13.8.05

Wolfowitz, o mau aluno de Leo Strauss


Continuo a pôr em dia coisas atrasadas. Agora que tenho uma tese sobre Leo Strauss para observar, vou aos apontamentos de há um ano.
Foi um jornalista do New York Times - James Atlas – que num artigo de 2003 -lançou uma genealogia intelectual que entrou na moda: as conexões entre Leo Strauss e um numeroso grupo de neo-conservadores - governantes, jornalistas, e intelectuais - considerados Straussianos. É uma mistificação que assenta numa daquelas falácias do jornalismo: pars pro toto. Alguns dos conservadores foram alunos de Leo Strauss, mas na realidade foram maus alunos. O mestre deve “chumbá-los” além túmulo. Mas isso não é consolação para os mortos provocados por neoconservadores.
O centro da doutrina de Leo Strauss é a defesa da lei (ou direito) natural como regra universal dos comportamentos humanos. A lei natural não cai do céu – por isso é lei – nem é inventada em absoluto pelas mentes humanas – por isso é natural. Os clássicos como Platão e Aristóteles demonstraram isto em Atenas. No séc. XX, defender o direito natural significa demonstrar que, sendo as ciências sociais axiologicamente neutras, não indicam políticas públicas; se predominar o neo-positivismo ( ou o tecnocrata) e só se aceitarem verdades científicas( dos economistas, dos engenheiros, dos químicos), corre-se o risco de entregar a vida política à ética subjectiva ou à falta de ética, se não houver ética da responsabilidade ( Max Weber). O inimigo absoluto do direito natural na modernidade, segundo Strauss chama-se “historicismo”. Os seus três máximos representantes são Maquiavel ( e o maquiavelismo) Hegel ( e o estatismo) e Nietzsche ( e os “tribalismos”). Hitler é um exemplo de como se juntam três coisas más numa só, a “trindade invertida”. No essencial, Strauss considerou que a filosofia política tem um ensinamento permanente (chamava-lhe esotérico) que tem de ser defendido contra os governantes de momento. Por isso é essencial o trabalho de interpretação. Dar opiniões é como respirar. Fornecer argumentos, custa. É essa a diferença entre os maus e os bons alunos e os seus professores.
Ao contrário da direita europeia, a direita americana até aos anos 60 não tinha lugar para intelectuais. O partido republicano era o partido do negócio, anti-intelectual e xenófobo. Filósofo político neo-clássico e pensador original que ensinou na Universidade de Chicago desde 1949 até 1967, Leo Strauss viu passarem por lá muitas figuras dos actuais neo-conservadores, alguns os quais transitaram da "esquerda" americana, liberal, ou do trotskismo opara a actual direita.
Só um exemplo. Paul D. Wolfowitz, doutorado em 72, em ciência política, estudou em Chicago e tem tese sobre "A proliferação nuclear no Medio Oriente". Serviu depois em vários postos no Estado, nomeadamente embaixador dos EUA na Indonésia nos anos 80. Muito mais marcante para ele foi o matemático e estratega Albert Wohlstetter, teórico da “guerra nuclear gradual” uma espécie de Dr. Strangelove. Mais fica para depois.