24.9.06

Coisas bonitas dum Domingo, por André Bandeira


Shalom, ao meu amigo Waldemar, porque é ano novo. Celebramos daqui, o Roshe Shana, até ao Yom Kippur, o dia do perdão universal. E à minha amiga Latiffa porque se iniciou o Ramadão. Como João Paulo II tinha pedido, em 2001, fiz um dia de jejum em homenagem aos meus irmãos muçulmanos. É o tempo da Grande Jihad, a da luta contra nós proprios. Fazer jejum, até de fumar, de ver imagens excitantes ou estimulantes na Televisão. O Concílio do Vaticano II, citando um texto de Gregório XVI ( séc. VII D. C. ) diz que nós, cristãos, estimamos os nossos irmãos muçulmanos, adoradores do Deus único, o Deus misericordioso e omnipotente, pela oração, pela esmola e pelo jejum e que eles procuram de um ponto de vista moral submeter-se inteiramente aos decretos de Deus, mesmo aqueles insondáveis, como quando Abraão partiu, com a morte na alma, para a montanha, com seu filho Isaac, seu único filho, disposto a sacrificá-lo. Os nossos irmãos muçulmanos que não aceitam Jesus como Messias, mas que acreditam que nasceu da Virgem Maria e que desapareceu no céu transformado em luz. E mesmo que o Valdemar não acredite em nada disto, poderemos admirar todo o saber de Amor, na tradição do Rabi Hillel, que Jesus ensinou e também a sua justa rispidez, como o Rabi Schammai ensinava.Tudo isto numa história que não tem fim. Vi que em Espanha há uma menina de 7 anos que ensina a sua velha vizinha, D. Pepa, a ler. E que há uma organização nos EUA, chamada Project Innocence que está já a tratar de 8000 casos de tipos no corredor da Morte a quem nunca fizeram as provas de DNA mas que se crê estarem inocentes. E sei que, neste momento, um médico exausto se bate pela vida de um seu paciente, num lado qualquer. Vi algo sobre os orfanatos na Roménia, onde havia cerca de 700.000 mil crianças tão abandonadas que algumas até se tinham cegado a si próprias para chamarem a atenção de um afecto que nunca tinham sentido. Sei que os estão a reduzir, a colocar em famílias de acolhimento, romenas, mas também a reduzir as Instituições onde algumas trabalhadoras têm mais tempo para eles e numa delas vi até um menino que tinha uma cara tão feliz só por ver a Instrutora a cantar-lhe e a dar-lhes um copito de sumo, todos alinhados em torno da mesa como um Jesus e os Apóstolos em miniatura. Mas também ouvi uma miúda da rua, que se veste de rapaz para não ser abusada, a chorar em frente à Câmara como se ainda reivindicasse o direito a um afecto que nunca conheceu. Dizem os especialistas que a entrada da Roménia na União Europeia vai ajudar os jovens pais a serem mais assertivos e a não deixarem os filhos ao Estado, à primeira dificuldade ( que às vezes é bem grande). Vi que os bébés abandonados têm algo de adulto nas suas caritas, não porque tenham sofrido como adultos ( são demasiado pequenos para adoptarem expressões correspondentes) mas porque ficam nos lábios e nos olhos com o torpor ou o espanto de adultos que não conseguem vencer os obstáculos. E depois, balançam continuamente, quando a solidão se tornou absoluta...balançam como um devoto hebreu ou muçulmano recitando versos dos seus textos sagrados.
E vi outras coisas muito bonitas, e muita gente boa e honrada. E ouvi até a história dum rapaz adoptado, do Mali, que quando chegou a adolescente, encorajado pelos colegas, quis ser muçulmano como fora ainda até aos oitos anos, antes de ser adoptado. Foi ter com o Iman, da sua mesquita em Paris e este disse-lhe: " O Corão manda que respeites os teus pais. Os teus pais são quem te adoptou, eles são cristãos, não podes reconverter-te se os ferires. Por isso, não voltes cá".

1 comment:

Ida said...

Sem palavras! mas tinha que deixar um sinal de que isso q escreveu aqui deveria ser lido por uma parte da humanidade, pois (infelizmente) a outra parte nao sabe ler, mas saberia perfeitamente entender o tudo que está por trás, e embaixo, e abaixo, e ao lado de tudo q está escrito (como num palimpsesto, quando não havia papel, nem internet, nem imprensa, mas as mesmas dores e incoerências). É chocante e reluzente e a não esquecer.

Se pelo menos alguem chamado Ratzinger ou Bush ou Sharon ou ou ou... lesse o que escreve aqui...