20.11.09

XLV - (Re)Leituras:The Geopolitics of Emotions, de Dominique Moïsi

Este livro foi publicado depois da eleição de Obama e antes da aprovação final do Tratado de Lisboa. Dominique Moïsi, do IFRI francês, é, talvez, o especialista de Relações Internacionais, francês, que melhor fala inglês. Filho dum sobrevivente de Auschwitz, parece-me o exemplo consumado da profunda estupidez do anti-semitismo. Não concordo com ele, já o presenciei em algumas atitudes um pouco arrogantes ou snobs, se não mesmo afectadas, mas tudo o que escreve é razoável, civilizado, até um pouco ingénuo, e sem ponta de perfídia. Neste livro, ele explica que as determinantes do Mundo moderno são a cultura da humilhação, à qual ele associa o mundo islâmico, e a cultura do medo, à qual ele associa o mundo israelita, mas também certa Europa e certa América. Termina com um capítulo de futurologia, com um cenário mau e outro bom, sobre o Mundo em 2025. Tem umas ideias interessantes como as de que os EUA se tornarão os missionários da ecologia, assinando um Acordo de Tóquio modificado e que tal os fará reentrar na Comunidade internacional, depois de passar um herdeiro de Obama, que será de extrema-direita mas isolacionista. Penso que exagera. Prevê, apesar de tudo, uma União Europeia, alinhando como Bloco económico e militar ao lado dos EUA, da Rússia, da China e da Índia mas, depois de um cenário, também possível, em que a Europa se reduzirá a menos do que o Reino Unido inicialmente queria dela. Prevê a independência da Catalunha, da Escócia e do País de Gales. Deixa o Brasil para depois. Prevê, apesar de tudo, um declínio da Europa, com expulsões em massa de emigrantes, prevê conflitos graves na Ásia, com a inevitabilidade de um regime fundamentalista no Paquistão, ou uma guerra local em Taiwan, e um exaurir do desenvolvimento da China. Prevê um clube muito maior de países nuclearizados, a começar pelo Japão mas também com a Turquia, a Arábia Saudita e o Egipto. Fala no bombardeamento conjunto das instalações nucleares iranianas, pelos EUA e Israel,derrubando Ahmanidejad, mas gerando um ódio generalizado aos EUA. No cenário bom, enquanto Israel e Palestina assinam finalmente o Tratado de Paz do conflito central da Modernidade, para Israel não acabar e a Palestina poder existir, abrindo Tel-Aviv mão de parte de Jesrusalém bem como dos territórios ocupados, e renunciando a Palestina ao direito de retorno dos seus exilados, o resto do Mundo debate-se com conflitos regionais. O Conselho de Segurança será alargado e contará com um Secretário-Geral carismático. Os «Grandes« contarão com a China, a Índia e o Brasil. Enfim, como ele diz, numa técnica de argumentação em que diz algumas coisas agradáveis, e deixa o paradoxo inquietante para o fim da frase, afinal Huntington tinha razão, porque conseguiu, em 1993, espalhar o perigo islâmico, o qual se materializou. Citando Hegel, os Homens fazem a História sem saberem qual. Acho que ele,o autor deste livro, realmente, não sabe.

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