluio com os bastardos ninguém sabe nada neste país e todos os que pensam saber só sabem o que se lhes doutrina. Presas fáceis de políticos corruptos e traidores cuja única coisa que conhecem em profundidade é o marketing selvagem.

Ir assim atrás dos mexericos é fazer-lhes a vontade. É cairmos no logro de nos distraírem enquanto deixamos os parasitas continuar a viver à nossa custa. Em Portugal, todos os partidos são o mesmo lixo. Ou nenhum vale nada. Ou melhor, o mal não está nos partidos, está nos canalhas que os compões e num povo de carneiros consentidores que votam nos seus algozes.

mch said...

Caro Alexandre, e também pode ser camarada ( já agora da UCP, Alexandre…!He he..) (camarada já foi tudo desde nome de jornal de banda desenhada da Mocidade Portuguesa, até nome de guerra para soldados alemães Ich hatte ein Kamerade, até aos ditos do PC de todo o mundo)
Pois claro que o post revela firmeza. Ainda assim é um erro tentar obter maiorias sociológicas – eventualmente votantes - antes de obter maiorias culturais – preferencialmente opinantes. Havia uma piada sobre ao marxistas e sociais democratas antes da primeira guerra que se preocupavam muito com tácticas . Falava-se do tiktak da taktik ( sempre que como o chocolate tiktak lembro.me disto). Em todo o caso no blog das causas http://blog-de-causas.blogspot.com/ nós juntámos isso mesmo. Quem se preocupa em fazer avançar uma causa.

alexandre simas dias said...

Caro Professor

"Camaradas", confesso que foi apenas uma provocação de boa disposição, nada mais. De facto, fiquei muito surpreendido quando em miúdo li a oeste nada de novo e descobri que usavem esse tratamento. Enfim, um pormenor...

"Ainda assim é um erro tentar obter maiorias sociológicas – eventualmente votantes - antes de obter maiorias culturais – preferencialmente opinantes."
Tenho de concordar. É à opinião esclarecida que devemos aderir.
Vou acompanhar o blog das causas.

Votos de um 2007 mais justo.