A resposta ao post anterior mostra alguma incompreensão do que é luta. Remeto para duas fontes obrigatórias: Fernando pessoa e o seu peoma guerreiro -monge e a peça de igula título que sairá no nosso vol vol 03. cap. 4. c. de Voegelin que começa a entrar no prelo
vol 03. cap. 4. c. O Monge-Guerreiro de Kamakura
As ordens militares na sociedade ocidental tiveram de ceder o lugar à cidade e ao estado nacional. Contudo, o desaparecimento precoce não deve obscurecer a importância intrínseca do fenómeno. Em circunstâncias mais favoráveis, como por exemplo no Japão, na mistura do monge e dos ideais do guerreiro determinou durante séculos o carácter político da civilização. Por coincidência histórica, a introdução do budismo Zen no Japão, patrocinado pelo shogunato de Kamakura está em paralelo com a ascensão das ordens militares no Ocidente.
A fusão peculiar do misticismo e do esteticismo Zen com as virtudes guerreiras de lealdade, resistência e obediência deram forma à vida da classe governante guerreira de Kamakura porque a dinâmica da política japonesa naquele tempo seguiu um percurso oposto à do Ocidente cristão.[1] As ordens ocidentais sucumbiram porque as novas e fortes unidades políticas, emergiram a partir do campo feudal do poder. O ideal japonês do Monge-guerreiro venceu porque a vitória do clã de Minamoto e o estabelecimento do governo militar em Kamakura encerrou o período do governo imperial central moribundo, copiado das instituições chinesas, e iniciou a idade feudal japonesa (1192). As ordens militares do Ocidente, além disso, não podiam evoluir para uma elite governante porque o celibato monástico cortava a base vital que é a exigência inevitável para a continuação de um grupo secular governante; a atitude espiritual militar japonesa poderia crescer como uma força política estável porque a base vital era uma sociedade vitoriosa de um clã guerreiro.
[1] Sobre Zen veja Daisetz Teitaro Suzuki, Essays in Zen Buddhism, 1ª série (Londres: Luzac, 1927); 2ª série (Londres: Luzac, 1933); 3ª série (Londres: Luzac, 1934). Reimpressão: Londres: Rider, 1970; e Teipei: Ch'eng Wen, 1971.