15.2.06

Direitos e Bro(n)cas, Por andré bandeira


Depois de vários dias com brocas a trabalhar no andar de cima, quase vomitando pelo barulho e tendo de comprar uns auscultadores de broca para a minha família, o tecto começou a cair, como sucede nestes casos. Já o Direito Romano arbitrava estas coisas. Peguei, fui lá acima, libertei-me do mau pensamento que ‘esta gente só melhora os apartamentos para os vender aos estrangeiros”sem cuidar dos outros, da padeirice que também fui em tempos operário de construção civil e se eles tinham o trabalho deles, eu tinha o meu, bati à porta e disse ‘Bom dia. Sou o vizinho de baixo.Ou páram já ou chamo a polícia”. Lembrei-me então de que era bom ter uma polícia que não tem que lutar pela pele para entrar em bairros selvagens, de uma polícia que não tem que fechar os olhos para meter um prato de sopa em casa, todos os dias e, mesmo assim, produz um Guarda Vítor que arrisca a vida, sem pensar em si ou um Guarda Brás Lima que morre tentando salvar a de outrem. Lembrei-me que “sublinhar os meus direitos” e ter coragem para dizer ‘Não”, são fórmulas cheias de orgulho. Lembrei-me que direitos desenhados como deveres ou gritos, são uma Revolução contínua onde se morre de insolação por não haver noite, ou de surdez por não haver silêncio. Lembrei-me de não ter medo de ser manso de coração, de dar a túnica a quem só pediu a capa, de dar a face pela terceira a vez a quem nos cuspiu. Porquê? Porque por cada grito que damos “chamem a polícia!”, mesmo que seja a Divina, fica um vazio em que nos quedamos como um pateta covarde, quando a polícia, arfando de labor, lá leva o criminoso nos braços. Sim, porque a verdadeira Coragem é a de vermos tudo, como se toda a nossa vida tivesse passado e se estendesse aos nossos pés pela encosta duma colina que subimos. Sentiríamos então, antes de olhar para o que fica além do topo, uma estranha tranquilidade e até gratidão por tudo o que nos foi permitido viver.

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