26.2.07

Benito, ( meditação sobre o óscar de Scorcese) por Pedro Cem

De Mussolini sabemos que tinha uma Agenda obscura. Não era nenhum membro de sociedades secretas, se bem que as ouvisse. Quando estava ferido na cama do hospital militar, ouviu um amigo dessas sociedades e seguiu-o. Talvez por oportunismo. Talvez por convicção. Depois de ir como voluntário, soldado raso, lutar numa guerra a que se opusera, ao ponto de ser espancado e preso, Mussolini levou com uma granada em cima e, ferido, deixou o socialismo. Passou-se ao seuPovo.Mas escondeu sempre a sua ferida de guerra que os comunistas se divertiram a difamar depois da Libertação, quando moblizaram todas as forças para fazer dele um covarde. Mussolini não era covarde. Morreu esbracejando contra os guerrilheiros que lhe ceifaram a amante, Claretta Petacci, a qual se agarrou a uma das metralhadoras para não o limparem. Tiveram de lhe disparar à garganta para o calar. Acolhera os salvadores do SS Skorzeny com indiferença. Preferia morrer mas queria tudo menos ser julgado pelos Aliados. Chegou a negociar entregar-se aos guerrilheiros socialistas italianos, para que o Norte não caísse destruído. É certo que não interveio pelos mártires das fossas ardeatinas, limitando-se a dizer a um telefone vigiado, que o Direito de Guerra permite as represálias. Aceitou o ataque à Etiópia perpretado pelo trapaceiro Ciano porque todas as Democracias eram Potências coloniais e a Itália não, apesar de ter italianos por todo o lado do Mundo. No início, os mafiosos de Chicago admiravam-no, vestiam camisa negra. Depois, mudaram de campo, não sem antes assassinarem o corajoso trotskysta Tresca, que Mussolini deixar partir para o exílio. Mussolini não era um covarde. Amava a sua família, amava acima de tudo a sua pobre mãe e o seu pobre pai, revolucionário sincero e destemido que nunca teve sorte na vida. Respeitava o Papa e, apesar de tudo, obedecia ao Rei. Mas se havia alguém que admirava e, quando era uma star dos jornais de
todo o Mundo, guardava um silêncio de respeito e admiração, era Ghandi. Sim, o chefe de pancadarias Mussolini, admirava o teimoso pacifista Ghandi acima de todos.
Estava na Política para combater, como um homem dos operários e dos camponeses donde saíra. Mas não gostava de esmagar, quando vencia. A maior parte dos oposicionistas políticos que não atentaram pessoalmente contra ele, a família ou alguns dos amigos mais chegados, da trincheira social e da trincheira da guerra, deixou-os sair do país sem lhes tocar num cabelo. Ajudou alguns, discretamente, quando estavam no exílio. Um deles, dirigente comunista histórico, decidiu morrer com ele, em Saló. Niccoló Bombacci morreu em frente ao Lago de Como como os outros fascistas. Enquanto uns se lvantavam do chão ainda de braço estendido, Bombacci morreu de punho erguido gritando "Viva Mussolini, Viva o Socialismo!", depois de pedir ao jovem da sua terra que tinha alinhado à sua frente, para lhe disparar ao coração. Durante muito tempo, os comunistas espalharam que Bombacci, que fugira de Moscovo para morrer com Mussolini e que foi depois pendurado de cabeça para baixo na famosa estação de gasolina da Praça Loretto, em Milão, era o General De Bono, que se entregara aos ingleses. Ambos tinham uma longa barba branca. Mas não era. Os comunistas não podiam engolir algo que era como se Malenkhov, ou Molotov se tivessem juntado aos russos brancos.
Mussolini disse um dia, de uma varanda, que se o seu Fascismo não triunfasse na rua, só restava aos italianos a Anarquia. É preciso ver que este termo não era o que podia ser entendido hoje. Era muito respeitado, representava as centenas de Ateneus libertários em
Itália onde os operários prestavam ajuda uns aos outros e se tentavam cultivar, de modo a ficarem pessoas melhores, a salvarem-se da brutalidade a que a Democracia liberal e o Capitalismo os condenara. Alguns dos que lutaram até ao fim por Mussolini vinham daí.
Mas Mussolini tinha uma agenda obscura. Ele sabia que na noite negra em que íamos entrar, todos nós, não havia lugar para o coração. Tentou couraçá-lo primeiro com coragem, atrevimento, sonho, fidelidade e bater-se contra os duas pinças da Civilização do Absurdo. Por fim errou e escolheu o lado que perdeu. Curiosamente, continua vivo no coração de milhões de pessoas. Só houve uma vez na História que a Máfia teve medo de alguém. Foi com Benito.
Na sua última carta à filha que mais o amava disse.:tudo o resto é silêncio.
E é nesse silêncio que vivemos hoje em dia.

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