27.2.06

Graham Greene e o "Americano Tranquilo"


As ficções de Graham Greene servem como relatório do campo de batalha do coração humano, em cenários de um mundo cada vez mais globalizado e onde se chocam interesses “demasiado humanos”. É assim em "The Power and the Glory" (1940) que se desenrola na vasta desolação do deserto mexicano. "The End of the Affair" (1951) decorre sob o fogo e o pavor do blitz alemão. “The Quiet American” vive na incerteza e sordidez da guerra da Indochina. “The Heart of the Matter"” (1948) na Serra Leoa, poderia ser qualquer país da África subsahariana. “O nosso homem em Havana...” poderia viver em Lisboa ou Varsóvia. Graham Greene pondera os dilemas morais e doutrinais surgidos quando emerge um conflito entre dois absolutos - a lei divina e as exigências do coração, com o pano de fundo dos conflitos internacionais; como alguém disse, deixou de ser o homem do M.I.6's para se tornar “o espião de Deus”.
Sobre o papel futuro dos Estados Unidos, nada melhor que as suas palavras do padre Manuel Antunes sobre The Quiet American: “Sátira do homem americano, idealista, e ingénuo cheio de boas intenções crente nas grandes palavras abstractas e nas grandes teorias livrescas que age - ou crê agir - por desinteresse mas que ao mesmo tempo vai fazendo o seu negociozinho; que se apresenta como portador de uma larga bondade generosa mas cujas empresas por falta de fundo sentido humano, redundam em verdadeiros desastres.”[1][20] Escritas em 1967, estas palavras têm um sentido antecipador, à luz dos acontecimentos precipitados pelo 11 de Setembro de 2001. O “americano tranquilo”, e poderíamos dizer o “americano de exportação”, é o homem das ideologias vagas, dos slogans, das receitas gerais para males que são essencialmente particulares, da ausência do sentimento do trágico. Ter-se-á a América finalmente confrontado com a tragédia histórica no 11 de Setembro?



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