30.8.06

A Grande Mentira do Islamofascismo




A incompreensão do softpower que se apoderou dos neoconservadores de Washington leva-os a usar termos venenosos como Islamo-Fascistas para referir o Hizballah e o Hamas. O termo é um explosivo emocional, digno de Goebbles, e uma arma na guerra de informação contra essa outra ficção que é o “califado muçulmano”. Os termos são inventados para desumanizar ou demonizar os adversários e negar-lhes motivações políticas racionais. Assim, não é preciso ouvi-los nem falar com eles. Sem cair no paradoxo de Peter Ustinov que dizia que “o terrorismo é a guerra dos pobres, e a guerra é o terrorismo dos ricos.”, terrorismo e ‘fascista' são termos que perderam o significado original.

Uma boa definição de fascismo, como a de Robert Paxton, exige 4 ou 5 condições: 1. um sentido da crise fora das soluções tradicionais; 2. o sentimento de vítima, a justificar qualquer acção sem limites jurídicos ou morais; 3. a autoridade de um chefe acima da lei, que confia nos seus instintos; 4. o direito a dominar outros; 5. medo do contágio estrangeiro. O fascismo exige guerras de conquista, e ameaças para manter a nação em estado de ansiedade e hipertensão patriótica. Os que discordam são traidores. Os fascistas aliam-se sempre aos partidos conservadores tradicionais, e ao complexo militar-industrial.

Como escreveu Andrew Bosworth, o fundamentalismo islâmico “é um movimento transnacional oposto ao pseudo-nacionalismo necessário ao fascismo. No mundo muçulmano, nada há que se assemelhe aos estados fascistas ocidentais. A sociedade islâmica tradicional, com estruturas fragmentadas de poder, lealdades locais e tribais, e tomada de decisão por consenso, está muito longe do fascismo do estado industrial ocidental. O mundo muçulmano, além de algumas democracias razoáveis e funcionais, tem algumas ditaduras brutais, algumas monarquias semi-feudais, e alguns estados falhados e corruptos. Mas nenhuns destes regimes, se ajusta ao padrão do fascismo. Muitos regimes conservadores e militaristas não são fascistas. Que o diga Washinton ao falar com a Arábia saudita e os Principados do Golfo.

Os grupos militantes islâmicos (`terroristas' na terminologia ocidental) não entram nesta grelha delirante querem libertar territórios de ocupação estrangeira, derrubar regimes não-Islâmicos, quebrar a influência ocidental na região, e, nalguns casos, instaurar uma teocracia baseada na democracia islâmica. O “califado islâmico mundial” é uma fantasia digna de Bin Laden e dos lobbies frenéticos da direita de Washington. O único grupo fascista no Próximo Oriente era os Falangistas cristãos dos anos 30, no Líbano e aliados de Israel nos anos 80.

É grotesco que Bush e Blair mantenham a pretensão de travar uma nova guerra mundial. OS EUA travam uma guerra de terceiro mundo ou uma guerra de quarta geração (contra adversários não-estatais) dentro dos cânones do “ interesse nacional”. Mas a direita da América está a infectar a nação com as emoções políticas da Segunda Grande Guerra; no fundo projecta no exterior, os ódios racistas e religiosos que ainda tem pudor de usar no interior. Na Europa, o ódio anti-semita, a velha marca dos partidos de direita, passou do anti-judeu para o anti-muçulmano. Viu-se isso com a exploração dos cartoons da Dinamarca (que nem sequer eram grande coisa os publicados, não os efectivamente circulados no Médio Oriente).

Na América, ( e em alguns caniches europeus) não faltam tendências neo-fascistas em direitistas rambos. Advogam ataques preemptivos contra inimigos potenciais, captura dos recursos da outra nação, derrube de governos não cooperantes, domínio militar global, ódio aos Semitas (muçulmanos, para já, depois se verá), controlo policial intenso. Abusa-se do manto sagrado do patriotismo para promover o complexo militar-industrial. Incita-se à guerra nos órgãos do propaganda. E agora está na hora de chicotear a febre da guerra contra a Síria e o Irão como uma fuga para a frente, uma profecia auto-cumprida, após os desastres no Afeganistão, Iraque, Somália e Líbano.

3 comments:

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