1.2.11

LXIV- (Re)leituras -- Une Femme d'Égypte, de Jehane Sadate, por André Bandeira

Se bem que se trate de um livro da Guerra Fria, estas são as Memórias da viúva de Anwar El-Sadate, Presidente do Egipto que foi metralhado durante uma parada militar pelos jihadistas, estando ao lado Hosni Mubarak, general da aviação, e que levou apenas um tiro na mão. O livro conta toda a História do Egipto dos pós-guerra e como um resistente independentista egípcio, simpatizante dos Alemães, filho de gente muito pobre, chegou a Presidente do Egipto, fazendo então a Paz com Israel. Claro que foi condenado à morte pelos radicais islâmicos. Para gerir a sociedade egípcia, não restava outra coisa a Sadate que a libertar, mais ou menos, tendo muitas vezes, para sobreviver fisicamente, que reprimir os radicais cristãos e islâmicos. Na República egípcia, saída do condomínio turco-franco-britânico, o «raïs» nomeava um Vice-Presidente quando se sentia que não chegaria ao fim. O «bey» turco nomeava um familiar. Mas as grandes convulsões eram geralmente anunciadas pelo ataque a uma igreja copta, cristã, como se se tratasse de um sacrifício ritual.
Se bem que a anglo-egípcia Jehane Sadate tivesse sido uma erupção da modernidade no Egipto, a modernidade, nas suas diversas formas, como as «rede sociais» e o «Twitter» não são suficientes para fazer uma Revolução (tendo em conta que a Revolução soviética,depois de sair de cena,transformou o feudalismo em capitalismo primitivo). Assim como a modernidade no Egipto se limitou a justificar a consolidação das facções sociais dum país ponto de passagem entre a Eurásia e a África, a modernidade, no Egipto, espreme mas não desinflama. Quanto mais agitação houver -- entende-se deste livro -- mais o Egipto fica surdo por uma inquietação cultural fundamental e passa de mediterrânico, a país africano, desta feita sob um vento oriental, do Índico. Jehane quer dizer «luz» em persa e Sadate foi o único que valeu ao escorraçado Xá do Irão, quando este ia morrendo pelas capitais ex-aliadas, fugindo a atentados constantes. O Xá do Irão fora o único na região que tivera a visão de apoiar a paz de Sadate com Israel, não por imposição de Washington (a qual lhe prendera e expulsara o pai) mas pelo equilíbrio interno. Ora o Amor de um egípcio é realmente persa, sendo que o Irão não é um país de passagem. O Irão é um país de chegada.

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