17.11.09

XLIII - Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda, por André Bandeira

Este livro, tem edições subtis. Pego na de 1946. Mas o livro foi escrito, em 1936, um ano antes do golpe facistóide de Getúlio Vargas e dois, depois da insurreição comunistóide de Luís Carlos Prestes, o «Cavaleiro de Esperança». O texto é uma boa peça de investigação para a identidade portuguesa, no Séc.XXI. Para um país, como o Brasil, que será uma potência mundial dentro de alguns anos, e cujos intelectuais, depois de se sentarem à mesa dos maiores Pensadores do seu Tempo, insistem na identidade portuguesa das suas raízes, Portugal ainda é importante. Mas Sérgio Buarque de Holanda não se ensina nas escolas portuguesas, talvez porque há gente em Portugal que quer dissolver a identidade nacional, há muito tempo e a luta é amarga, há muito tempo também. Holanda terminou aqui a sua sociologia do Brasil e passou a Historiador. Dizem que foi Historiador das mentalidades.Porque,com tanta traição e tanto Miguel de Vasconcelos, Holanda não podia ir fazer a História do Brasil, em Lisboa. Rir-se-iam dele, como «brazuca». Por isso, saíu da América Portuguesa para uma outra América, que também tocou Roma.Contudo, Holanda sofre dum amargor irreparável em relação ao Brasil. Não o troca por uma cátedra na Europa, torce-se em esgares duma Nação em trabalho de parto e, por isso, não lhe adiantaria pensar que está noutro lugar. Defende, a concluir, que há um «espírito» que comanda a História e que a forma de Estado que o contorna, fica sempre no contorno. O erro dos fascistas, nomeadamente os postiços «integralistas» brasileiros, foi não serem oposição nenhuma. E o erro dos comunistas brasileiros foi o de serem naturalmente «anarquistas». Holanda deve ser um hegeliano no Brasil espírita, o que torna a pergunta sobre quem é o seu «Espírito da História», uma chalaça. Holanda é conservador e autoritário, apesar de se julgar avançado. E é-o em nome do realismo, dum frio polar como o de Max Weber. É cómico ver um «frio polar» num intelectual brasileiro. Portanto, a identidade nacional de Portugal é também brasileira, já que este frio polar permanece na combustão tropical dos portugueses. O estudo minucioso que Holanda fez da monarquia brasileira, apesar da curta duração desta, é fundamental para Portugal, porque a mesma pode ter durado pouco mas envolveu milhões de almas. E Holanda fala sem problemas de «influência ibérica», para, a todo o momento estabelecer a diferença abismal entre Portugal e Espanha. Pois...é que o Brasil não precisa nem de ódios, nem de guerras, nem de traições, para perceber a sua especificidade lusitana. O Brasil não é um imenso Portugal mas Portugal é um pedaço do Brasil.

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