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Parece-me que o livro, vindo dum antigo anti-franquista, arqui-radical, a quem irritam sumamente as divisões da Espanha, venham elas da Direita regional ou da ultra-esquerda regionalizada, cai nos mesmos pecados da democracia radical, apesar de todas as suas profissões de fé anti-comunista. Para mais, diz que os actuais anti-franquistas, ou fizeram a carreira graças a Franco, ou contestaram-no de boquilha, nos cafés. Ele, Moa, é que sabe, que foi GRAPO.
Numa altura em que querem retirar as estátuas e as lápides de Franco, além de outras medidas legislativas que geraram enorme celeuma entre a Sensatez, os argumentos de Moa, que já têm um ano nas bancas, andam à volta do seguinte ponto: se fossem os oposicionistas a fazerem a transição para a Democracia, e não Franco, tinha acabado tudo noutro banho de sangue.
E Moa tem razão. Porque os oposicionistas eram pouco credíveis e os exilados tinham sido tão maus que até tinham vergonha de aparecerem à luz do dia. Parece que sim, que, em 1946, quando os maquis espanhóis, que eram parte substancial da Resistência francesa, se infiltraram em Espanha, a População os rechaçou e até denunciou.
Mas não pelo que Moa pensa. Um portuga sabe bem o que sopra de Espanha, em certas alturas, seja vermelho ou azul o pó que levanta. Por isso, o portuga não quer ser espanhol.
É que Franco foi bem mais sensato que outros ditadores do mesmo estilo, na época. Mas foi bem sanguinário também,como o não foram, nem Mussolini, à sua esquerda, nem Salazar, á sua direita. Ou foi-o suficientemente para dizermos que, se no testamento Franco se reclama verazmente católico, há sérias dúvidas sobre a sua Cristandade.
A razão porque a transição correu bem foi porque os espanhóis sabem bem o Monstro que é uma Guerra sobretudo civil. E Franco limitou-se a prolongar a sua ditadura militar indefinidamente, dando lugar a uma Monarquia que retomou a sequência da história espanhola, depois de uma República miserável.
Mas isso não significa que se legitime um Ditador que excedeu largamente -- apesar da sua prudência e inteligência superiores -- o seu mandato de militar em estado de excepção. A legitimidade de um ditador é, na origem, ilegítima e só se legitima com o tempo mas aí não sabemos como teriam corrido as coisas porque ele não deixou que elas acontecessem. E este Moa mete-me pena com o seu desencantamento. O mal dos radicais é que começam no Poder e acabam no Poder. Por isso, o Poder lhes parece sempre legítimo.
Por fim, fica-me uma grande interrogação sobre quem era Franco. Sobre a sua prudência e sobre a sua incapacidade de se legitimar. Que aprendeu ele com a gente do deserto? Pergunta bem actual, nesta guerra absurda dos cem anos em que nos querem meter: que foi que o fez calar, para sempre, o mesmo que fez os templários mudarem de religião? Não, não foi o saber secreto gnóstico que sobreviveu no Islão. Foi simplesmente o simples facto de que não se viaja impunemente. E isso não é mérito de um homem. É mérito da Humanidade.
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